segunda-feira, 25 de março de 2019

Realmente, parece haver duas Venezuelas

É muito incerta a situação que se vive na Venezuela, sobretudo depois de 23 de Janeiro de 2019, quando Juan Guaidó se auto-proclamou Presidente do país. A partir de então intensificou-se uma campanha internacional contra Nicolas Maduro e o seu regime, apoiada nos mass media internacionais que se mobilizaram em torno da ajuda humanitária e da ocupação do poder pelos chavistas de Maduro, que é considerada ilegítima pela oposição. A intensidade dessa campanha faz-nos desconfiar, até porque a leitura da imprensa venezuelana revela que ainda é plural, sem parecer estar enfeudada a Maduro ou a Guaidó, pois veicula as diferentes posições dos partidos venezuelanos e insiste que “urge buscar acuerdo politico en el país”.
Há uma crise séria, mas os militares e os juízes continuam com Maduro. Porém, há novos episódios todos os dias. Um deles foi a prisão de um colaborador próximo de Guaidó, alegadamente envolvido em operações de financiamento de um grupo paramilitar que iria desencadear atentados terroristas para destabilizar, ainda mais, o país. O outro foi a vitória do vino tinto, isto é, a equipa nacional de futebol sobre a Argentina de Messi, o que elevou a auto-estima venezuelana.
Ontem a notícia, veiculada por toda a imprensa venezuelana, incluindo o jornal El Clarín de la Victoria para Aragua, foi a chegada ao aeroporto de Maiquetía de dois aviões da Força Aérea Russa, um gigante Antonov An-124 carregado com 35 toneladas de material e um Ilyushin Il-62 com 99 militares comandados por um general. É uma notícia preocupante porque os objectivos desta missão são desconhecidos, embora tivesse sido adiantado que resultam de compromissos relativos aos contratos de carácter técnico-militar existentes entre a Rússia e a Venezuela.
Esta notícia não vai agradar nada ao Donald. Realmente, parece haver duas Venezuelas: uma que a Rússia apoia e outra com que o Donald sonha. Além disso, a notícia mostra uma realidade diferente daquela que nos tem sido mostrada, nomeadamente pelos chamados enviados especiais portugueses que se deslocaram à Venezuela e que não tiveram o cuidado ou o profissionalismo de mostrar as duas faces da história.