A evolução da guerra na Ucrânia, ou
da operação especial como se lhe referiu o Vladimir, tem-me interessado pouco,
sobretudo porque as televisões são demasiado repetitivas e seguem à risca as
novas regras do jornalismo tablóide e sensacionalista, em que a verdade pouco
vale. Daí resulta uma manipulação dos factos, com a difusão de notícias a transformar-se
muitas vezes num exercício de propaganda, em que se misturam opiniões com factos,
uns verdadeiros e outros não. Porém, as imagens da guerra são brutais, trágicas
e chocantes. Não se imaginava que fosse possível acontecer o que está a
suceder. Há que parar com esta catástrofe e discutir depois o que tiver que ser
discutido.
Entretanto, parecem estar suspensas
as negociações com vista a um cessar-fogo que tarda e, pelo contrário, há demasiados
sinais de agravamento do conflito, tanto no terreno, como nas chancelarias que
parece pensarem mais no envio de armas para a fogueira, do que chegar à paz.
Na noite de quarta-feira, ao largo de
Odessa, o cruzador russo Moskva, o
navio-almirante da frota do mar Negro, teve uma explosão a bordo, seguida de
incêndio e acabou por se afundar. Russos e ucranianos deram explicações bem
diferentes para esse caso. Para os ucranianos, o navio terá sido atingido por dois mísseis R-360
Neptuno, que provocaram o incêndio, a que se seguiu a explosão de munições, mas os russos negam que tenha havido impacto de mísseis. A tripulação de cerca de 500
elementos abandonou o navio que, com graves danos, começou a ser rebocado para
Sevastopol, mas acabou por se afundar.
O cruzador Moskva deslocava 12.490 toneladas e tinha 184 metros de
comprimento, estando ao serviço desde 1983. O seu afundamento foi um duro golpe
para a Marinha da Rússia, uma enorme derrota no campo psicológico e um forte abalo
no seu orgulho, enquanto os ucranianos reivindicam uma grande vitória que, a
ser verdade o ataque de mísseis, é um feito notável para a tecnologia ucraniana
e que, certamente, vai entusiasmar a resistência contra o invasor russo.
Fontes americanas não confirmaram a
reivindicação ucraniana, afirmando apenas que houve uma “explosão
significativa” no navio e que deu origem a um “incêndio significativo”. Os
jornais americanos de referência usam as palavras afundamento, explosão e perda, para referir o que se passou, sem se referirem a qualquer acção ucraniana e sem grande destaque jornalístico, apesar de se tratar do mais relevante acto de guerra acontecido até agora.
Com ou sem a intervenção de mísseis, este episódio é uma grande vitória ucraniana e um dolorosa derrota russa. Curiosamente só o jornal Público e dois jornais italianos publicam
a notícia com fotografia do navio em primeira página, mas o jornal português destaca-se
por ser o único jornal que afirma que “ataque ucraniano afundou o Moskva”.
É caso para dizer que é mais papista
do que o Papa.