Os porta-vozes
do governo têm utilizado a palavra ténue para classificar os sinais positivos
de recuperação económica que se estarão a verificar. De facto, ainda não se
vislumbram sinais inequívocos de uma retoma económica sustentada, apesar do
país ter saido da recessão em que estava mergulhado desde finais de 2010, da produção
nacional ter crescido no segundo e no terceiro trimestres de 2013 e do
desemprego ter diminuido ligeiramente, ao mesmo tempo que as exportações e o
turismo têm registado um comportamento favorável. Ontem foram conhecidos mais
alguns sinais que apontam para a referida recuperação económica ténue, através
da divulgação das estatísticas das vendas de automóveis ligeiros de passageiros
em 2013.
De acordo com
a Associação Automóvel de Portugal (ACAP), o número de veículos
comercializados em 2013 totalizou 113 435 – entre ligeiros de passageiros,
comerciais ligeiros e veículos pesados (camiões e autocarros) – mas esse número
ainda ficou abaixo de metade das mais de 275 mil unidades que se comercializavam
anualmente em Portugal antes da crise. Porém, depois das vendas terem batido no fundo em 2012, este ano iniciou-se uma
ligeira recuperação com uma subida
de 11,7%, o que representou a comercialização de mais 13 249
veículos do que no ano anterior, em que se verificara uma queda anual de quase
41%.
Porém, as
estatísticas da ACAP revelam um paradoxo que resulta da política de enriquecer
os ricos e de empobrecer a classe média: a crise no sector automóvel não
afectou a venda de carros de luxo que aumentou 23,3%, com as marcas Porsche,
Jaguar, Lexus, Aston Martin, Ferrari, Bentley, Lamborghini e Lotus a venderem
632 veículos, isto é, mais 120 unidades do que em 2012. Outro dado curioso
refere-se à marca BMW que vendeu 7629 unidades, número que se traduziu num aumento de 20% face a 2012 e levou
esta marca à sua melhor quota de mercado de sempre (7,2%) e a manter-se na 4ª
posição no ranking das marcas de
automóveis ligeiros de passageiros mais vendidos em Portugal, depois da Renault,
da Volkswagen e da Peugeot. Estes números só mostram que a crise não é para
todos e deviam fazer corar de vergonha os nossos governantes.