quinta-feira, 30 de maio de 2013

Gaspar já sacode a água do capote



Esta semana a OCDE veio lançar nuvens muito negras sobre o nosso futuro ao prever que Portugal não atingirá as metas governamentais do défice público em 2013 e 2014, para além de apresentar previsões mais pessimistas para o consumo privado, o investimento e a dívida pública. No mesmo sentido se pronunciou a Comissão Europeia ao estender por mais um ano o período para fazer baixar o défice abaixo dos 3%. 
Ora, neste quadro de notícias nada animadoras em que a economia se afunda e a vida de milhões de portugueses se está a transformar num desgastante calvário, o verdadeiro responsável por este desastre veio dizer que o Memorando que rege o nosso programa de ajustamento “foi mal negociado”. Só agora, ao fim de dois anos, ele viu isso! Onde estava ele quando foi dito “este é o nosso programa”? Ou quando o nosso primeiro dizia que “queremos ir para além da troika”? Será que não ouviu o seu colega Catroga vangloriar-se porque a negociação com a troika “foi essencialmente influenciada” pelo seu partido? Ou que não ouviu Lobo Xavier e Pacheco Pereira a afirmarem que foi o seu partido que forçou a vinda da troika? Se ele tivesse andado noutra escola teria aprendido a frase de Bento de Jesus Caraça que está afixada no átrio do ISEG: “se não receio o erro é porque estou sempre pronto a emendá-lo”. Porém, ele não reconhece o erro e teimosamente insiste e não se emenda. Esconde-se das evidências e, agora, “sacode a água do capote”. E para nos distrair deste enorme sarilho, recorre a um truque desapropriado, com aquele pedido de simpatia pelas semanas difíceis que tem vivido como adepto de futebol.
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Há outros ventos a soprar de Bruxelas?



A Comissão Europeia anunciou ontem, pela voz de Durão Barroso, que como consequência do diagnóstico que efectuou à situação económica dos estados-membros, decidiu recomendar o prolongamento do prazo para que seis países possam corrigir os seus défices e atingir a meta de 3%. Assim, Portugal terá que atingir um défice de 5,5% do PIB no corrente ano, depois 4,0% em 2014 e 2,5% em 2015. A Espanha terá mais dois anos para corrigir as suas contas públicas, devendo atingir este ano um défice de 6,5%, 5,8% em 2014 e 2,8% em 2016. A França, a Holanda, a Polónia e a Eslovénia também terão mais tempo para apresentar resultados. 
Esta decisão revela que a União Europeia está a passar por grandes dificuldades económicas, mas também mostra que se começa a perceber que as políticas de austeridade só têm agravado a recessão e o desemprego. Embora tardiamente, os temas do crescimento e da criação de emprego entraram no discurso oficial da Comissão Europeia e até Durão Barroso parece ter-se libertado dos diktats alemães. No final do ano de 2012, segundo o Eurostat, os 27 estados-membros da União Europeia tiveram um défice médio de 4% do PIB e houve 17 estados que ultrapassaram o limite de 3%, tendo as maiores escorregadelas sido protagonizadas pela Espanha (10,6%), Grécia (10,0%), Irlanda (7,6%), Portugal (6,4%), Reino Unido e Chipre (6,3%) e França (4,8%). A União Europeia acordou tarde, mas parece que outros ventos começaram a soprar de Bruxelas e que o desemprego tomou o primeiro lugar na agenda europeia.