Num contexto de euforia económica houve milhares de famílias em Portugal que contraíram empréstimos para aquisição de casa própria e hoje haverá 140 mil que estão com processos de incumprimento por ausência de pagamento de crédito à habitação.
As razões são muito diversas e compreensíveis, mas esta situação só foi possível porque a gananciosa banca estimulou esses comportamentos económicos quando o dinheiro era barato.
Agora, quando uma família entra em incumprimento e não consegue fazer os seus pagamentos, há lugar à dação por incumprimento, isto é, à devolução da casa.
Porém, nesses casos, por efeito de várias avaliações e da eventual desvalorização do imóvel, além de ficarem sem casa, as famílias ainda ficam a dever dinheiro aos bancos que entendem que as suas casas desvalorizaram face ao valor do empréstimo pedido e, assim, a banca duplica a sua margem de lucro.
Isto é um verdadeiro assalto às famílias e à coesão da sociedade. É preciso acabar com esta situação, porque se trata de uma condenação sem prazo das famílias que estão numa circunstância crítica. É preciso legislar no sentido de que a entrega de casa salde a dívida ao banco e, por isso, espera-se que o governo e os 230 deputados tenham a sensibilidade social e a coragem para travar a renascida ganância da banca.
Por tudo isso, tem sentido recordar o Poemarma, um famoso poema de Manuel Alegre publicado em 1967 n’O Canto e as Armas:
Que o poema assalte esta desordem ordenada,
Que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!