sexta-feira, 15 de abril de 2022

Um duro golpe para a Marinha da Rússia

A evolução da guerra na Ucrânia, ou da operação especial como se lhe referiu o Vladimir, tem-me interessado pouco, sobretudo porque as televisões são demasiado repetitivas e seguem à risca as novas regras do jornalismo tablóide e sensacionalista, em que a verdade pouco vale. Daí resulta uma manipulação dos factos, com a difusão de notícias a transformar-se muitas vezes num exercício de propaganda, em que se misturam opiniões com factos, uns verdadeiros e outros não. Porém, as imagens da guerra são brutais, trágicas e chocantes. Não se imaginava que fosse possível acontecer o que está a suceder. Há que parar com esta catástrofe e discutir depois o que tiver que ser discutido.
Entretanto, parecem estar suspensas as negociações com vista a um cessar-fogo que tarda e, pelo contrário, há demasiados sinais de agravamento do conflito, tanto no terreno, como nas chancelarias que parece pensarem mais no envio de armas para a fogueira, do que chegar à paz.
Na noite de quarta-feira, ao largo de Odessa, o cruzador russo Moskva, o navio-almirante da frota do mar Negro, teve uma explosão a bordo, seguida de incêndio e acabou por se afundar. Russos e ucranianos deram explicações bem diferentes para esse caso. Para os ucranianos, o navio terá sido atingido por dois mísseis R-360 Neptuno, que provocaram o incêndio, a que se seguiu a explosão de munições, mas os russos negam que tenha havido impacto de mísseis. A tripulação de cerca de 500 elementos abandonou o navio que, com graves danos, começou a ser rebocado para Sevastopol, mas acabou por se afundar.
O cruzador Moskva deslocava 12.490 toneladas e tinha 184 metros de comprimento, estando ao serviço desde 1983. O seu afundamento foi um duro golpe para a Marinha da Rússia, uma enorme derrota no campo psicológico e um forte abalo no seu orgulho, enquanto os ucranianos reivindicam uma grande vitória que, a ser verdade o ataque de mísseis, é um feito notável para a tecnologia ucraniana e que, certamente, vai entusiasmar a resistência contra o invasor russo.
Fontes americanas não confirmaram a reivindicação ucraniana, afirmando apenas que houve uma “explosão significativa” no navio e que deu origem a um “incêndio significativo”. Os jornais americanos de referência usam as palavras afundamento, explosão e perda, para referir o que se passou, sem se referirem a qualquer acção ucraniana e sem grande destaque jornalístico, apesar de se tratar do mais relevante acto de guerra acontecido até agora.
Com ou sem a intervenção de mísseis, este episódio é uma grande vitória ucraniana e um dolorosa derrota russa. Curiosamente só o jornal Público e dois jornais italianos publicam a notícia com fotografia do navio em primeira página, mas o jornal português destaca-se por ser o único jornal que afirma que “ataque ucraniano afundou o Moskva”.
É caso para dizer que é mais papista do que o Papa.