A situação na
Venezuela continua muito tensa, embora a imprensa venezuelana não exprima essa
tensão talvez porque, desde há muitos anos, está habituada ao clima de instabilidade
que agora se vive no país e o facto de haver dois presidentes, nem parece perturbá-la. As imagens que nos chegam
pela televisão não são suficientemente esclarecedoras, porque o que se passa
nas ruas de Caracas não é diferente do que vamos vendo em Atenas, Paris ou
Barcelona. As imagens da abertura do ano judicial e da tomada de posição das
chefias militares, até parecem mostrar que a vida política venezuelana decorre
com toda a normalidade e que a instabilidade anunciada é uma construção
mediática com origem nas agências internacionais que combatem o chavismo.
O que sabemos é
que meio mundo está contra Maduro e que reconhece o jovem Guaidó como o
presidente da Venezuela, mas é evidente que foram os incentivos de Trump e
Bolsonaro que levaram à radicalização de posições. A União Europeia tem
uma posição mais equilibrada e pede eleições livres e justas, enquanto o regime
de Maduro, que tem o apoio da Rússia e da China, mas também de outros países, acusa
Guaidó de estar à frente de um golpe com a cumplicidade americana.
Neste quadro, ninguém quer perder e, uma vez mais, lá estão confrontados os grandes interesses estratégicos e económicos dos senhores do costume, à custa dos venezuelanos ou do petróleo venezuelano.
As Forças Armadas
da Venezuela já expressaram o seu apoio a Nicolás Maduro, mas o jornal colombiano El
Observador pergunta hoje se esse apoio é firme. Essa pergunta parece
insinuar que os militares se podem dividir e isso seria trágico. De facto, na
tradição sul-americana o papel dos militares é decisivo e o que se espera é que
se mantenham coesos, que contribuam para a pacificação política e social do país e que possam
evoluir para uma posição de árbitros e de mediadores entre as duas venezuelas que
estão em rota de colisão.