quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Um novo livro de Cavaco? Não, obrigado!

Aníbal Cavaco Silva lançou ontem um livro a que chamou Quinta-feiras e outros dias, mas os jornais não lhe deram qualquer importância, à excepção do jornal i que aproveitou a oportunidade para entrar no jogo do autor e para o ajudar a vender alguns livros. Porém, as imagens televisivas da sessão de apresentação mostram que Cavaco tem muitos admiradores, incluindo aqueles que gostam de aparecer e de ser vistos nestas coisas.
Eu não li, nem vou ler o livro porque, segundo observei num comentário crítico, são 500 e tal páginas “sem uma ideia, sem um pensamento sobre a situação e o futuro de Portugal “, mas também porque durante a sua leitura não me sairia da cabeça a figura auto-convencida e sempre angustiada do autor, ora a engolir bolo-rei, ora a espumar pela boca, ora a dizer aos portugueses que podiam confiar no BES. Além disso, um homem que uma vez afirmou que “nunca me engano e raramente tenho dúvidas” não merece o estatuto de académico que usa, nem que se perca tempo com a literatura de cordel a que parece ter-se dedicado. Por isso, limitei-me a ler algumas das críticas em que é salientado que “a vaidade paroquial do homem não tem medida”. Deve ser isso.
Na realidade, para quem tem um confortável gabinete no antigo convento do Sacramento, que foi preparado e é pago pelo Estado, não se esperava que produzisse literatura de tão desolador vazio. Tratando-se do político que mais tempo esteve no poder no Portugal democrático, o que se esperava dele era uma obra de reflexão sobre o mundo e sobre o nosso país, que apontasse caminhos e nos ajudasse a pensar o futuro em relação à economia, ao ambiente, à cultura e a tantos outros sectores, mas em vez disso, parece que o ex-presidente que veio de Boliqueime, se dedicou a um exercício de intrigalhada política e de exibição de vaidades pessoais.
O que nos interessa o que Cavaco pensa sobre Costa, sobre Passos ou sobre Portas? Se Eça de Queirós ou Almada Negreiros fossem vivos, bem teriam matéria inspiradora para recriar o Conselheiro Acácio ou um novo Dantas.