domingo, 24 de abril de 2011

Reinventemos o 25 de Abril!

Hoje evoco o dia 25 de Abril de 1974 e recordo com emoção um excerto do poema de Sophia de Mello Breyner, porventura um dos mais belos que aquele dia produziu:

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo


Passaram 37 anos e o país que hoje temos não é comparável ao que tínhamos em 1974. Não temos guerras. Temos liberdade. Vivemos muito melhor, sabemos muito mais e temos mais saúde. Por isso, viva o 25 de Abril!
Porém, neste percurso democrático por que temos caminhado e que transformou o país, acumularam-se muitos erros. As pessoas deslumbraram-se e muitas pensaram que o progresso era um facto natural e irreversível. Exigiram os seus direitos e esqueceram os seus deveres. Consumiram o que tinham e o que não tinham. Endividaram-se e não pouparam. Os partidos políticos não cumpriram com a sua missão de procurar o bem comum. Tornaram-se agências agregadoras de mediocridades e de clientelas. Muitos dirigentes em vez de servirem a coisa pública, serviram-se dela. A Escola tornou-se um emprego e a Justiça passou a ser uma corporação de interesses. Os servidores do Estado perderam a noção de serviço público. A coesão social está ameaçada. A corrupção alastra em todas as suas formas.
Neste quadro complexo, afirmava recentemente Otelo Saraiva de Carvalho, o estratega do 25 de Abril, que “se soubesse como o país ia ficar, não teria realizado o 25 de Abril”. Não concordo com ele. O 25 de Abril valeu a pena e eu continuo a orgulhar-me dele. Os portugueses merecem-no no seu significado “inteiro e limpo”. Há que denunciar e afastar os dirigentes medíocres, gananciosos e desonestos que, em nome do 25 de Abril, se instalaram nos diferentes estratos do poder nacional, regional e local. É preciso reinventar o 25 de Abril e recuperar os seus ideais.