O Jornal de Letras, Artes e Ideias, ou
simplesmente Jornal de Letras ou,
ainda só JL, destaca na sua última
edição que em Macau… ainda se escreve em português. Trata-se de uma edição
especial dedicada à passagem do 20º aniversário da
transferência da soberania para a República Popular da China, na qual alguns
especialistas procuram responder à pergunta: o que ficou da cultura portuguesa?
Se
fizermos uma analogia com o que se passa em Goa, rapidamente somos levados a
pensar que, dentro de poucos anos, a cultura imaterial portuguesa terá
desaparecido e que a cultura material portuguesa, isto é, os edifícios
históricos e a arquitectura militar e religiosa, estarão “submersos” pelas
gigantescas torres que vão nascendo pelo território. A língua portuguesa nunca
foi a língua franca, nem em Goa nem em Macau, mas em tempos de globalização
esse cenário agrava-se e a língua portuguesa é, cada vez mais, uma língua sem
interesse prático, quase fossilizada e, sobretudo, uma língua que só alguns
velhos ainda falam. Os esforços que têm sido feitos por várias entidades, quer
em Goa quer em Macau, para manter viva a língua portuguesa não têm conseguido
travar a sua lenta agonia. Pode haver muitos alunos a frequentar as escolas de
português e até saber cantar A Portuguesa,
mas esses alunos pensam e falam em inglês, em mandarim ou numa qualquer outra
língua. Camões e Pessoa não lhes dizem nada.
É
verdade que, no caso de Macau há três jornais que usam o português – Tribuna de Macau, Hojemacau e Ponto final – mas essa realidade é demasiado
enganadora. Também é verdade que continua a haver alguns autores que, em Goa e
em Macau, escrevem em português os seus livros de memórias e as suas reflexões
sobre um outro tempo que viveram, mas esses autores são portugueses e esses casos são muito raros.
A
língua portuguesa ainda será a língua oficial de Macau por mais trinta anos,
mas nessa altura não portugalidade em Macau, nem haverá emprego para portugueses, nem a nova geração de
macaenses falará português. É doloroso que isto aconteça, mas é a lei da vida ou o fluir da História.