terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Uma grande vitória para Mário Centeno

O Ministro Mário Centeno foi ontem eleito para presidir ao Eurogrupo, um grupo informal dos Ministros das Finanças dos Estados-membros da União Europeia cuja moeda oficial é o euro, que se reune mensalmente para ajustarem a coordenação das suas políticas económicas. Assim, a partir do próximo dia 13 de Janeiro, Mário Centeno substituirá o holandês Jeroen Dijsselbloem e desempenhará a função de presidente do Eurogrupo nos próximos dois anos e meio.
É um motivo de satisfação para Portugal e um enorme elogio para a política orçamental portuguesa e, sobretudo, para Mário Centeno. Ele é um dos raros portugueses doutorados em Harvard, por acaso a primeira ou segunda melhor universidade do mundo na área económica e, por isso, tem uma qualidade académica bem diferente da ignorância exibida por outros economistas que por aí circulam. O Finantial Times, em título de primeira página, escreveu que "Centeno wins race to be eurogroup head" e começa a noticia da seguinte maneira: "Harvard educated economist Mario Centeno...". Portanto, a sua eleição é o reconhecimento da credibilidade do governo portugués e da forma como foi preparada a candidatura, mas também da qualidade académica do candidato, um aspecto que por cá tem sido muito pouco salientado.
Muitos políticos e comentadores, provavelmente dominados pela tradicional inveja lusitana, têm posto em causa esta escolha, duvidando da capacidade de se ser, simultaneamente, presidente do Eurogrupo em Bruxelas e ministro das Finanças em Portugal. Porém, Mário Centeno tem respondido a esses profetas, que até parece que gostavam que as coisas corressem mal para por uma vez terem razão, com a sua sobriedade habitual e até garantiu que o seu novo cargo nada muda na relação com os parceiros parlamentares portugueses. A escolha de Centeno é uma valente bofetada em Cavaco Silva, Passos Coelho, Marques Mendes, Carlos Costa e nessas figurinhas menores que são Teodora Cardoso e Maria Albuquerque, porque todos eles desconfiaram da capacidade de Centeno, ao contrário de Merkel e de Macron. Grande Centeno!
Independentemente dessas vozes “que não chegam ao céu”, o facto é que com Mário Centeno a presidir ao Eurogrupo, a imagem e a credibilidade de Portugal no mundo melhoram consideravelmente e o país bem precisa disso, depois de vários anos em que se deixou humilhar.
Wolfgang Schäuble tinha razão: Mário Centeno é mesmo o “Ronaldo do Ecofin”.

O Brexit é mais difícil do que se pensava

Num referendo realizado em Junho de 2016 verificou-se que 51,9% dos britânicos votaram pela saída da União Europeia, pelo que governo iniciou um processo de negociações conhecido por Brexit. Nesse processo, as dificuldades têm sido enormes, não só pela estreita margem de votos que levou à decisão de saída, mas também pelas diferentes opções dos quatro “países constituintes” do Reino Unido, respectivamente a Escócia, Gales, a Inglaterra e a Irlanda do Norte.
Ontem, numa reunião em Bruxelas encontraram-se o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker e a Primeira-Ministra britânica Theresa May, tendo como agenda a discussão do futuro dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e dos britânicos que vivem na União Europeia, isto é, as questões da livre circulação de pessoas e mercadorias, bem como o futuro do livre comércio.
Porém, acontece que na única fronteira terrestre do Reino Unido, que separa a República da Irlanda da Irlanda do Norte, poderão vir a ser reinstalados os normais controlos fronteiriços, o que altera substancialmente a vida dos cidadãos da Irlanda do Norte, que até votaram maioritariamente contra o Brexit. Daí que se procure um estatuto de excepção para a Irlanda do Norte diferente do resto do Reino Unido, mas essa solução foi vetada pelo DUP (Democratic Unionist Party) que é o quarto maior partido britânico e que suporta o governo de Theresa May, que não aceita qualquer solução que afaste Belfast de Londres. Porém, essa hipótese de estatuto de excepção e de permanência no mercado único agrada aos que estiveram e estão contra o Brexit, sobretudo os escoceses e a cidade de Londres, que votaram maciçamente pela permanência na União Europeia. Com este imbroglio, Theresa May saíu derrotada e humilhada. Não houve acordo e essa foi a notícia do dia da imprensa britânica. Entretanto, muitos britânicos, com Tony Blair à cabeça, pedem um segundo referendo porque "as pessoas têm o direito de mudar de ideias".