Quando, há muitos
anos, assistia a disputas e confrontações violentas entre duas pessoas, sempre
procurei separá-las sem cuidar de saber quem tinha razão e, por isso, quando hoje
vejo as multidões de refugiados a abandonar a Ucrânia, a brutal destruição do
património e os mortos espalhados pelas cidades, só penso no cessar-fogo, na
arbitragem, nas negociações e, naturalmente, no fim de toda esta tragédia.
Há todas as
versões possíveis sobre as causas próximas ou remotas deste conflito que já se
transformou numa grande catástrofe mas, nesta fase, não interessará muito
discuti-las na praça pública pois tendem a ser distorcidas por razões emocionais.
Também não é suficiente dizer-se que a Rússia é o agressor e que a Ucrânia é o
agredido porque, pelo menos desde 2014, se sucediam intermináveis escaramuças
entre os dois países, ou seja, tudo isto já começou há vários anos. Esses são alguns dos assuntos para discutir à mesa das
negociações, mas primeiro há que concretizar o cessar-fogo.
Porém, tem havido
uma intensa campanha nos mass media
internacionais e, de forma muito especial nas televisões portuguesas, não para
procurar o cessar-fogo e a paz, mas sobretudo para acusar a Rússia e
incriminá-la por crimes guerra. Volodymyr Zelensky tornou-se a principal figura
desta guerra, pela sua coragem, persistência e capacidade de comunicação que
usa com mestria, mas ao mesmo tempo que pede armas, afirma-se pronto para
negociações. Porém, os seus aliados ocidentais gostam de o ouvir enquanto pede
armas que lhe são prometidas e que objectivamente prolongam a guerra, mas nunca
falam na necessidade de parar com a guerra.
A recente visita
de Ursula von der Leyen a Kiev teve uma marca de solidariedade e de apoio
humanitário que deve ser elogiada mas, pelo contrário, a visita de Boris
Johnson que o jornal The Sunday Telegraph hoje destaca, foi
um acto de propaganda pessoal e de instrumentalização da catástrofe ucraniana
do primeiro-ministro britânico que, perigosamente, tende a intensificar ou
mesmo a internacionalizar a guerra e nada contribui para a paz.