segunda-feira, 21 de março de 2022

O Saara Ocidental, a Polisário e Marrocos

O Saara Ocidental é um território litoral atlântico situado a sul de Marrocos, a norte da Mauritânia, limitado a ocidente pelo oceano Atlântico e a oriente pela Argélia e pela Mauritânia. É uma região desértica com cerca de 260 mil quilómetros quadrados de extensão e com cerca de seiscentos mil habitantes, mas que é rica em recursos naturais, principalmente fosfatos e pescas. 
Até 1975 foi uma colónia espanhola, tendo sido então iniciada a descolonização do seu território nos termos preconizados pelas Nações Unidas. O Acordo de Madrid assinado pela Espanha, Marrocos e Mauritânia, estipulava uma administração tripartida do território e em 1976 a Espanha abandonou o território. De imediato, a Frente Polisario (Frente Popular de Liberación de Saguia el Hamra y Rio de Oro), que já lutara contra o regime colonial espanhol, declarou a independência da República Árabe Saaraui Democrática. O Reino de Marrocos reagiu e ocupou militarmente uma grande parte do território e construiu um muro com mais de 2.740 quilómetros de extensão para isolar os separatistas saarauis, enquanto a Mauritânia se retirou do território. A partir de então e com o apoio da Argélia, a Frente Polisário iniciou uma guerra contra Marrocos e, apesar da desproporção de forças, conseguiu manter a sua luta até 1991, quando foi conseguido um cessar-fogo. Durante anos o processo de paz não vingou porque a presença militar marroquina se reforçou, o que originou muitas manifestações civis do povo saaraui que foram reprimidas com violência. A Espanha, enquanto potência administrante, sempre exigiu um referendo para que o povo saaraui escolhesse o seu destino, ao que Marrocos sempre se opôs, pelo que havia uma persistente tensão entre os governos espanhol e marroquino.
Agora, inesperadamente, o governo espanhol mudou de posição e parece aceitar que o Saara Ocidental venha a fazer parte do Reino de Marrocos, ao acolher uma proposta de autonomia apresentada pelos marroquinos, como ponto de partida para a resolução do conflito. Esta posição espanhola que não está de acordo com as orientações das Nações Unidas, foi criticada pela Argélia e pela China, mas também pela oposição espanhola que considera esta posição uma “traição histórica” ao povo saaraui. O jornal El Mundo que se publica em Madrid, diz mesmo que Sánchez "entrega el Sáhara 46 años después".