segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O pequeno caceteiro que veio de Bruxelas

O licenciado Paulo Rangel nasceu em 1968 e, segundo reza a sua biografia, entrou na política aos 33 anos de idade quando em 2001 lhe confiaram a redacção do programa de candidatura de Rui Rio à Câmara Municipal do Porto. Gostou da experiência, encostou-se aos amigos e, em vez de escolher uma carreira académica, optou por ocupar alguns bons tachos, misturando funções públicas com funções privadas. Em 2010 já se sentia alguém e decidiu disputar a liderança do PSD, mas como perdeu o confronto com Passos Coelho foi compensado com um tacho de eurodeputado muito bem remunerado em Bruxelas. Foi nessa condição que foi convidado para essa magna reunião de escoteiros sociais-democratas a que, pomposamente, chamam a universidade de verão do PSD.
Pois foi esta figurinha menor, este pateta e este verdadeiro caceteiro que nos veio dizer que foi o actual governo que tratou de confrontar um ex-primeiro-ministro e um banqueiro com a Justiça, ao afirmar com os dedos no ar que estes dois casos só estão a acontecer porque o PSD e o CDS estão no governo. Nestas condições e, ainda segundo o caceteiro-pateta Rangel, a acção da Justiça tem sido encaminhada e interpretada à luz dos desejos do PSD e do CDS, porque ninguém “acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro-ministro sob investigação”, isto é, a Justiça só investiga políticos quando os seus partidos não estão no governo e, portanto, a Justiça não passa de uma qualquer coisa comandada pelo governo. É triste vermos um jurista e eurodeputado, alucinado e fanático, a dizer isto. É um ignorante. É uma vergonha da nossa Democracia.
Assim, ainda segundo o referido caceteiro-pateta, temos Sócrates a ser investigado porque é do PS; temos Passos a não ser investigado no caso Tecnoforma e nas dívidas à Segurança Social porque é do PSD que está no governo; temos Portas a não ser investigado no “caso dos submarinos” porque o CDS também está no governo; temos Vara condenado no processo “Face Oculta” porque é do PS; temos Miguel Macedo a não ser constituído arguido no caso “vistos gold” porque é do PSD; temos Marco António Costa que ainda não foi constituído arguido no “caso Câmara de Gaia” porque o PSD está no governo ; e temos Dias Loureiro e toda a malta do BPN a circularem livremente por aí sem investigação, porque são do PSD. Das declarações do eurodeputado Rangel não se pode concluir outra coisa e, portanto, como diria o treinador Manuel Machado, “um imbecil é sempre um imbecil”.

Gibraltar e tanta economia paralela

Gibraltar é uma península situada a sul da península Ibérica e um rochedo a que os espanhóis chamam el Peñón, é um território britânico ultramarino e, também, um paraíso fiscal. Foi ocupado em 1704 por uma força anglo-holandesa durante a Guerra da Sucessão Espanhola e, no Tratado de Utrecht assinado em 1713, o território foi cedido à Inglaterra com a "a total propriedade da cidade e castelo de Gibraltar, junto com o porto, fortificações e fortes [...] para sempre, sem qualquer exceção ou impedimento”.
Está com este estatuto desde há 300 anos. Porém, as cedências ou as ocupações territoriais resultantes das guerras ou dos respectivos tratados de paz, mais tarde ou mais cedo geram processos de contestação, sobretudo quando não se verifica uma autêntica integração ou quando as correlações de forças se alteram. A Espanha tem reivindicado continuamente a devolução de Gibraltar e essa contestação até tem dado origem a alguma tensão diplomática. O Reino Unido já promoveu referendos em 1967 e em 2002, para que os cerca de 30 mil gibraltinos decidam do seu futuro, mas estes têm declarado quase unanimemente que querem ser colónia britânica. Parece um paradoxo, mas não é.
Gibraltar perdeu o valor estratégico de outros tempos, mas é um gigantesco shopping center, um verdadeiro mundo da economia paralela e a verdadeira capital do jogo on line, que é um dos seus grandes negócios.  Hoje o jornal ABC tenta mostrar o que Gibraltar esconde e afirma que “como todos los paraísos fiscales, Gibraltar está lleno de secretos”. Assim é de facto. Não se sabe quantos estrangeiros lá trabalham, mas estima-se que esse número se situe entre 3500 e 10 mil, sobretudo espanhóis residentes em Espanha. Porém, só 120 espanhóis têm emprego legal declarado pois os outros milhares que entram e saem todos os dias preferem ser “clandestinos e precários”, podendo ter outro emprego em Espanha ou receber qualquer tipo de subsídio, eventualmente de desemprego. As autoridades fiscais espanholas estão em vias de “cercar” esses milhares de espanhóis empregados nas companhias de jogo, nas empresas financeiras e de entretenimento, mas também os inúmeros profissionais liberais, sobretudo da área da saúde, que defraudam o fisco espanhol. Enquanto isto, como refere o ABC, os “colonialistas” gibraltinos exploram os seus “colonos” espanhóis.

O Brasil, a recessão e os dias cinzentos

O Brasil que é o país da alegria e do sol tropical, vive dias cinzentos, depois de ter sido anunciado que no 2º trimestre de 2015 o seu PIB caiu 1,9% e, como no 1º trimestre tinha caido 0,7%, em termos económicos o país entrou em recessão pois registou dois trimestres consecutivos em queda. Todos os jornais brasileiros destacaram esta notícia que é preocupante para a sociedade brasileira que, actualmente, passa por grandes dificuldades económicas e por alguma convulsão política, com muitas manifestações e muitos dos seus dirigentes a contas com a Justiça. O Correio Braziliense exagera e até diz que o Brasil está em queda livre! Porém, para quem está longe e não conhece as especificidades brasileiras, esta recessão (económica) também parece corresponder a uma depressão (psicológica), pois o país não é apenas afectado pela queda do PIB, pelo desemprego e pela inflação, mas também pela insatisfação política e pela corrupção.
Em relação ao PIB há que pensar no chamado ciclo económico, isto é, nas flutuações da actividade económica, em que aos períodos de crescimento se sucedem os períodos de estagnação ou mesmo de declínio. Esses ciclos são tão normais que foram teorizados e até receberam nomes - o ciclo de Kondratiev, o ciclo de Kitchin, o ciclo de Kuznets – consoante as suas características e a sua duração. Portanto, o Brasil está numa baixa a que se irá suceder, embora não se saiba quando, uma alta. É a lei da vida. Porém, o Brasil também vive um período político que não foi satisfatoriamente resolvido nas eleições presidenciais de 2014, porque a vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves foi escassa (51,29%), o que faz com que os brasileiros já levem mais de uma dúzia de anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e isso, provavelmente, cansa-os. Isto tudo acontece quando a China treme, quando a Europa se revela incapaz de resolver os seus problemas e quando o preço do petróleo cai e o comércio internacional desacelera. Finalmente, há a questão da corrupção e temos a Transparency International a classificar o Brasil como o 69º país mais corrupto do mundo, entre os 175 países avaliados. Mas, segundo a mesma agência a corrupção é muito maior, por exemplo, na Argentina, na Rússia, na Índia e na China e em mais de uma centena de outros países. Por tudo isso, se deseja que os brasileiros resistam aos títulos dos seus jornais que, por razões que só eles conhecem, estão a tender para o dramático. Vá-se lá saber porquê. Força Brasil!