A imprensa
brasileira deu ontem um grande destaque ao facto da pandemia de covid-19 já ter ter causado mais de
50.000 óbitos e do número de infectados já ter ultrapassado um milhão de
pessoas, o que faz do Brasil o país mais afectado do mundo, depois dos Estados
Unidos. A situação ainda não mostra tendências consolidadas de atenuação e, na
sua edição de ontem, o jornal Estado de S. Paulo presta homenagem
aos 50.058 mortos, “ao luto e dor de milhares de famílias” e diz que “o país
bate triste marca e tem escalada de casos”.
O primeiro caso
foi detectado no dia 26 de Fevereiro no estado de S. Paulo e, desde então, o país
já conheceu três ministros da Saúde (Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich e
Eduardo Pazuello), além de se ter confrontado com as famosas declarações de
Jair Bolsonaro que classificou a pandemia como uma gripezinha ou um
resfriadinho.
O Jair enganou-se e a pandemia é coisa séria. No entanto, se a preocupante
situação brasileira for analisada quanto ao número de infectados e ao número de
óbitos por milhão de habitantes, facilmente se conclui que muitos outros países
apresentam piores resultados que o Brasil. Entre os países em que esses
indicadores são piores do que no Brasil, estão os Estados Unidos e o Canadá,
mas também a generalidade dos países europeus.
Na actualidade,
as estatísticas são um importante instrumento de gestão, mas têm que ser usadas
com seriedade e não podem servir para a manipulação da verdade. No caso da
pandemia de covid-19, pela repercussão
que têm na economia e em especial na indústria do turismo, começam a surgir muitas
manipulações estatísticas, para além de haver diferentes níveis de realização
de testes, em que os factores económicos tendem a sobrepor-se aos factores
sanitários. Portanto, os brasileiros podem e devem estar preocupados com os
seus números, mas desconfiem dos números dos outros.