A última edição
da revista Veja mostra na sua primeira página um crocodilo de boca aberta
pronto para abocanhar o Estado brasileiro, aproveitando a mandímbula superior
para desenhar os gastos do governo (ascendentes) e a mandíbula inferior para
desenhar o crescimento do PIB (descendente). Na sua simplicidade, o problema
está bem apresentado, isto é, a despesa crescente do Estado não pode ser
suportada por economia em recessão.
Acontece que nas
sociedades modernas o Estado é chamado a cumprir as funções de soberania, mas
também outras funções económicas e sociais, estando presente em todos os
sectores da sociedade desde a segurança à defesa, passando pela justiça, saúde,
educação, obras públicas, economia, solidariedade e segurança social, cultura,
entre muitas outras. Para fazer face a todas estas funções o Estado faz muita
despesa e, porque as necessidades tendem a aumentar, a despesa também tende a aumentar.
É portanto necessário que a economia crie mais riqueza, para poder proporcionar
ao Estado o recebimentro de mais impostos directos e indirectos.
Porém, o Brasil
atravessa um período de recessão e, por isso, o PIB diminui em vez de aumentar.
Vem a receita do costume: reduzir despesas e aumentar impostas e taxas. Além disso, vem também a desvalorização
da moeda, para que as importações sejam mais caras e as exportações sejam mais
baratas. Assim está a ser feito. Há um ano o dólar valia R$ 2,39 e, conforme
titulam os jornais de 23 de Setembro, agora o dólar ultrapassa os R$ 4,00:
“Dólar atinge R$4,05, a maior cotação da história do Real (Estado de S. Paulo), “Dólar bate recorde e cai a R$ 3,99” (O Globo) ou “Dólar é vendido até R$ 4,56
na capital baiana” (A Tarde). Uma desvalorização de 67% em relação ao dólar, apenas num ano! Cerca de 5% ao mês.
Esta situação não
pode deixar de causar apreensão aos portugueses pelas suas ligações familiares
e emocionais ao Brasil, mas também obriga muita gente deste lado do Atlântico a pensar nas
vantagens/desvantagens de estarmos integrados na Zona Euro e não podermos usar
o mecanismo da desvalorização da moeda.