sábado, 28 de dezembro de 2024

A catastrófica “riada” de Valência de 2024

No passado dia 29 de Outubro o território da Comunidade Valenciana, sobretudo os arredores de Valência e a própria cidade, foram atingidas por um violento temporal com uma pluviosidade extrema e, em apenas oito horas, choveu o equivalente a um ano, dando origem a inundações que se revelaram catastróficas. Em 69 municípios da comunidade, a água e a lama inundaram as casas e as ruas, destruíram infraestruturas e arrastaram centenas de viaturas, provocando ainda 225 mortes e um número ainda indeterminado de desaparecidos.
Em 1957 tinha acontecido a Gran Riada de Valencia, que também foi catastrófica e provocou muitas mortes, levando o governo do general Franco a avançar com um megaprojecto denominado Proyeto Sur, que “retirou” o leito do rio Turia do centro da cidade, o que agora se revelou importante pois poupou o centro urbano dos efeitos das inundações e das enxurradas de lamas.
Toda a gente atribuíu a catástrofe ao efeito das alterações climáticas. Porém, a construção de edifícios, autoestradas e outras infraestruturas nos arredores da cidade, muitas vezes sem qualquer planeamento e sob o efeito da especulação imibiliária, contribuíram para a impermeabilização de extensas áreas urbanas, o que agravou a situação de calamidade, pois as águas pluviais não foram retidas pelos solos.
Cerca de dois meses depois o diário Las Provincias que se publica em Valência, evoca na sua edição de hoje a catástrofe de Outubro e publica uma impressionante fotografia de centenas de automóveis destruídos pelo temporal, escolhendo como título “um tsumani de sucata”.
A imagem é impressionante e aqui está como, muitas vezes, uma imagem vale mais que mil palavras.

Os obscenos lucros da banca portuguesa

A manchete da edição de ontem do Diário de Notícias destaca que a “banca portuguesa vai ter ano mais lucrativo de sempre em 2024”, o que parece ser uma boa notícia, pois todos se recordam dos tempos difíceis por que passou a banca depois da falência do banco norte-americano Lehman Brothers, acontecida em 2008.
Aquela falência deu origem a uma grande crise financeira internacional que chegou a Portugal e afectou a débil banca portuguesa, daí resultando a falência do BPN (2008), do BPP (2010), do BES (2014) e do BANIF (2015), ainda agravadas por gestão fraudulenta ou incompetente. Seguindo a orientação preconizada pelas instituições financeiras internacionais, os sucessivos governos portugueses trataram de inscrever anualmente nos Orçamentos do Estado uma previsão de despesa para salvar ou apoiar a banca. Estima-se que, até agora, os contribuintes portugueses já tenham avançado com mais de 20 mil milhões de euros. No caso da CGD que precisou de se capitalizar em 2017, a ajuda do Estado ascendeu a 2.500 milhões de euros que, segundo foi divulgado, já foram totalmente pagos.
Significa, portanto, que a banca portuguesa está a cumprir o seu papel na relação entre a Economia e a Sociedade ou a servir a população, ao assegurar a gestão dos depósitos bancários e das poupanças, articulando-os com o crédito bancário e o financiamento dos investimentos.
Porém, quando se anunciam 6,6 mil milhões de lucros no terceiro trimestre de 2024, com destaque para os 1,4 mil milhões de euros apresentados pela CGD, o maior banco português e que é público, ficamos perplexos, pois é uma quase obscenidade num país onde ainda há tanta pobreza. Embora uma boa parte deste lucro regresse ao accionista Estado sob a forma de dividendos, a CGD comporta-se como um vulgar banco comercial, pois retira-se das pequenas localidades porque “não são rentáveis” e castiga os seus clientes, não lhes pagando juros justos pelos seus depósitos, enquanto lhes cobra exorbitantes valores por manutenção de contas. Um abuso! Ocorre-me o “Poemarma”, o poema de 1967 que Manuel Alegre incluíu n’O Canto e as Armas e que diz:
- Que [o poema] chegue ao banco e grite: abaixo a pança!