Durante dois
dias, ou mais, não se falou noutra coisa e as televisões exibiram dezenas de
comentadores com as mais diversas explicações sobre o que se estava a passar
nos territórios ocidentais da Federação Russa, tendo o jornal New
York Post anunciado que “a guerra chegou às portas de Putin”.
Yrvgeny
Prigozhin, é uma figura sinistra que controla uma empresa privada de mercenários que
usa o nome de Grupo Wagner e, muitas vezes, os homens de Prigozhin foram contratados nas prisões russas. Prigozhin desafiou os poderes de Vladimir Putin e, depois de tomar o quartel-general
russo em Rostov “sem disparar um único tiro”, decidiu avançar com uma coluna
militar sobre Moscovo, chamando-lhe a “marcha pela justiça”, com o objectivo de enfrentar o
comando militar russo e a própria presidência. O mundo ficou suspenso sobre o
que se estava a passar na maior potência nuclear do planeta e que está
envolvida numa guerra na Ucrânia, que já vai longa. Putin acusou os revoltosos
de traição, mas não ordenou que os seus aviões bombardeassem a coluna de
Prigozhin, enquanto este foi declarando querer evitar o derramamento de sangue.
Ao fim de poucas
horas, devido à intervenção mediadora do presidente bielo-russo Aleksander
Lukashenko, a coluna de Prigozhin decidiu suspender a sua viagem e retroceder,
sendo depois anunciados alguns dos termos das negociações que incluiam o
“exílio” do líder do Grupo Wagner na Bielo-Rússia.
Mesmo sem saberem
exactamente o que se passava, os inúmeros comentadores portugueses e
internacionais muito discutiram se Putin ficou mais fraco ou mais forte, ou se esta situação favorecia ou não a contraofensiva ucraniana. Não ouvi os comentadores falarem da paz. Aqui, porque sabemos pouco, limitamo-nos a salientar que este “motim de Rostov”, tal como o assalto ao
Capitólio de 6 de Janeiro de 2021, são episódios sempre preocupantes, sobretudo
quando acontecem nas grandes potências com capacidade nuclear.