terça-feira, 14 de abril de 2020

A Venezuela do excêntrico Nicolás Maduro


Ontem foi celebrado em Caracas o 18º aniversário da tentativa de golpe de estado organizado em 2002 por sectores militares da extrema-direita venezuelana contra o presidente Hugo Chávez, que chegou a ser detido pelos revoltosos, mas essa tentativa foi derrotada ao fim de 47 horas. A derrota dos seus opositores e o estilo populista de Hugo Chávez tornaram-no um presidente poderoso que impôs um regime de tendência autoritária em nome do bolivarismo, que acentuou a sua hostilidade para com os Estados Unidos e a aproximação a Cuba, até que a morte o levou. O seu vice-presidente, que em 2013 foi eleito como seu sucessor, foi Nicolás Maduro que se tornou o presidente da República Bolivariana da Venezuela e se declarou herdeiro político de Hugo Chávez.
Nicolás Maduro é um dos dirigentes mais excêntricos que o mundo conhece e, como é sabido, dirige um país que atravessa grandes dificuldades económicas e sociais, além de uma grande turbulência política interna. O que se passa na Venezuela é mau demais e é difícil de compreender, porque as informações que nos chegam, a favor ou contra Maduro, estão viciadas pela propaganda e pelo preconceito ideológico.  
Porém, as festividades ontem realizadas no Dia de la Milicia Bolivariana e que hoje são destacadas pelo diário Últimas Notícias, são uma boa ajuda para perceber o regime venezuelano que Maduro encabeça. Disse ele, segundo destaca aquele jornal de Caracas:
“Declaro que hoy 13 de abril de 2020 la Milicia Nacional Bolivariana ha llegado a 4 millones 156 mil 567 milicianos y milicianas. Cuándo la Fanb tenía una fuerza de reserva tan poderosa?”.
Então não é que num país de 28 milhões de habitantes, há uma força paramilitar com mais de quatro milhões de milicianos e milicianas que, segundo Maduro, estão prontos e mobilizados para cumprir tarefas de “salud, alimentación, inteligencia y adiestramiento”? Esta Milicia Nacional Bolivariana está, desde Fevereiro, formalmente integrada nas Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, mas as suas funções de “inteligencia y adiestramiento” são muito preocupantes, sobretudo para quem conhece o historial desse tipo de organizações.

Nova Iorque: há uma luz ao fundo do túnel

Segundo os últimos números que são conhecidos sobre o covid-19, os Estados Unidos registam os máximos mundiais, quer no número de infectados (587.337), quer no número de óbitos (23.649), estando o centro da pandemia centrado no estado de Nova Iorque, onde só a cidade de Nova Iorque regista 104.410 casos registados e, pelo menos, 6.898 óbitos.
No estado de Nova Iorque há quase dez vezes mais casos de infecção por covid-19 do que na Califórnia, que é o estado mais populoso dos Estados Unidos. Feita a comparação do número de infectados por cem mil habitantes, verifica-se que Nova Iorque regista 800 enquanto a Califórnia regista pouco mais de 50, o mesmo acontecendo com o número de óbitos cuja relação é de um para 16. A explicação deste diferencial está na forma como os dois estados tomaram ou não tomaram medidas de prevenção, porque se a Califórnia tomou as medidas aconselhadas como o confinamento e o distanciamento social, em Nova Iorque demorou-se demasiado tempo a perceber a gravidade da situação.
Porém, ontem ouviu-se Andrew Cuomo, o governador do estado de Nova Iorque, a considerar que, apesar da pandemia do covid-19 já ter ultrapassado a barreira dos dez mil óbitos no seu estado, o pior já tinha passado pois, pela primeira vez numa semana, o número de óbitos baixou para níveis inferiores a 700. Trata-se, naturalmente, de um anúncio muito encorajador, até porque na Europa também se começam a observar sinais de regressão ou de desaceleração do número de novos infectados e de óbitos, ao mesmo tempo que se anunciam algumas medidas para a retoma da actividade económica.  Que seja a luz ao fundo do túnel porque todos ansiamos.