Nesta
época de fim do ano é habitual fazerem-se balanços sobre os acontecimentos mais
relevantes que ocorreram no ano que finda. Este ano assim acontece.
No seu
balanço do ano de 2016, o diário El Periódico que se publica em
Barcelona decidiu evocar a tragédia do Mediterrâneo, onde nos últimos doze meses
morreram mais de 5.000 pessoas que procuravam chegar à Europa para fugir da
guerra, ou da pobreza ou, simplesmente, procuravam uma vida melhor. O Mare Nostrum dos Romanos que foi um
símbolo de progresso civilizacional está transformado num Mare Mortum, como anuncia o título do jornal de Barcelona.
Esta
evocação é uma oportuna chamada de atenção para todo o mundo e para muitos dos alucinados
dirigentes que o governam e fecham os olhos a este tipo de tragédias humanitárias,
mas é sobretudo uma valente bofetada nos dirigentes europeus que têm fortes
responsabilidades na criação da dramática situação que tem acontecido no
Mediterrâneo e para a qual têm sido incapazes de encontrar soluções. E nem é
coisa que não tenha sido prevista por muita gente. Porém, o que tem acontecido
é uma crescente subordinação da política aos interesses económicos e
financeiros, numa relação em que os dirigentes são meros instrumentos dos
interesses dos “mercados”. O respeito pelos direitos humanos e a solidariedade
que devia ser praticada tornam-se secundárias. O ser humano é cada vez mais um
número. A arrogância europeia é cada vez mais gritante. A sobranceria com que
se olham os gregos ou os portugueses, não é muito diferente da indiferença com
que olham os líbios, os sírios e outros povos que fogem da guerra.