A notícia
apareceu na maioria dos jornais portugueses e o Jornal de Notícias
destacou-a ontem na sua primeira página: “um burlão chinês com visto dourado”.
Trata-se de um caso realmente interessante, mas que não é surpreendente nem
inesperado, pois era evidente que o visto gold
- um programa lançado no início do ano passado com grande entusiasmo e muita
propaganda pelo irrevogável ministro Portas que, dessa maneira, esperava atrair
investimento estrangeiro - poderia ter aspectos positivos, mas também ia ser um
cavalo de Tróia onde se iriam esconder actividades criminosas de ordem diversa.
Agora, quando a Polícia Judiciária deteve um indivíduo chinês que era procurado
no seu país e tinha um mandado de detenção internacional por burla, a face
obscura do problema surgiu com mais clareza pois o burlão tinha obtido
recentemente uma autorização de residência em Portugal ao abrigo dos vistos gold.
Até ao final de 2013 o Estado atribuiu 417 vistos gold que, segundo foi divulgado,
representaram um “investimento” total de 316 milhões de euros, dos quais 90% se
referiam à aquisição de imóveis. Para quem estudou muitos anos na Rua do
Quelhas, o conceito de investimento não é exactamente a aquisição de imóveis
com dinheiro que não se sabe de onde vem, mas o conceito foi apropriado e
desvirtuado por quem não tem habilitação académica nessa matéria, mas até
chegou a ministro. Nessa ganância governamental por dinheiro, até a nacionalidade
passou a ter preço!
Por cá foram poucas as
vozes que têm mostrado preocupação peloo descrédito que é a venda da
nacionalidade, mas o mesmo não aconteceu no Parlamento Europeu, onde foi
vivamente criticada a atribuição dos vistos gold
por poderem permitir a permanência e a circulação pelo espaço Schengen a todo o
tipo de gente. Este caso vem provar que, na sua ânsia de protagonismo, o
irrevogável abriu portas a quem não devia. Afinal, como era de esperar, deu mais um
tiro no pé.