O plenário da
Câmara dos Deputados brasileira aprovou ontem a abertura do processo de
destituição da Presidente Dilma Rousseff por 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções
e 2 ausências, numa sessão marcada por grandes protestos e por dura troca de
acusações. Muitos milhares de brasileiros assistiram àquele espectáculo que foi
transmitido por todo o país em écrans gigantes, num ambiente mais próximo do
futebol e do carnaval do que da gravidade política da situação. A generalidade da imprensa
brasileira, caso do Estado de S. Paulo, alinhou nessa onda de euforia pelo avanço
do impeachment, mas nos jornais
estrangeiros há um clima de apreensão pelo que pode acontecer no futuro, com a
proximidade dos Jogos Olímpicos, a recessão económica e a crise generalizada, o
que pode dar origem a uma grave situação política e social de radicalização e
de contornos imprevisíveis.
No estrangeiro há sempre muita
dificuldade em perceber o que se está a passar porque existe um grave problema
interno no Brasil, que só os brasileiros poderão compreender e resolver. No
entanto, a decisão dos deputados parece ser uma decisão desproporcionada e que
abre o caminho não só à destituição da Presidente eleita do Brasil, mas também
ao descrédito internacional do país e ao desprestígio das suas instituições. Para
um português, que é um estrangeiro especial porque fala a mesma língua dos
brasileiros, que compreendeu o que foi dito e que ouviu a gritaria e os
insultos dos deputados, a dificuldade ainda é maior porque sabe que cerca de
60% dos deputados presentes na sala, incluindo o seu presidente Eduardo Cunha,
têm causas pendentes na Justiça, algumas delas bem graves. Ninguém vai achar
normal esta forma brasileira de deitar abaixo os seus Presidentes eleitos pelo
povo: ontem foi Collor de Mello, hoje é Dilma Rousseff. Aqueles deputados foram longe de mais. A imprensa internacional está estupefacta. Ninguém compreende aquele julgamento político.
A partir de agora os amigos
do Brasil ficam muito apreensivos com o que se possa passar.