Na sua edição de
hoje o jornal Público dedica o principal espaço da sua primeira página à
chamada rentrée política, com a
fotografia dos nove líderes dos partidos representados na Assembleia da
República. Todos são figuras mediáticas e com percursos políticos apreciados
pelos cidadãos que os escolheram e que foram sufragados pelos eleitores. Todos
beneficiam da liberdade com que se vive no nosso país, podendo ter discursos e
projectos muito distintos. Todos se julgam detentores da verdade, como se na
política houvesse verdades absolutas. Todos afirmam a sua vontade de chegar ao
poder para conduzir a governação e assegurar mais prosperidade e mais segurança
aos portugueses.
Poderia pensar-se
que, sendo assim, todos deveriam convergir no sentido do progresso e do
bem-estar do povo português, com coerência discursiva e com práticas irrepreensíveis
ou mesmo imaculadas, sem abdicar dos seus princípios ideológicos, mas sem egoismos
e sem quaisquer cedências a interesses particulares ou de grupo.
Porém, não é isso
que se passa porque, muitas vezes, parece que estamos em tempos de “vale tudo” com
a luta política a ultrapassar a verdade e o bom senso, com todos ou quase todos
a usar a promessa demagógica, a reivindicação irrealista, a manipulação mentirosa
da obra feita, o discurso populista irresponsável e a caça ao voto, ignorando
com frequência a inteligência e os verdadeiros interesses do povo português.
Estamos a menos
de um mês das eleições autárquicas e já se prometem novos tempos, uma terra para
todos, mais e melhor futuro ou está na hora da mudança, entre outros slogans
propagandísticos. Poucos acreditam nesse tipo de discurso e, dessa forma, a
abstenção vai acabar por ganhar. A abstenção ganhou as últimas eleições europeias
(69%), as últimas presidenciais (51%) e as últimas legislativas (51%), bem como
as autárquicas de 2017 (45%).
Será que os nove líderes
partidários podem fazer alguma coisa para melhorar a cidadania, a prática
democrática e a participação eleitoral dos cidadãos, em vez de insistirem no
discurso demagógico em que todos acabam por cair?