sexta-feira, 27 de maio de 2016

Revisitando o nosso Portugal

Um amigo muito próximo partiu há muitos anos para o Brasil, levando uma âncora na bagagem e no espírito. Por lá constituiu família e criou filhos e netos, que são ao mesmo tempo portugueses e brasileiros, lutou pela vida e ocupou com sucesso diversos cargos de relevo social, entre os quais se incluiram funções consulares numa cidade do Paraná.
Porém, a sua permanência em terras brasileiras e o seu enraizamento cimentado ao longo de algumas dezenas de anos, não o fez esquecer os seus sentimentos de saudade da terra e dos amigos e, por isso, de vez em quando mete-se num avião e vem revisitar o nosso Portugal.
Voltou a fazer isso agora e teve a iniciativa de convocar uma dezena dos seus velhos amigos para um encontro almoçarista num hotel sobranceiro ao mar, numa praia do nosso litoral Oeste. Nenhum desses amigos esteve indisponível e todos foram abraçar o LBJ. Foi um encontro cheio de alegria e com algumas emoções à flor da pele, com muitos abraços e mil histórias, que até teve alguns discursos e algumas lágrimas. Que a saúde e a saudade não te faltem para que possas voltar sempre.

A tempestade perfeita ameaça a Europa

Há poucas horas atrás, deram a volta ao mundo as imagens do acidente ocorrido com uma embarcação no mar Mediterrâneo, em que foi possível salvar 562 pessoas. Hoje, vários jornais da imprensa italiana destacam uma outra fotografia de um outro naufrágio e um desses jornais é o diário L’Unità que escolheu para título da sua edição de hoje “il naufragio dell’Europa”.
Realmente, o que se está a passar na Europa é cada vez mais um cenário de naufrágio ou de “tempestade perfeita”, com imensos problemas económicos, sociais e demográficos, com uma economia sem competitividade, com muitos milhões de desempregados e com grande instabilidade social em alguns países, com graves atropelos à solidariedade comunitária e com ameaças à democracia e até à paz, enquanto meia dúzia burocratas incapazes se pavoneiam todos os dias em frente das câmaras de televisão. O problema dos refugiados não é encarado com frontalidade e no meio desta bagunça, o que parece interessar são as questões financeiras, os défices e os equilíbrios orçamentais. Perante este cenário de descrença e de incerteza torna-se evidente a incapacidade de Merkel, Hollande e Cameron, ao mesmo tempo que emergem figurinhas de segundo plano, sem visão estratégica e sem qualquer ideia do projecto europeu, alguns deles sem qualquer legitimidade democrática, como sucede com Jeroen Dijsselbloem, Pierre Moscovici, Wolfgang Schäuble ou Donald Tusk. O presidente Jean-Claude Juncker desapareceu e Federica Mogherini, a High Representative of the Union for Foreign Affairs and Security Policy, chora demasiadas vezes. No meio deles, o pequeno e irrelevante Moedas é bem o símbolo da pequenez e da forma como vive a Europa, num ambiente a lembrar-nos o filme the perfect storm.