As coisas da
política têm estado muito insípidas, isto é, desprovidas de interesse, de
atractivos e de sabor, com os políticos confinados ou a fazer férias nas
praias, com o Governo empenhado na resposta a uma crise sanitária, económica e
social como nunca se vira em Portugal e com um Presidente que se assume todos
os dias como comentador de tudo o que sabe e do que não sabe, parecendo que por
vezes não percebe que a função presidencial exige distanciamento e que a ânsia
de popularidade nem tudo pode permitir. Neste quadro em que tudo parecia
indicar que Marcelo Rebelo de Sousa iria esmagar a concorrência na sua segunda
corrida para Belém, começam a aparecer anúncios de candidaturas de esquerda e
de direita que vão animar a corrida presidencial e vão fazer com que o actual
Presidente tenha que suar muito para assegurar a sua reeleição, sobretudo à
primeira volta. O modelo marcelista agradou muito aos portugueses, mas começa a
estar saturado e a aborrecer, com as
selfies, as férias demasiado publicitadas em Porto Santo, as interpelações
nas Feiras do Livro, os caricatos salvamentos na praia do Alvor, os comentários
sobre a Festa do Avante, a excessiva presença de microfones e de câmaras e,
ainda, as declarações feitas um pouco por todo o lado que, sendo combinadas com
os estagiários de jornalismo, até parece que são espontâneas. Marcelo Rebelo de
Sousa é cada vez mais um comentador e um candidato à reeleição para Presidente
da República.
Ontem surgiu a
declaração de candidatura da Embaixadora Ana Gomes e o Público dá-lhe hoje o devido destaque. Outras candidaturas se
anunciam. É bom para a Democracia. Muitos dos votos com que Marcelo contava
vão agora para a antiga embaixadora de Portugal em Jacarta, à qual muito deve a
independência de Timor.
A corrida para Belém
começou.