segunda-feira, 8 de julho de 2013

A economia do mar e a saída da crise



A Galiza é, simultaneamente, uma das 19 comunidades autónomas da Espanha, mas também a região espanhola que tem mais afinidades com Portugal, não só pela língua, mas também por muitas outras vertentes culturais. Até à Idade Média a língua falada em Portugal e na Galiza foi o galaico-português, mas actualmente o português e o galego são línguas distintas embora com muitas semelhanças, que fazem com que o português que viaje na Galiza ou o galego que visite Portugal não se sintam no estrangeiro.
A Galiza tem uma cultura e uma economia muito ligadas ao mar e, nos seus cerca de 1600 km de costa recortada por baías e orlada de pequenas ilhas, concentra-se a maior parte da sua população de um pouco menos de 3 milhões de habitantes. A maior parte da população galega vive do mar, directa ou indirectamente – pesca, aquacultura, indústria conserveira e de transformação do peixe, portos, construção e reparação naval – pelo que se diz que três em cada quatro galegos vivem do mar. O mar é a base da economia galega e sustenta a mais activa frota piscatória europeia, mas também é um atractivo turístico com inúmeras pequenas praias e uma apreciada gastronomia ligada ao mar, para além do porto de Vigo ser o maior de toda a Espanha.
A crise também chegou à Galiza e La Voz de Galicia destaca hoje que “os galegos voltam a olhar o mar como saída da crise”. Bom seria que, por cá e tal como acontece na Galiza, também se pensasse na economia do mar como estratégia de desenvolvimento e que lhe fosse dada elevada prioridade na estrutura económica portuguesa.




Uma indecorosa telenovela política

Desde que no dia 1 de Julho o ministro Gaspar se demitiu, com uma carta em que confessa não se encontrar em condições de assegurar a credibilidade e a confiança necessárias para enfrentar uma nova fase do ajustamento, que entramos numa verdadeira telenovela política com episódios multi-diários que quase parecem um daqueles “compactos” de telenovela, em que as televisões juntam diversos episódios para transmissão conjunta. No dia seguinte foi o ministro Portas, o tal que engolira muitos sapos e que se deixara humilhar como figura número três do governo, a renunciar irrevogavelmente ao governo. Uma hora depois, uma discípula do ministro Gaspar tomava o seu lugar, aparentemente sem o acordo do ministro Portas. O primeiro ministro Coelho mostrou-se admirado e parecia navegar ao sabor dos acontecimentos como sempre fizera, sem controlar a nau, nem o rumo, nem os tripulantes. Sem inspirar a necessária confiança ao povo.
A crise estava instalada, não só por causa das atitudes irresponsáveis desta gente, mas sobretudo pelos dois anos de maus resultados governamentais, visíveis no desemprego, na dívida, no défice e na recessão económica. Então, os agentes políticos começaram a tomar posições e desdobraram-se em declarações. Os comentadores não tinham mãos a medir. Em Bruxelas, em Berlim e em Belém havia inquietação, mas o acordo chegou rápido. Cada vez mais do mesmo. Coelho engoliu sapos e insiste na mesma receita que tem dois anos de resultados trágicos. Sem qualquer vergonha nem dignidade, Portas perdeu toda a credibilidade ao dar o dito por não dito. Gosta de ser ministro.
Eu já cá ando há muitos anos e já vi muita coisa, mas não imaginava ver isto. A política não pode ser isto. Estudei mais do que o Portas e muito mais que o Passos. Devo ter visto mais do que eles. Por isso tenho grandes dúvidas no que aí vem, mas vou esperar para ver. Bom seria que me enganasse.