sexta-feira, 25 de junho de 2021

A tensão à volta do caso da Crimeia

Perante a grave crise que atravessava, em 1985 o Partido Comunista da URSS elegeu Mikhail Gorbachev para seu secretário-geral, encarregando-o de promover as reformas necessárias para salvar o regime instituído depois de 1917. Daí nasceu a perestroika que veio dar origem ao desmembramento do estado soviético e à independência de várias das suas repúblicas, entre as quais a Ucrânia que se tornou independente em 1991. A influência russa era enorme na Ucrânia porque cerca de 20% da sua população é de origem russa e, além disso, uma parte do arsenal nuclear soviético estava em território ucraniano, pelo que foram feitos acordos, nomeadamente de âmbito militar, entre a nova Federação Russa e a Ucrânia independente.
Porém, vieram a surgir problemas políticos internos resultantes da diversidade cultural do país e do alinhamento internacional que procurava, com os ucranianos divididos entre a aproximação à União Europeia e a fidelidade à Federação Russa. Esses problemas acentuaram-se e em 2014, houve um movimento insurrecional em várias regiões do país e a população russa da península da Crimeia, com o apoio militar russo, ocupou muitos edifícios públicos e rejeitou a governação ucraniana de Kiev. Foi então realizado um referendo local, considerado ilegal, que aprovou a chamada “reunificação com a Rússia”, mas as Nações Unidas e a comunidade internacional não aceitam a ocupação da Crimeia e consideram-na um território ucraniano sob ocupação russa.
A península da Crimeia tem cerca de 26 mil km2 de superfície, cerca de dois milhões de habitantes dos quais cerca de 60% são de etnia russa e tem uma posição estratégica importante no Mar Negro, pois acomoda a base naval russa de Sebastopol.
Esta semana, o destroyer inglês HMS Defender, em trânsito de rotina de Odesa para a Geórgia, terá entrado nas águas territoriais da Crimeia junto do cabo Fiolent e um navio-patrulha russo terá feitos tiros de advertência, enquanto um avião de combate Su-24M terá lançado bombas na proa do navio inglês. A imprensa inglesa deu grande destaque a este caso como se fosse uma guerra e avisou Putin de que “não vai parar os nossos navios”, mas os russos também não querem navios ingleses por lá. No entanto, ainda está por esclarecer o que realmente se passou.