sexta-feira, 27 de agosto de 2021

A rentrée política e as eleições autárquicas

Na sua edição de hoje o jornal Público dedica o principal espaço da sua primeira página à chamada rentrée política, com a fotografia dos nove líderes dos partidos representados na Assembleia da República. Todos são figuras mediáticas e com percursos políticos apreciados pelos cidadãos que os escolheram e que foram sufragados pelos eleitores. Todos beneficiam da liberdade com que se vive no nosso país, podendo ter discursos e projectos muito distintos. Todos se julgam detentores da verdade, como se na política houvesse verdades absolutas. Todos afirmam a sua vontade de chegar ao poder para conduzir a governação e assegurar mais prosperidade e mais segurança aos portugueses.
Poderia pensar-se que, sendo assim, todos deveriam convergir no sentido do progresso e do bem-estar do povo português, com coerência discursiva e com práticas irrepreensíveis ou mesmo imaculadas, sem abdicar dos seus princípios ideológicos, mas sem egoismos e sem quaisquer cedências a interesses particulares ou de grupo.
Porém, não é isso que se passa porque, muitas vezes, parece que estamos em tempos de “vale tudo” com a luta política a ultrapassar a verdade e o bom senso, com todos ou quase todos a usar a promessa demagógica, a reivindicação irrealista, a manipulação mentirosa da obra feita, o discurso populista irresponsável e a caça ao voto, ignorando com frequência a inteligência e os verdadeiros interesses do povo português.
Estamos a menos de um mês das eleições autárquicas e já se prometem novos tempos, uma terra para todos, mais e melhor futuro ou está na hora da mudança, entre outros slogans propagandísticos. Poucos acreditam nesse tipo de discurso e, dessa forma, a abstenção vai acabar por ganhar. A abstenção ganhou as últimas eleições europeias (69%), as últimas presidenciais (51%) e as últimas legislativas (51%), bem como as autárquicas de 2017 (45%).
Será que os nove líderes partidários podem fazer alguma coisa para melhorar a cidadania, a prática democrática e a participação eleitoral dos cidadãos, em vez de insistirem no discurso demagógico em que todos acabam por cair?