quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

MRS vai visitar o antigo Império do Meio

O jornal hojemacau informa que Marcelo Rebelo de Sousa, o Presidente da República Portuguesa, se vai deslocar à China e depois, ao território de Macau, isto é, à região da Ásia Oriental que, há muitos séculos, constituia o Império do Meio.
Se fosse necessário o meu apoio para esta visita presidencial, ele seria concedido de imediato, porque as viagens presidenciais servem para mostrar aos anfitriões que somos um país de gente bem disposta, moderno e progressivo, culturalmente muito rico e amante da paz, mas também que o supremo magistrado da nação é uma pessoa muito qualificada, inteligente, culta, solidária e cosmopolita.
Naturalmente que se espera que MRS acabe de vez com as grandes comitivas presidenciais que sempre foram pagas com os nossos impostos e que, além de terem uma marca terceiro-mundista, serviram muitas vezes para pagar pequenos favores aos amigos e para alimentar a promoção pessoal que era garantida pelas dezenas de jornalistas que, também pagos com os nossos impostos, integravam as comitivas. Em alguns dos destinos dessas viagens presidenciais ainda são recordadas as tristes figuras que alguns elementos dessas autênticas excursões turísticas muitas vezes fizeram e essas situações não podem repetir-se.
Significa que MRS deve estar atento e ser comedido, como parece ter sido até agora na dimensão das suas comitivas. Como bom católico, terá que resistir às tentações e, sobretudo, não integrar na sua comitiva a Cristina Ferreira, o Goucha, o João Miguel Tavares ou a Sandra Felgueiras. Nem o seu amigo Montenegro, nem o Marta Soares, nem os comentadores de futebol. Nem precisa de levar deputados, nem empresários, nem o representante dos motoristas de camiões. Sugiro que se faça acompanhar apenas pelo seu restrito núcleo de apoio pessoal e por um grupo de apoio diplomático do MNE, porque é tempo de acabar com o enorme dispêndio de dinheiro que ao longo dos anos têm custado ao erário público as multidões de borlistas que viajam com os nossos Presidentes da República. Quanto a jornalistas, aproveite os delegados residentes da Agência Lusa em Beijing e Macau. É quanto basta.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Brasão de Ceuta recorda sempre Portugal

A edição de hoje do jornal El Pueblo de Ceuta publica uma entrevista com Juan Jesús Vivas Lara, o actual presidente do governo e alcaide-presidente da Ciudad Autónoma de Ceuta, que tem 65 anos de idade, é economista formado na Universidade de Málaga, representa o Partido Popular e ocupa o seu cargo desde o dia 7 de Fevereiro de 2001.
O presidente-alcaide é escolhido pela Assembleia de Ceuta e confirmado pelo rei de Espanha, mas o facto de levar 18 anos de presidência por escolha democrática dos deputados ceitis é um facto a salientar.
Porém, não é a entrevista que nos desperta a atenção, mas o facto de Juan Vivas ter sido fotografado no seu gabinete em frente do brasão de armas da cidade de Ceuta, que é o escudo português que a cidade conserva desde que foi conquistada por D. João I em Agosto de 1415.
Em 1580, quando Filipe II de Espanha reivindicou os seus direitos ao trono de Portugal, enquanto neto de D. Manuel I e genro de D. João III, foi instituída a União Ibérica mas o governo da cidade de Ceuta continuou a ser da responsabilidade portuguesa. No entanto, quando em 1640 foi restaurada a independência portuguesa, a cidade de Ceuta decidiu não reconhecer D. João IV e permanecer sob o domínio espanhol, o que veio a ser oficializado através do Tratado de Lisboa assinado pelos dois países ibéricos em 1668.
A bandeira de Lisboa gironada com oito peças de negro e prata, assim como o brasão de armas de Portugal, nunca deixaram de ser os símbolos da cidade de Ceuta, que também foi o ponto de partida para a expansão marítima portuguesa.

As sucessivas derrotas de Theresa May

A votação ontem realizada no Parlamento britânico serviu apenas para definir que não haverá Brexit sem um acordo com a União Europeia e que é necessário renegociar alguns pontos desse acordo, sobretudo em relação à fronteira entre a Irlanda do Norte e a República da Irlanda.
Theresa May foi mandatada para voltar a Bruxelas, mas depois de ter defendido o acordo antes alcançado e ter visto a sua rejeição no Parlamento por uma diferença de 230 votos, não se vislumbra como poderá convencer a União Europeia a reabrir negociações, sobretudo depois das repetidas declarações dos seus líderes nacionais de que não era possível a retoma de negociações e que se tratava de um assunto encerrado.
Theresa May foi humilhada pelo seu Parlamento e agora terá de ir a Bruxelas para ser humilhada uma vez mais. É um invulgar caso de teimosia que já ninguém compreende. A história do Reino Unido e a sua primeira-ministra não podem dar ao mundo esta imagem de decadência. Winston Churchill e Margaret Thatcher devem estar muito incomodados.  
A menos de dois meses da anunciada saída da União Europeia, o problema está a complicar-se e hoje é evidente que nem os eleitores britânicos, nem os partidos políticos e os seus deputados, sabiam das consequências do que ia acontecer depois do referendo do dia 23 de Junho de 2016. A discussão que se arrasta há muitos meses entre uma corrente que conserva o orgulho vitoriano e uma outra corrente moderna e europeísta, já abalou o prestígio do Reino Unido, que está mesmo à beira de um precipício. A partir de agora ninguém poderá fazer previsões porque, tanto o melhor como o pior, podem acontecer.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

A tragédia da barragem do Brumadinho

A notícia da ruptura da barragem do Brumadinho, situada a cerca de 50 quilómetros da cidade de Belo Horizonte, que aconteceu na manhã do dia 25 de Janeiro, não causou inicialmente grande impacto no exterior, até porque essas coisas acontecem de vez em quando, inclusive no Brasil onde há três anos ocorreu um caso semelhante em Mariana, também no Estado de Minas Gerais.
Porém, quando as imagens e os números de mortos e desaparecidos em consequência daquele desastre começaram a ser divulgados, todos ficamos elucidados quanto à enorme dimensão da tragédia.
barragem Mina do Feijão, em Brumadinho, na região metropolitana de Belo Horizonte, acumulava as lamas tóxicas resultantes da limpeza do minério de ferro e a sua ruptura não só provocou mais um desastre ambiental como, sobretudo, originou uma catástrofe humana que ainda não foi possível quantificar. Estão já confirmados 65 mortos, mas há ainda 279 pessoas desaparecidas, provavelmente soterrados afundados pelas lamas, por onde os bombeiros e os voluntários procuram agora encontrar os desaparecidos. A imprensa brasileira tem dado grande destaque a esta tragédia e o jornal Estado de Minas, que se publica em Belo Horizonte, elogia o trabalho dos bombeiros e dos voluntários, a quem classifica de heróis.
Entretanto, cinco pessoas foram detidas por suspeitas de responsabilidade pelo que aconteceu, incluindo três engenheiros da empresa responsável pela construção e segurança da barragem que é a Vale, S.A., uma multinacional brasileira que é uma das maiores empresas mineiras do mundo e que é a maior produtora mundial de minério de ferro. A lógica da maximização do lucro e a negligência das autoridades é que dão origem a estas catástrofes em Mariana, em Brumadinho ou em Borba.

A crise do Brexit e a palavra da Rainha

Se tudo correr como está previsto, o Reino Unido deixará a União Europeia no próximo dia 29 de Março, isto é, daqui a 60 dias. Porém, a confusão é total, ninguém se entende e já está consolidada a ideia que haverá um adiamento da saída. O plano de Theresa May para o Brexit foi derrotado pelo Parlamento no passado dia 15 de Janeiro, pelo que hoje será apresentado uma espécie de plano B em que já ninguém acredita, a não ser a própria Theresa May.
Nestas circunstâncias, os britânicos voltam a estar confrontados com a discussão em torno do leave ou do remain, havendo ainda os que defendem o soft Brexit e os que temem o hard Brexit. Depois há os inúmeros problemas regionais e sectoriais que estão por resolver, com destaque para a fronteira da Irlanda em que os unionistas e os republicanos da Irlanda do Norte ainda não se entenderam, mas também há a ameaça da Escócia de se divorciar do Reino Unido depois de 300 anos de casamento.
Nesta enorme confusão, a Rainha Isabel II tem mantido a sua tradicional postura de neutralidade em relação aos temas políticos, mas recentemente veio a público apelar discretamente para que os políticos britânicos se entendam e, sem mencionar o Brexit, a disse aos políticos para encontrarem “um caminho comum” e para que fossem respeitados os pontos de vista diferentes. Os analistas de imediato associaram as palavras da Rainha à crise do Brexit e à discussão que vai decorrer em torno do plano B.
O Daily Express foi um dos jornais que destacou as palavras da Rainha indirectamente dirigidas à classe política e que foram um contributo para a cura de uma Grã-Bretanha tão dividida.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

A cidade de Lisboa receberá as JMJ 2022

Na passada semana decorreram na cidade do Panamá as Jornadas Mundiais da Juventude, por vezes referidas através da sigla JMJ, que constituem um dos mais importantes acontecimentos religiosos no mundo.
A imprensa deu-lhe a devida relevância, nomeadamente o jornal La Estrella de Panamá, até porque o Papa esteve presente.
As Jornadas Mundiais da Juventude ou JMJ, foram instituídas em 1985 pelo Papa João Paulo II e reúne milhares de jovens de todo o mundo católico, embora também seja aberta a jovens de outras religiões.
Inicialmente, as JMJ foram estabelecidas como um acontecimento anual, mas depois passaram a ser realizadas com intervalos de dois ou de três anos. Os locais são escolhidos pelo Papa e, desde que foram criadas, as JMJ já foram realizadas em Roma, Buenos Aires, Santiago de Compostela, Czestochowa, Denver, Manila, Paris, Roma, Toronto (pontificado de João Paulo II), Colónia, Sydney e Madrid (pontificado de Bento XVI) e Rio de Janeiro, Cracóvia e Panamá (pontificado do Papa Francisco). Segundo consta dos registos, as mais concorridas edições das JMJ aconteceram em Manila em 1995, em que estiveram reunidas 4 milhões de pessoas, e em 2013 no Rio de Janeiro, que recebeu 3,7 milhões de pessoas. Estes números mostram que, para além do seu carácter religioso, as JMJ são também um encontro universal de jovens que procuram a paz e a concórdia ou, como dizem os católicos, um mundo melhor.
No Panamá o Papa Francisco anunciou que Lisboa será a cidade organizadora das próximas Jornadas Mundiais da Juventude e esse anúncio deu origem a inúmeras declarações de euforia por parte de diversas entidades políticas e religiosas portuguesas, sobretudo porque se espera a presença de um milhão de visitantes estrangeiros em Lisboa, o que é um contributo para a afirmação da modernidade da cidade como um centro de paz e de abertura ao mundo, onde confluem as culturas europeias e africanas, asiáticas e americanas.

domingo, 27 de janeiro de 2019

O muro de Trump na fronteira mexicana

O cartoon é uma expressão artística muito apreciada porque de uma forma inteligente e compreensível, explica, analisa e critica uma dada situação, ridicularizando por vezes os seus protagonistas. Por isso, a generalidade dos jornais não o dispensa.  
Nos últimos tempos, a vida política americana tem sido agitada pela obcessão de Donald Trump para que seja construído um muro na fronteira dos Estados Unidos com o México, conforme prometeu na sua campanha eleitoral e que, na sua opinião, ajudaria a conter a imigração ilegal e o tráfico de drogas vindas do sul.
A fronteira americana com o México tem cerca de 3.200 km e o custo previsto para a construção desse muro cobrindo apenas metade da sua extensão ainda está por saber, estimando-se que se situa entre os 12 e os 70 mil milhões de dólares. Os Democratas, que têm a maioria na Câmara dos Representantes, consideram que se trata de um desperdício do dinheiro dos contribuintes e não concordam com a construção desse muro, pelo que daí tem resultado a paralização do governo federal.
O muro de Trump tem estado no centro da política americana e tem dado origem ao aparecimento de muitos cartoons na imprensa mundial. De entre todos, destacamos aqui um dos mais expressivos de quantos conhecemos sobre este controverso assunto da política americana.

sábado, 26 de janeiro de 2019

A situação tensa que vive a Venezuela

A situação na Venezuela continua muito tensa, embora a imprensa venezuelana não exprima essa tensão talvez porque, desde há muitos anos, está habituada ao clima de instabilidade que agora se vive no país e o facto de haver dois presidentes, nem parece perturbá-la. As imagens que nos chegam pela televisão não são suficientemente esclarecedoras, porque o que se passa nas ruas de Caracas não é diferente do que vamos vendo em Atenas, Paris ou Barcelona. As imagens da abertura do ano judicial e da tomada de posição das chefias militares, até parecem mostrar que a vida política venezuelana decorre com toda a normalidade e que a instabilidade anunciada é uma construção mediática com origem nas agências internacionais que combatem o chavismo.
O que sabemos é que meio mundo está contra Maduro e que reconhece o jovem Guaidó como o presidente da Venezuela, mas é evidente que foram os incentivos de Trump e Bolsonaro que levaram à radicalização de posições. A União Europeia tem uma posição mais equilibrada e pede eleições livres e justas, enquanto o regime de Maduro, que tem o apoio da Rússia e da China, mas também de outros países, acusa Guaidó de estar à frente de um golpe com a cumplicidade americana.
Neste quadro, ninguém quer perder e, uma vez mais, lá estão confrontados os grandes interesses estratégicos e económicos dos senhores do costume, à custa dos venezuelanos ou do petróleo venezuelano.
As Forças Armadas da Venezuela já expressaram o seu apoio a Nicolás Maduro, mas o jornal colombiano El Observador pergunta hoje se esse apoio é firme. Essa pergunta parece insinuar que os militares se podem dividir e isso seria trágico. De facto, na tradição sul-americana o papel dos militares é decisivo e o que se espera é que se mantenham coesos, que contribuam para a pacificação política e social do país e que possam evoluir para uma posição de árbitros e de mediadores entre as duas venezuelas que estão em rota de colisão.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Maduro e o fim de ciclo na Venezuela

A proclamação de Juan Guaidó, o jovem presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, que ontem enfrentou Nicolás Maduro e se declarou como presidente interino da República Bolivariana da Venezuela foi uma atitude apoiada sem reservas por diversas instâncias políticas internacionais, a começar pelos vizinhos Brasil e Colômbia, pelos Estados Unidos e por outros países. A imprensa internacional também tem alinhado na condenação do regime de Maduro e tem transmitido a ideia de que já está derrotado e, de facto, as enormes manifestações populares nas ruas das cidades venezuelanas acabarão por afastar Maduro do poder, embora o regime tenha aliados de peso internos e externos, como Cuba, a Rússia, a China e a Turquia. Portanto, se houve quem pressionasse Guaidó para avançar, também haverá quem pressione Maduro para não recuar. Assim, há dois presidentes na Venezuela!
É uma situação muito complexa para os venezuelanos, a juntar à crise económica e social, enquanto algumas ingerências externas, como as posições de Trump e Bolsonaro, se estão a revelar prematuras e só servem para extremar as posições. O anúncio de que os polícias se estão a juntar aos manifestantes, a ser verdadeira, desequilibra a situação nas ruas a favor de Guaidó e das forças democráticas, mas a dúvida ainda subsiste: como irão reagir as Forças Armadas? Será da sua reacção, unidas ou divididas, a favor ou contra Maduro, que a Venezuela sairá desta situação, embora desejavelmente se devam manter coesas e possam vir a arbitrar o conflito político e a pacificar o país.
Mais sensata parece ser a posição da União Europeia e das Nações Unidas que pedem contenção e diálogo, bem como a realização de eleições livres e justas, até porque sabem que há duas venezuelas radicalizadas que é preciso acalmar e unir, para evitar que se confrontem para além da normal luta política, porque isso seria trágico. O que não há dúvidas é que Maduro está de saída e que o ciclo do chavismo está a chegar ao fim.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Uma marca cultural portuguesa em Goa

Começa no próximo dia 1 de Fevereiro em Goa o Monte Music Festival, uma iniciativa da Fundação Oriente que, desde 2001, o organiza anualmente. Durante três dias, não só os goeses, mas também muitos turistas indianos e estrangeiros, procurarão os espaços exteriores e interiores da Capela de Nossa Senhora do Monte, situada numa das mais simbólicas colinas de Velha Goa, para assistir a um dos festivais mais prestigiados da Índia, em que se juntam as tradições musicais clássicas e modernas, tanto ocidentais como indianas.
O festival tem sido uma plataforma de encontro e de comunicação entre as diversas expressões artísticas e musicais do Ocidente e do Oriente e é, seguramente, um dos eventos mais aguardados no calendário cultural de Goa, em que habitualmente são recebidas cerca de três mil pessoas.
O Monte Music Festival é uma iniciativa de grande prestígio para a cultura portuguesa, não só porque nasceu da iniciativa de uma instituição cultural portuguesa, mas também porque tem incluído sempre alguns grupos musicais e artistas portugueses. Com este evento, a memória cultural portuguesa em Goa reanima-se e assume uma postura de modernidade, mostrando que a herança cultural portuguesa em Goa vai para além das igrejas, das muralhas, das casas indo-portuguesas e das saudades do bacalhau e do fado.

domingo, 20 de janeiro de 2019

A voz da Escócia está contra Theresa May

A primeira-ministra britânica Theresa May deverá apresentar amanhã no Parlamento uma nova proposta de acordo para o Brexit, mas mesmo que essa proposta venha a ser aprovada, não é seguro que a União Europeia aceite qualquer alteração ao acordo que já tinha sido alcançado. Por isso, são cada vez mais as vozes que acusam Theresa May de teimosia e que clamam por outras soluções.
Os escoceses são quem mais se opõe ao Brexit. No referendo de 2016 já tinha havido 62% de votos escoceses contra o Brexit, pelo que a contestação aos planos de Theresa May está em linha com a votação de 2016, enquanto o bicentenário jornal The Herald, que se publica em Glasgow, envia hoje uma clara mensagem a Theresa May: stop this now.
Nesta edição, o jornal inclui entrevistas a várias personalidades políticas, empresariais e académicas a que chamou a Escócia cívica, tendo concluído que o Brexit deve ser adiado e que deve ser evitado o caos que será uma saída em finais de Março sem acordo, que seria desastroso para a economia e para a sociedade escocesas.
Os entrevistados acusam a primeira-ministra de, em dois anos e meio, não ter sido capaz de fazer um acordo satisfatório e de ter lançado o Reino Unido numa grande incerteza, afirmando que é preciso parar o relógio, isto é, pedir à União Europeia a extensão do artigo 50 do Tratado de Lisboa - que regula os procedimentos a que deve obedecer o estado-membro que tenha a intenção de abandonar a União Europeia - e voltar a dar a palavra aos eleitores britânicos.

sábado, 19 de janeiro de 2019

O terrorismo regressou à Colômbia

Na passada quinta-feira explodiu um carro-bomba junto de uma escola militar de Bogotá que provocou 21 mortos e 72 feridos. A autoria deste atentado foi atribuída ao Exército de Libertação Nacional (ELN) e, pela sua extrema violência, causou um unânime repúdio nacional até porque, apesar dos avanços e recuos próprios destes processos, havia negociações em curso para encontrar um cessar-fogo e uma paz definitiva para a Colômbia.
As guerrilhas colombianas remontam aos anos de 1960, quando se formaram alguns grupos armados com orientações e programas ideológicos de inspiração diversa. O mais importante desses grupos eram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), que chegaram a dominar cerca de 20% do território nacional e teriam quase 20 mil guerrilheiros. Porém, em Junho de 2016 foi assinado um acordo de paz entre o governo da Colômbia e as FARC e, nesse ano, o presidente Juan Manoel Santos foi distinguido com o Prémio Nobel da Paz, enquanto os membros das FARC se transformaram num partido político a que puseram o nome de Força Alternativa Revolucionária da Colômbia.  
Pensou-se que uma das mais antigas guerrilhas do mundo tinha acabado, mas este atentado veio mostrar que o ELN ainda está activo na Colômbia, pelo que o presidente Iván Duque reagiu com firmeza a este atentado e fez um apelo à unidade dos colombianos contra o terrorismo.
Entretanto, para além deste inesperado reaparecimento do ELN, também a situação política nas fronteiras colombianas com o Brasil e com a Venezuela não pode deixar de merecer a atenção da Colômbia.

Trump quer o regresso dos seus soldados

A última edição da revista Newsweek destaca as recentes decisões de Donald Trump em relação ao Daesh e à Síria, que mostram a sua vontade de trazer de volta para casa os soldados americanos que, segundo a revista, estão actualmente envolvidos em conflitos em sete países. 
Aconteceu que, ignorando os pareceres dos comandos militares e dos seus assessores, o Donald se decidiu recentemente pela retirada dos dois mil soldados americanos que se encontram na Síria, o que deixa os seus aliados curdos à mercê dos turcos, mas também já anunciou a redução significativa das tropas americanas que se encontram no Afeganistão. Essa decisão, foi acompanhada por uma declaração do Donald, que afirmou que “American forces will come home under a banner of victory”, mas muitos observadores afirmam tratar-se uma ilusão que se possa cantar vitória sobre o Daesh, sobre os talibans afegãos ou sobre outras forças adversárias que lutam no Médio Oriente. O que o Donald está a fazer, sem medir as consequências ao nível do descrédito da sua política externa, é uma tentativa para aumentar a sua popularidade ao alinhar na crescente crítica interna às guerras “que nunca mais acabam”, que desgastam as tropas e que custam muito dinheiro. Porém, o Donald acrescenta-lhe um toque pessoal e, embora não tenha nenhuma evidência clara quanto a uma vitória americana, nem de uma derrota dos seus inimigos, promove o regresso dos soldados e trata de “vender” internamente aos cidadãos americanos a ideia de uma vitória militar.
Porém, nem os americanos acreditam que o ISIS ou Daesh, a Al-Qaeda, os Mujahideen, os Talibã ou a Frente al-Nusra, estejam derrotados.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Defesa do património cultural em Macau

Macau é, certamente, o maior símbolo da expansão marítima portuguesa do século XVI na Ásia Oriental e as ruínas da antiga igreja jesuíta da Madre de Deus e do convento de São Paulo são, porventura, o seu mais expressivo ex-libris. Essas ruínas são o que resta desse conjunto arquitectónico barroco depois de um incêndio acontecido em 1835, de que apenas se salvaram a fachada em granito da igreja da Madre de Deus e a escadaria monumental. Essas ruínas são um exemplo único da arquitectura barroca na China e localizam-se no centro histórico de Macau e, desde 2005, fazem parte da Lista do Património Mundial da Unesco.
A fotografia das chamadas ruínas de São Paulo ilustra a primeira página da edição de hoje do jornal Tribuna de Macau, conhecido habitualmente como o jtm, a propósito do Conselho do Património Cultural.
Acontece que a manutenção, reparação ou reconstrução dos edifícios dos mais antigos bairros macaenses se tem tornado um verdadeiro problema, em que se chocam os interesses imobiliários, muitas vezes especulativos, com a política de preservação do património cultural edificado. Aquele Conselho é o garante da salvaguarda desse património, que deve assentar essencialmente no restauro dos edifícios degradados e que se deve opor à sua demolição para reconstrução, embora aceite algumas situações intermédias em que possam ser preservadas apenas as fachadas dos edifícios.
O Conselho do Património Cultural tem competências no que respeita à classificação dos edifícios com interesse cultural de Macau e, por isso, é um alvo dos poderosos interesses imobiliários locais. Porém, o Conselho tem fortes apoios na instância política e a simples reprodução da imagem das ruinas de São Paulo na sua edição de hoje, revela que também tem o apoio da imprensa local de língua portuguesa. Nem podia ser de outra maneira...

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

O acordo que humilhou Theresa May

Perante o que sucedeu ontem no Parlamento britânico é preciso lembrar que o referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia se realizou no dia 23 de Junho de 2016, que votaram 33,5 milhões de eleitores e que 48,11% escolheram remain e 51,89% escolheram leave. A Escócia e a Irlanda do Norte, tal como a cidade de Londres, votaram pelo remain, enquanto a Inglaterra e o País de Gales votaram pelo leave. O Reino Unido ficou dividido e a decisão de avançar com o Brexit tinha uma enorme fragilidade política, como se tem observado.
A primeira-ministra Theresa May avançou para Bruxelas e iniciou as negociações tendentes ao divórcio. O desafio era complexo e à medida que o processo avançava, apareciam inesperadas dificuldades a mostrar que a análise custo-benefício da decisão britânica era mais desfavorável do que inicialmente se pensara. As incertezas começaram a perturbar a opinião pública britânica, mas o acordo entre Londres e Bruxelas acabou por ser obtido.
Ontem, o plano para a saída do Reino Unido da União Europeia teve 202 votos a favor e 432 votos contra. Foi uma estrondosa derrota para o governo de Theresa May que viu 118 dos seus 317 deputados a votar contra a sua proposta. “A complete humiliaton”, escreveu hoje a edição do The Daily Telegraph.
A saída da União Europeia prevista para 29 de Março ficou comprometida. Theresa May tem agora três dias para apresentar uma nova proposta, mas da parte europeia tem sido repetido que não haverá quaisquer revisões do acordo já conseguido.
As hipóteses sobre o que se poderá passar são uma incógnita. Jeremy Corbyn, o líder trabalhista, já anunciou a apresentação de uma moção de censura, o que pode significar que May esteja a poucas horas de se demitir, o que abre a porta a eleições gerais antecipadas, enquanto a realização de um segundo referendo ganha cada vez mais apoiantes. David Cameron bem pode andar preocupado com o imbróglio que arranjou no Reino Unido.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

Uma nova estratégia para a Catalunha

A imprensa espanhola é hoje dominada pelo orçamento apresentado pelo governo de Pedro Sanchéz e a nota dominante é o aumento do investimento público na Catalunha, que é interpretado como uma tentativa de adormecer o movimento separatista catalão. O jornal ABC escolheu para título da sua edição que “o golpismo tem prémio” e ilustra a sua primeira página com a Catalunha a festejar com fogo de artifício. Essa também parece ser a opinião das regiões mais desfavorecidas que contestam o favorecimento das regiões do nordeste da Espanha, que são as que menos precisam, mas que mais barulho fazem.
A estratégia de Pedro Sanchez e do governo do PSOE é bem diferente daquela que foi prosseguida por Mariano Rajoy e pelo governo do PP, porque enquanto Rajoy enfrentava duramente os independentistas, Sanchéz tem adoptado a táctica do diálogo e da cedência de alguma coisa, como se vê agora no orçamento que aumenta 52% na Catalunha e 32% em Aragão. Outro jornal madrileno, na linha do que escreveu o ABC, diz que “Sanchéz rega o separatismo com milhões e ainda oferece mais”.
Embora o orçamento também tivesse sido aumentado noutras regiões, como na carenciada Extremadura onde cresceu 27,3%, a opção orçamental gerou muito desagrado nas outras regiões autónomas espanholas, designadamente na Galiza, nas Canárias e no País Basco. A Galiza afirma-se marginalizada e um dos seus mais influentes jornais escreve hoje que o orçamento representa “67 euros menos para cada galego e 93 euros mais para cada catalão”.
Só o futuro nos pode revelar como vai evoluir o problema catalão, embora não pareça que a boa solução se encontre na via orçamental.

domingo, 13 de janeiro de 2019

A herança religiosa portuguesa em Goa

A edição de hoje do jornal oHeraldo – the voice of Goa since 1900 – anuncia que a 31ª assembleia plenária da Conference of Catholic Bishops of India (CCBI), que está a decorrer em Chennai no Estado de Tamil Nandu, elegeu o reverendo Filipe Neri Ferrão, arcebispo de Goa e Damão, para seu presidente, substituindo o cardeal Oswald Gracias, o actual arcebispo de Bombaim.
Dom Filipe Neri António Sebastião do Rosário Ferrão, o Arcebispo de Goa e Damão, Patriarca das Índias Orientais e Primaz do Oriente, é natural de Aldona, no norte de Goa, tem 64 anos de idade e é um poliglota, falando fluentemente várias línguas indianas como o concanim que é a língua de Goa, mas também português, inglês, francês, italiano e alemão. Com 40 anos de idade tornou-se o bispo auxiliar de Goa e, em 2004, foi escolhido para governar a diocese de Goa e Damão. Em 2014 visitou Portugal e presidiu em Fátima à peregrinação internacional de 12 e 13 de Outubro.
A CCBI é a conferência episcopal dos bispos católicos da Índia, é a maior do continente asiático e a 4ª maior do mundo, representando 132 dioceses e 189 bispos. A presidência da CCBI por um prelado goês culto, inteligente e afável, que bem conhece a língua e a cultura portuguesas, é uma distinção para o Estado e para a Igreja de Goa, mas também é um motivo de satisfação para quem conhece o homem que, em boa verdade, representa a componente religiosa da herança cultural portuguesa na Índia.

sábado, 12 de janeiro de 2019

As “fake news” são um verdadeiro perigo

As fake news parecem estar na moda e são, cada vez mais, um perigo para a democracia e para o modelo social em que vivemos. Esta afirmação é actualmente recorrente e Le Nouvel Observateur ou L’OBS, que é a mais importante revista de informação francesa, dedica  a capa da sua última edição ao tema das notícias falsas ou mentirosas que estão a corromper a nossa forma de vida, sobretudo depois de se terem instalado nas novas plataformas digitais e, em especial, no facebook e nos blogues ditos especializados, que se disfarçam de jornais digitais. A revista francesa trata o tema como “le cancer des fake news”, ou como "la maladie contemporaine des fake news".
Se poucos acreditam em alguém que esteja na rua a falar de cara tapada e com a voz distorcida, há pelo contrário, muita gente, incluindo muitos milhares de portugueses, que aceitam ler, que acreditam no que lêem e até reproduzem o que encontram escrito no facebook e em muitos outros sites de desinformação anónimos que estão a proliferar.
Porém, as fake news não apareceram nos anos mais recentes com a internet, nem são exclusivas dos nossos dias, nem apenas do mundo digital. Antigamente eram os boatos e agora são as fake news.
Os jornais impressos e as televisões de referência também usam as fake news e, todos recordamos, as mentiras que levaram ao bombardeamento de Belgrado pela NATO (1999), a invasão do Iraque pelos Estados Unidos (2003) ou os alegado uso de armas químicas contra civis pelo regime de Bashar el-Assad (2012), mas também os casos mais recentes dos pasquins que em Portugal usam as fake news para condenar sem julgamento ou para fazer assassinatos de carácter na opinião pública, sem um mínimo de investigação credível.
As fake news espalham-se rapidamente pelas pessoas e grupos sociais que têm as mesmas crenças (políticas, religiosas, desportivas ou outras), com as mensagens falsas e mentirosas a circular e a amplificar-se, não por serem verdadeiras, mas apenas porque reforçam essas mesmas crenças.
Assim terá sido eleito Trump e Bolsonaro, assim se alimentam diariamente os adeptos dos grandes clubes desportivos portugueses e, assim, acabarão por ser influenciados os resultados das eleições que se aproximam.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Os bons amigos do maduro do Nicolás

Hoje, aqui temos de novo a Venezuela.
Nicolás Maduro Moros tomou posse como presidente da República Bolivariana de Venezuela e apenas três países estiveram representados pelos seus presidentes nessa cerimónia realizada em Caracas, para lhe mostrar solidariedade e lhe dar apoio simbólico - Cuba, Bolívia e El Salvador. Estes presidentes fizeram-se fotografar conjuntamente como “os bons amigos do maduro do Nicolás” e o jornal espanhol ABC publicou essa fotografia, que é a imagem do absoluto isolamento internacional do regime venezuelano.
Esse isolamento de um país de 30 milhões de habitantes, que tem as maiores reservas de petróleo e gás natural do mundo e que é um dos dez maiores produtores mundiais de petróleo, é deveras preocupante para o mundo e, em especial, para a América Latina. A crise económica e social tem-se agravado e a pobreza alastrou a todo o território venezuelano, havendo milhares de pessoas que abandonam o país em direcção ao Brasil e à Colômbia. No numeroso grupo de gente que tem abandonado o país, encontram-se muitos membros da vasta comunidade portuguesa e luso-descendente que têm regressado a Portugal por falta de condições de segurança no país que tinham escolhido para viver.
Porém, a Venezuela não está apenas isolada, mas está também cercada económica e diplomaticamente, não faltando quem tenha o desejo de libertar os venezuelanos do jugo desse maduro do Nicolás. No entanto, também há mais gente atenta a este complexo conflito e o jornal venezuelano Ultimas Noticias publicava ontem, com destaque de primeira página, a notícia que “Rusia advierte a EEUU no tocar a Venezuela ni alentar invasiones”.
Portanto, há que olhar para o imbróglio venezuelano com muita prudência.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Perigoso temporal ameaça a Venezuela

Nicolás Maduro Moros foi hoje empossado como presidente da República Bolivariana da Venezuela e prestou juramento perante o Supremo Tribunal de Justiça venezuelano, iniciando um segundo mandato quando o país está mergulhado numa crise económica, social e humanitária, sem fim à vista.
A Assembleia Nacional venezuelana, que é o orgão constitucional que deveria dar posse a Maduro, não alinhou na cerimónia que classificou como uma fraude, resultante da outra fraude que foi a eleição presidencial realizada no passado mês de Maio, em que a oposição não participou por falta de condições democráticas.
Da mesma forma, tanto a União Europeia, como o Grupo de Lima – composto por 14 países do continente americano, incluindo os Estados Unidos, que foi criado para dar resposta à crise venezuelana – não reconheceram a legitimidade nem o resultado da votação que lançou Maduro para mais seis anos de poder. Para ambas as organizações, apenas a Assembleia Nacional representa o poder político na Venezuela e o seu presidente, o jovem engenheiro Juan Guaidó de 35 anos de idade, já afirmou que “a partir de 10 de Janeiro, Maduro estará a usurpar a Presidência da República. Estamos em ditadura”. A Venezuela está muito isolada na cena internacional e a atravessar uma gravíssima crise. Até há quem pense em intervenções armadas externas ou em guerras civis.
Analisando a imprensa internacional, verifica-se que a posse de Maduro foi absolutamente ignorada, inclusive na América Latina e na Espanha. A excepção foi… Portugal, onde o Público, o JN e o DN, trataram de publicar na sua primeira página a fotografia de Nicolás Maduro.
Ainda estou a pensar porque terá sido que deram tanto destaque a este maduro.

Ainda as marcas da 2ª Guerra Mundial

A 2ª Guerra Mundial terminou há mais de setenta anos mas, de vez em quando, ainda aparecem bombas que não explodiram, sobretudo nos países mais afectados pelos bombardeamentos, isto é, na Inglaterra, na França e na Alemanha.
Desta vez foi na cidade de Limoges, no centro da França, que foi encontrada uma bomba inglesa de 250 Kg durante os trabalhos de realizados na gare ferroviária de Puy Imbert. De acordo com o jornal Le Populaire du Centre que se publica em Limoges, esta bomba terá sido lançada durante o bombardeamento efectuado pela Royal Air Force na noite de 23 para 24 de Junho de 1944 sobre aquela gare, que destruiu cerca de 700 carruagens e interrompeu a circulação ferroviária durante uma semana, mas adianta outra hipótese. A bomba também poderá ter sido utilizada num outro bombardeamento igualmente efectuado pela Royal Air Force, na noite de 8 para 9 de Fevereiro de 1944, que teve como alvo a fábrica Gnome et Rhône, que ficava próximo da gare de Puy Imbert, que então era conhecida por Arsenal por fabricar motores de avião e que tinha sido requisitada pelos alemães. Embora este bombardeamento tivesse sido de “uma rara precisão”, segundo o jornal, algumas bombas poderão ter falhado o alvo.
Os serviços de desminagem da protecção civil intervieram e a bomba foi desactivada e destruída no dia 8 de Janeiro, mas o que surpreende é que ao fim de tantos anos ainda continuem a aparecer bombas por explodir.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

Os ventos que sopram no Reino Unido…

No próximo dia 15 de Janeiro os deputados britânicos vão votar o acordo de saída do Reino Unido da União Europeia, uma votação que esteve prevista para o dia 11 de Dezembro e que a primeira-ministra Theresa May tinha decidido adiar por temer que fosse reprovado.
As expectativas quanto ao que vai acontecer agora são enormes e os cidadãos britânicos devem andar absolutamente desorientados, porque já não sabem de saem ou se ficam. Na passada terça-feira, Theresa May perdeu uma votação no Parlamento por 306 votos contra 296, verificando-se que 20 deputados conservadores se juntaram à oposição. Ontem à noite, por 308 votos a favor contra 297, Theresa May sofreu uma segunda derrota no Parlamento em relação à saída britânica da União Europeia. Parece confirmar-se, portanto, que o Partido Conservador está com duas dezenas de deputados rebeldes que vão, previsivelmente, levar à rejeição do acordo do Brexit negociado com Bruxelas. O jornal The Times noticia em primeira página que os rebeldes infligiram uma derrota histórica a May que, apesar de tudo, revela persistência ou até mesmo teimosia.
É previsível a derrota de Theresa May no dia 15 e, a acontecer, aprofundará a incerteza sobre o futuro do Brexit, que é a maior mudança na política externa e na política comercial do Reino Unido desde há muitos anos. Theresa May não vai ter maioria parlamentar para aprovar o acordo de retirada da União Europeia e essa derrota abre caminho para vários resultados diferentes, que vão desde uma saída desordenada da União Europeia, até à realização de um novo referendo ou, noutro plano, à demissão de Theresa May e à realização de eleições antecipadas.
Os ventos que sopram no Reino Unido são muito preocupantes para os britânicos e, por contágio, para todos os europeus.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

A nova solução aeroportuária para Lisboa

O governo português e a ANA – Aeroportos de Portugal vão assinar hoje um memorando de entendimento que pretende dar resposta aos problemas do aeroporto Humberto Delgado, que em 2018 atingiu o seu nível máximo de saturação com cerca de 29 milhões de passageiros e que, a partir de agora, começou a perder cerca de 1,8 milhões de passageiros potenciais por ano.
A solução tem sido discutida desde há muitos anos, tendo-se pensado em novos aeroportos na Ota ou em Alcochete, mas a solução encontrada foi o aproveitamento da área da base aérea do Montijo para construir um novo aeroporto, que deverá estar em funcionamento em 2022, em paralelo com a ampliação do aeroporto Humberto Delgado.
Os valores do acordo já foram revelados e o investimento global ascenderá a 1.747 milhões de euros, dos quais 1.326 milhões se destinam à primeira fase. Destes, haverá 650 milhões para a ampliação do aeroporto Humberto Delgado, 520 milhões para o novo aeroporto do Montijo e 160 milhões para acessibilidades e compensações à Força Aérea. O prazo da concessão vai estender-se até 2062 e todo o investimento ficará exclusivamente a cargo da concessionária.
O novo aeroporto do Montijo terá 2400 metros de pista e estacionamento para 36 aviões, pretendendo ultrapassar a marca dos 50 milhões de passageiros por ano e chegar aos 72 movimentos de aeronaves por hora.
No que respeita ao modernizado aeroporto Humberto Delgado, salienta-se que vai aumentar a sua área em mais de 32%, passando a poder receber na sua pista os maiores aviões de passageiros do mundo, respectivamente o A380 e B 747. Esse aspecto parece ter sido o que mais interessou o Jornal de Negócios, que ilustra a capa da sua edição de hoje exactamente com uma fotografia do A380.
O acordo que hoje vai ser assinado parece não ter o aplauso unânime das forças políticas e ainda está dependente do estudo de impacto ambiental que está a ser concluído, mas é seguramente um bom passo no caminho do nosso progresso económico.

domingo, 6 de janeiro de 2019

Tradições espanholas da época natalícia

Hoje celebra-se o Dia dos Reis Magos que assinala a visita dos três reis magos (Melchior, Gaspar e Baltazar) ao menino Jesus, que é uma das festas mais populares da tradição cristã e que assinala o fim da quadra natalícia.
Em Portugal as celebrações natalícias centram-se no dia 25 de Dezembro e, nos tempos mais recentes, adoptaram símbolos desligados da tradição, como o Pai Natal a viajar de trenó ou a árvore de Natal iluminada ,enquanto as crianças já não colocam o sapatinho na chaminé e escrevem cartas ao Pai Natal a pedir presentes. Na nossa vizinha Espanha a tradição é diferente da prática natalícia portuguesa e as crianças espanholas, em vez de escreverem cartas ao Pai Natal, enviam cartas aos reis magos com os seus pedidos de presentes para receberem no dia 6 de Janeiro. As cartas são normalmente redigidas na véspera da celebração e são amarradas em balões de cores que são largados no céu, levando os desejos das crianças.
Na tarde do dia 5 de Janeiro, por toda a Espanha mas, em menor grau, também em alguns outros países, acontece a visita dos reis magos para distribuir os presentes às crianças. É a Cabalgata de Reyes Magos, um desfile de carros alegóricos em que os reis magos entram na cidade acompanhados por pajens que vão distribuindo presentes às crianças que assistem deslumbradas à passagem da comitiva.
A imprensa espanhola, sobretudo a imprensa regional, destaca as inúmeras cabalgatas realizadas pelo país. A Cabalgata de Reyes Magos de Granada é considerada a mais antiga da Espanha e do mundo e, por isso, o jornal Ideal lhe dedicou um grande espaço na primeira página da sua edição de hoje, com uma fotografia em que uma grande multidão assiste à passagem da cabalgata de Granada. 

sábado, 5 de janeiro de 2019

Podemos confiar no Ministério Público?

O Ministério Público é um órgão constitucional que é presidido pelo Procurador-Geral da República e que, de acordo com o artigo 3º da Lei nº 62/2013, entre outras atribuições, tem a função de representar o Estado e defender a legalidade democrática, exercer a acção penal e participar na execução da política criminal definida pelos órgãos de soberania. Nos últimos anos, fazendo uso do seu estatuto próprio, o Ministério Público tem promovido justificadas investigações sobre eventuais casos de corrupção que importa esclarecer para defesa da República e da Democracia.
Porém, na condução das suas investigações, os agentes do Ministério Público têm abusado dos seus poderes demasiadas vezes, manifestando sinais de falta de respeito pelos cidadãos, de intolerância cívica e até espírito de vingança. Muitas vezes esses sinais têm sido mostrados em directo pelas televisões, revelando a promiscuidade que existe com os pasquins sem escrúpulos que por aí circulam e que envenenam o espaço público. É um escândalo nacional e uma vergonha. As violações ao segredo de justiça tornaram-se uma norma e um escândalo nacional, em que há cidadãos que são condenados na praça pública através dos panfletos do tipo-correio-da-manha. Nenhum jornal, nenhuma televisão, nem nenhum jornalista foram condenados por não respeitarem a presunção de inocência, por violarem o segredo de justiça ou por atentarem contra o direito à privacidade e ao bom nome dos cidadãos. Isto não é “representar o Estado e defender a legalidade democrática”, como a lei determina ao Ministério Público, que eu ajudo a suportar com os meus impostos.
Agora, o tribunal acaba de absolver o ex-ministro Miguel Macedo e outros 18 cidadãos, depois de uma averiguação conduzida pelo Ministério Público durante quatro anos (!) e de uma campanha difamatória conduzida pelos pasquins do costume. Quem vai limpar o bom nome de Miguel Macedo? Quem vai ser responsabilizado por esta perseguição do Ministério Público? Afinal a ex-Procuradora-Geral da República andou a dar tiros de pólvora seca. Será que podemos confiar no Ministério Público?

O comboio de alta velocidade indiano

A Índia decidiu construir uma linha ferroviária de alta velocidade para ligar a cidade de Ahmedabad, capital do Estado do Gujarat, com a cidade de Mumbai, a antiga Bombaim, que é a capital do Estado de Maharashtra e que é a verdadeira capital económica e financeira da Índia.
Trata-se de um projecto muito ambicioso por várias ordens de razões, sobretudo porque é a primeira linha ferroviária de alta velocidade da Índia, que já começou a ser construída no passado mês de Agosto com a cooperação tecnológica e financeira do Japão.
Os comboios circularão a 320 km por hora, a linha terá um comprimento de 508 km e haverá 12 estações, incluindo Vapi que serve o antigo território português de Damão. A maior parte da linha será elevada para evitar a aquisição de terrenos agrícolas e para minimizar problemas de segurança, mas nas proximidades de Mumbai, entre Thane e Virar, terá um túnel de 21 km, dos quais 7 km serão submarinos. O custo total do projecto será de 15 mil milhões de dólares e a inauguração está prevista para o dia 15 de Agosto de 2022, quando a Índia celebrar o 75º aniversário da sua independência.
Hoje, o jornal Gulf News que se publica no Dubai, destaca na sua primeira página os três maiores obstáculos que enfrenta o comboio de alta velocidade indiano, designadamente as expropriações de terrenos que estão a ser altamente contestadas, as questões da segurança ao longo da linha e o seu elevado custo para um país onde 163 milhões de pessoas ainda não possuem água canalizada. Porém, a Índia não é apenas um país de contrastes culturais, mas também é um país com desenvolvimentos muito desiguais e assimétricos, onde os sinais de pobreza e os sinais de modernidade e de ostentação continuarão a coexistir por muitos anos.

A China marca pontos na corrida espacial

Uma sonda não tripulada chinesa albergando um veículo robotizado aterrou na face oculta da Lua e, dessa forma, a China assume um protagonismo inesperado no domínio da exploração espacial. De facto, o resultado desta missão mostra o elevado nível científico do país, simboliza o seu progresso e revela uma enorme ambição, não só nos domínios económico e militar, mas também na área das tecnologias espaciais.
Embora a China em 2013 já tivesse feito aterrar uma sonda espacial no hemisfério visível da Lua, proeza que só os Estados Unidos e a Rússia tinham conseguido, o sucesso desta missão pioneira da aterragem da sonda Chang’e 4 no lado inexplorado da Lua e que não é visível da Terra, foi considerado um êxito e foi elogiado pela NASA.
As autoridades chinesas planeiam iniciar este ano a construção de uma estação espacial para acolher tripulantes em permanência e enviar um veículo de exploração a Marte, parecendo apostadas em dinamizar e liderar a exploração espacial.
O jornal macau hoje destacou o sucesso desta missão espacial, que aparece integrada num programa que em 2003 já tinha realizado a sua primeira missão tripulada.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

A fama de Ronaldo parece estar de volta

Apesar de ser campeão europeu e de ter marcado um golo sensacional no dia 3 de Abril de 2018, no Allianz Stadium de Turim, quando com a camisola do Real Madrid defrontou a Juventus, o futebolista Cristiano Ronaldo não foi eleito pela UEFA nem pela FIFA como o melhor futebolista do mundo em 2018. As imagens desse golo correram mundo e esse momento foi adjectivado como fantástico, incrível e antológico, tendo sido aplaudido pelos próprios adeptos italianos mas, apesar disso, nenhuma dessas organizações escolheu Ronaldo como o melhor do ano. Os fãs de Ronaldo ficaram tristes, até porque essas “derrotas” coincidiram com uma grave acusação que contra ele foi feita nos Estados Unidos.  
Porém, Cristiano Ronaldo foi agraciado esta quinta-feira no Dubai com o prémio de melhor jogador do ano nos Globe Soccers Awards e, para além desta distinção, ainda recebeu o troféu relativo ao melhor golo do ano, exactamente aquele que marcou ao serviço do Real Madrid contra a sua actual equipa.
Muitos tinham pensado que Ronaldo estava definitivamente afastado do top do futebol mundial por não ter sido escolhido pela UEFA e pela FIFA, apesar do seu histórico golo em Turim. Agora com um título de melhor jogador do mundo, embora um prémio menos valioso que os prémios da FIFA ou da UEFA, Cristiano Ronaldo pode ter “ressuscitado” e os seus fãs recuperaram uma boa razão para idolatrarem o seu ídolo. O jornal italiano TuttoSport, que tanto tem apoiado a carreira italiana de Ronaldo, não deixou passar em claro este acontecimento.

O futebol está a colonizar a informação

Na passada quarta-feira a equipa de futebol do Benfica foi jogar a Portimão e perdeu por 2-0, porque aconteceu o facto pouco comum de dois jogadores benfiquistas terem metido golos na sua própria baliza. No dia seguinte, a derrota do Benfica foi exaustivamente comentada nas televisões como se fosse uma catástrofe, a revelar a mediocridade ridícula daquilo a que chamam jornalismo desportivo e a mostrar como o futebol colonizou os mass media portugueses. Esta situação nem mereceria comentário, mas ontem foi anunciado que o treinador do Benfica tinha sido despedido... como se fosse ele que tivesse marcado os golos na própria baliza em Portimão.
A notícia do despedimento do Mr. Vitória deu origem a uma completa histeria televisiva, com todas as televisões cheias de comentadores, com directos do estádio da Luz, com palpites e preocupações sobre o futuro do treinador, bem como sobre quem o poderá substituir. A programação anunciada nos diferentes canais foi suspensa para abrir espaço ao tratamento a esta notícia e foram horas seguidas de emissão, sem conteúdo e sem nexo nenhum. Uma vergonha para os canais televisivos e para quem os dirige, gente vulgar que não passa de mercenários sem escrúpulos e que se comporta como servos das audiências.
Eu gosto de futebol, mas o futebol não merece tanto espaço televisivo, em que jornalistas, estagiários e comentadores se repetem durante horas a fio, sem qualquer interesse noticioso. Até o jornal Público, que devia ser uma referência, escolheu o Mr. Vitória para a sua capa, esquecendo a notícia da chegada chinesa à face escura da Lua e muitas outras notícias de destaque nacionais e internacionais. Uma tristeza!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Brasil: ainda a posse de Jair Bolsonaro

O Brasil é um grande país que, pela história, pela língua e pela cultura, é o país-irmão de Portugal. Embora estejam enquadrados por geopolíticas diferentes, os caminhos dos dois países também são naturalmente diferentes, mas o facto de se poderem entender na mesma língua e sem intérpretes, permite-lhes potenciar muitos interesses comuns, o primeiro dos quais é a integração das comunidades brasileiras em Portugal e das comunidades portuguesas no Brasil.
Por isso, a posse de um novo presidente do Brasil, que anuncia grandes mudanças, não pode deixar de interessar os portugueses e justificar tanta cobertura mediática em Portugal, até porque Marcelo Rebelo de Sousa foi o único presidente europeu que esteve na cerimónia de investidura presidencial em Brasília.
Porém, a análise da imprensa europeia mostra que os europeus não se interessaram pela posse do novo presidente do Brasil, isto é, nem Bolsonaro nem o Brasil foram notícia importante, talvez devido à presença entusiástica de Benjamin Netanyahu e de Viktor Orbán. No entanto, a análise da imprensa europeia mostra que houve algumas excepções e a mais notória terá sido o Dagens Nyheter, o maior jornal da Suécia, que deu um grande destaque à posse de Jair Bolsonaro, publicando uma interessante fotografia da transmissão de poderes, bem diferente daquelas que ilustraram a imprensa brasileira.
Agora, em relação a Jair Bolsonaro e ao seu governo, é esperar para ver. Parece haver muita serenidade, sem grande festa, nem grande contestação, mas tão somente muita expectativa e muita esperança quanto aos dias que virão.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Brasil: novo Presidente e nova esperança

Brasília assistiu ontem à tomada de posse de Jair Bolsonaro como o 38º Presidente da República Federativa do Brasil e, naturalmente, há uma enorme curiosidade no mundo sobre o que vai acontecer no Brasil, que é o maior país da América do Sul e da América Latina, o quinto maior país do mundo em área territorial, o sexto maior em população e, segundo o FMI, está entre as dez economias mais fortes do planeta.
Portugal esteve presente através de Marcelo Rebelo de Sousa, que foi o único presidente europeu a assistir à cerimónia de investidura de Bolsonaro. E fez bem, porque por razões históricas e emocionais, o Brasil continua  a ser o “país-irmão” e nenhum português é indiferente ao que se passa no Brasil.
Jair Bolsonaro chegou à Presidência depois de uma vitória eleitoral expressiva, embora o seu discurso radical tenha surpreendido aqueles que acompanham a vida política do Brasil, pelas suas repetidas insinuações e afirmações a respeito do valor da democracia. Os brasileiros esperam ter encontrado em Bolsonaro a resposta para a grave crise social que atravessam, marcada pela corrupção, pela criminalidade e pela insegurança, agravadas por uma persistente crise económica. A cerimónia foi transmitida pela televisão portuguesa e os portugueses puderam ouvir um discurso nada conciliador, em que Bolsonaro salientou a frase -  "Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", a lembrar o "America first" de Donald Trump. Além disso,  também repetiu algumas frases marcadamente ideológicas retiradas da sua campanha eleitoral, ao afirmar que foi eleito "para restabelecer a ordem no país", que a bandeira do Brasil "jamais será vermelha" e que os movimentos sociais terão de se habituar a respeitar "a propriedade privada".
A tarefa de Bolsonaro é muito difícil e há dúvidas se vai unir ou se vai dividir o Brasil. Os 210 milhões de brasileiros, tal como os seus amigos portugueses, vão esperar para ver o que vai fazer o capitão.