sábado, 20 de abril de 2024

A Índia e o extremismo de Narendra Modi

O complexo processo eleitoral indiano arrancou ontem e vai desenvolver-se até ao dia 1 de junho, tendo como favorito à vitória final o Bharatiya Janata Party ou BJP, o partido de Narendra Modi, o actual chefe do Governo. Serão quase 970 milhões de eleitores que irão escolher os 543 membros do Lok Shaba, a câmara baixa do parlamento indiano, que depois escolherá o primeiro-ministro para os próximos cinco anos. Há dez anos no poder, o primeiro-ministro Modi lidera com mão de ferro o BJP, com o apoio de um poderoso braço político-militar que é o Rashtriya Swayamsevak Sangh ou RSS, um grupo paramilitar nacionalista hindu, com características extremistas de direita. 
O autoritarismo é, provavelmente, a marca mais relevante da política de Modi e tem sido utilizada na repressão dos movimentos dos pequenos agricultores, nos ataques à liberdade de expressão e ao jornalismo independente, mas também na afirmação do sectarismo religioso hindu. 
Segundo relata hoje o jornal The New Indian Express, que insere um anúncio de primeira página em que Narendra Modi apela ao voto, na sua campanha eleitoral ele atacou os seus adversários por não terem liderança nem visão de futuro, denunciando a influência “de várias pessoas grandes e poderosas, tanto a nível nacional como internacional, que deram as mãos para o destituir do seu cargo”. Porém, o RSS e os seus grupos paramilitares radicais e que actuam com evidente protecção do poder do BJP e de Narendra Modi, têm conduzido acções de grande violência contra mesquitas e igrejas, que as grandes potências tendem a ignorar pois o que lhes interessa é o liberalismo económico indiano e os grandes negócios de armamento. 
Os católicos de Goa, um dos 28 estados da Índia, têm vivido com muita preocupação a permanente ameaça que constitui o RSS, sobretudo nesta fase em que são mobilizados pelo processo eleitoral.

Paris 2024: só faltam 100 dias para a festa

Os Jogos Olímpicos de 2024 ou Jogos da XXXIII Olimpíada vão disputar-se em França entre os dias 26 de julho e 11 de agosto de 2024, com a cidade de Paris a ser o centro desse grande evento mundial, embora se realizem provas desportivas em 16 cidades da França Metropolitana, ou no Hexágono, como os franceses por vezes se referem ao seu território europeu.
Há dias, quando faltavam 100 dias para a cerimónia de abertura desta Olimpíada, a generalidade da imprensa francesa dedicou grandes reportagens ao acontecimento e tratou de forma especial, ou até com o costumado chauvinismo francês, os atletas que vão defender “l’honneur de la France”. O jornal Le Parisien foi apenas um dos jornais que dedicou uma edição especial ao acontecimento, tendo escolhido “les 100 Français qui vont faire briller les Jeux”, sobre os quais colocou o peso de ganharem medalhas e de levarem a bandeira tricolor a subir ao ponto mais alto dos mastros olímpicos.
Os Jogos Olímpicos são um enorme investimento financeiro que, sobretudo, visa proporcionar ao país-organizador ganhos de prestígio e de afirmação internacional, com repercussão em todas as áreas da vida francesa, como por exemplo no turismo, no comércio, no desporto, na diplomacia e em muitas outras áreas. Durante duas semanas, os olhos e os ouvidos do mundo estarão concentrados em França, mas também na bandeira francesa, enquanto os franceses esperam ouvir muitas vezes La Marseillaise, o hino nacional da França. O pequeno Emmanuel Macron vai jogar a sua popularidade e o seu prestígio no plano internacional, mas sobretudo no plano interno, como se fosse um atleta em prova.

A guerra iminente ou o fim de um capítulo

A enorme rivalidade e a consequente conflitualidade existentes entre Israel e o Irão tiveram nos últimos meses uma grande e muito preocupante aceleração, cujos pontos mais altos terão sido o ataque ao consulado iraniano em Damasco efectuado no dia 1 de abril por aviões israelitas F-35, a que se seguiu um ataque de retaliação em larga escala, realizado no dia 14 de abril, em que foram lançados cerca de três centenas de drones, mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos iranianos sobre território israelita. O massacre que tem sido feito aos palestinianos em Gaza parece ter sido esquecido, bem como a exigência do fim da venda de armas a Israel, que alguém já classificou como “a ruína moral do Ocidente”.
O mundo pediu contenção aos dois adversários. Hoje, a edição da revista alemã Der Spiegel  publica as imagens do ayatolá Ali Khamenei e de Benjamin Netanyahu, afirmando que o conflito entre o Irão e Israel é perigoso para o mundo e perguntando se estamos perante o início da próxima guerra mundial. Porém, em sentido inverso, o jornal Público destaca na sua edição de hoje que o “ataque limitado de Israel pode ser o fim de um capítulo perigoso”.
As nossas televisões estão inundadas de eruditos comentadores e comentadoras que nos dão todas as análises opinativas e especulativas sobre aquele conflito, por vezes com lições de história aprendidas apressadamente no Google, mas parece que sabem pouco sobre o que se está a passar, como mostram as manchetes de hoje da revista alemã e do jornal português.
O nosso voto é que o jornal português tenha razão e que já estejamos no “fim de um capítulo perigoso”.