A situação ucraniana tem evoluido de forma muito
rápida e, aparentemente, tende a entrar na normalidade, depois de três meses de
grande contestação e de algumas dezenas de mortes resultantes dos violentos confrontos
ocorridos em Kiev. As barricadas da Praça da Liberdade foram levantadas e deram
lugar às homenagens aos mortos, enquanto o Presidente Viktor Yanukovych abandonou as suas sumptuosas residências
e está desaparecido. Os
grandes jornais internacionais têm acompanhado a situação, mostrando as
barricadas, os incêndios e os feridos, ao mesmo tempo que anunciam “o fim da
ditadura” e a “primavera ucraniana”. Da mesma forma, também os jornais
ucranianos acompanham a situação, como acontece com o Vecherniye Vesti (Вечерние Вести), um importante jornal de língua russa que se publica em Kiev,
que foi crítico em relação ao poder de Yanukovych e que se diz ser controlado
pela antiga primeira-ministra Yulia Tymoshenko. A capa da sua última edição mostra
a homenagem aos mortos com as flores e as lágrimas, mas também a polícia, uma
estátua derrubada de Lenine e, naturalmente, as duas figuras mais mediáticas
desta crise: Viktor Yanukovych e Yulia Tymoshenko.
O poder mudou de mãos em Kiev, mas a queda do ditador Yanukovych não foi o fim do autoritarismo nem da crise, porque a
aliança das forças oposicionistas foi conjuntural e não é consistente. A Europa
rejubila com a mudança, mas a Rússia ameaça não reconhecer a nova situação. Naturalmente, como
sempre acontece nestas mudanças revolucionárias, nos próximos tempos haverá
avanços e recuos. Os riscos de desintegração da Ucrânia continuam a ser muito elevados,
não só pelas diferenças culturais e línguísticas entre a parte oriental
pró-russa e a parte ocidental pró-europeia, mas também pela atitude da Crimeia,
uma república autónoma que é maioritariamente russófona, onde se localiza a
base de Sebastopol e a frota russa do Mar Negro. A guerra civil ou a desintegração não
sairam da agenda das preocupações e, assim, vamos continuar a ouvir falar da
Ucrânia.