Um grupo de 70 personalidades, publicamente reconhecidas pela diversidade do seu
pensamento político e pela sua idoneidade cívica, subscreveu um manifesto em
que apela à reestruturação honrada e
responsável da dívida pública portuguesa, porque sem ela continuará a
imperar a política da austeridade, a ausência de um crescimento sustentado, o agravamento das desigualdades, a desagregação social e um
contínuo défice na criação de emprego. Esse grupo inclui vários políticos, alguns dos quais antigos ministros, mas também académicos,
constitucionalistas, empresários, patrões e sindicalistas, isto é, gente muito
qualificada e com assinaláveis serviços prestados ao país.
Segundo o manifesto, a
actual dívida pública directa atinge cerca de 129% do PIB e os respectivos
juros absorvem 4,5% do PIB, o que torna insustentável qualquer solução para
este magno problema sem um crescimento económico sustentado e robusto, forjado
num quadro de coesão social e de solidariedade nacional. Por isso, o
manifesto defende o abaixamento da taxa média de juro,
a extensão das maturidades da dívida para 40 ou
mais anos e a
reestruturação de, pelo menos, a dívida acima de 60% do PIB. Não é nada que
não tenha sido antes praticado. De resto, o
manifesto recorda o Acordo de Londres sobre a Dívida Externa Alemã, de 27 de
Fevereiro de 1953, que perdoou 46% da dívida externa alemã anterior à II Guerra
Mundial e 51,2% da dívida posterior à Guerra, sendo que 17% do remanescente ficaram a juro zero e 38% ficaram a juro de 2,5%. Naturalmente, o manifesto foi
assinado por 70 personalidades e, se eu fosse uma personalidade, obviamente que
lá estaria a minha assinatura, porque o manifesto abre uma janela de
oportunidade para discutir novos caminhos e mostra que há alternativas a esta
austeridade a “esta economia que mata”. Por issso, o meu obrigado aos 70! Para espanto de muita gente, o manifesto gerou um inesperado nervosismo nos obedientes governantes que temos, mas também naqueles que, aparentemente, defendem e querem "uma cultura política de compromisso". Em vez de mostrarem entusiasmo e gratidão por este contributo qualificado, os "orgulhosamente sós" que por aí andam perderam a cabeça e exibiram a sua face muito pouco democrática. Como diz o povo, dá Deus nozes a quem não tem dentes...