Há pouco tempo,
na sua descarada campanha de propaganda, o governo vangloriava-se por aquilo a
que chamou saída limpa, pois o programa
de ajustamento económico-financeiro conduzido pela troika tinha sido um sucesso, mas muitas declarações então
produzidas cobrem agora de ridículo os seus autores, pelo menos aqueles que
ainda têm vergonha na cara. Nesse campo do ridículo destacou-se o irrevogável ministro
que até instalou um relógio na sede do seu partido para assinalar o tempo que
faltava para o restauro da nossa soberania, comparando-a com o restauro da nossa
independência em 1640. Era tudo arrogância e auto-satisfação. Os vícios do
anterior governo estavam corrigidos. A credibilidade externa do país estava
recuperada. Os famosos mercados estavam rendidos à eficiência lusitana. Os juros
da dívida baixavam continuadamente. A economia dava sinais de recuperação e só
as exportações não ajudavam por causa dos trabalhos de manutenção na refinaria
de Sines.
Três anos depois
da chegada da troika, a realidade começou a
ver-se com clareza e a decepção é completa, pois não só se agravaram as principais
variáveis macroeconómicas, como o nosso tecido social se degradou enormemente. Acusaram-nos
de vivermos acima das nossas possibilidades e decidiram empobrecer-nos,
enquanto o seu novo-riquismo pacóvio tem esbanjado os nossos impostos, com as
suas multidões de assessores, os seus carros pretos de alta cilindrada e as
suas viagens faraónicas. A dignidade e a independência nacionais foram violadas
perante a passividade dos nossos governantes. A necessária reforma do Estado
ficou na gaveta. A base social de apoio do governo é cada vez mais estreita. Os
recentes ataques feitos ao Tribunal Constitucional são um mau exemplo de
convívio democrático e revelam que os nossos governantes não se sabem dar ao
respeito.
Hoje, os jornais
dizem que “cortes salariais regressam
para 400 mil” (Jornal de Notícias), que “carta
ao FMI promete mais rescisões no Estado” (Diário de Notícias) e que “governo quer novos cortes na função pública
já em Agosto” (Jornal i).
Esta gente andou
a enganar-nos e só nos lembramos d’Os
vampiros de Zeca Afonso porque, tal como acontecia antigamente, eles comem tudo, eles comem tudo, eles
comem tudo e não deixam nada.