sábado, 14 de dezembro de 2013

Angola: prosperidade e muita confiança

O dinamismo da economia e da sociedade angolanas revelam-se todos os dias nos mais diferentes domínios. Cerca de dez anos depois do fim da guerra civil em Angola, o país atravessa um clima de expansionismo económico e de euforia social, resultantes sobretudo das suas enormes riquezas naturais, embora ainda haja uma substancial parte da sua população que não conhece os benefícios da prosperidade.
O bom conhecimento das geografias angolanas e a língua comum fazem com que o quotidiano de Angola se torne facilmente observável em Lisboa, não só pelo que se lê, mas também que se sabe através dos angolanos que por cá circulam ou através dos portugueses que por lá andam.
Ontem, o jornal Sol – Angola destacou em primeira página o projecto de construção de várias torres na ilha de Luanda, implantados numa área de construção com 494 mil metros quadrados e num investimento da ordem dos cinco mil milhões de euros. Também o semanário Expresso noticia hoje que “portugueses apostam no imobiliário na baía de Luanda” e que há portugueses entre os arquitectos e os doze investidores da Sociedade Baía de Luanda, que já requalificou a baía e vai gerir o projecto imobiliário. A primeira fase do projecto arrancará no próximo mês de Janeiro e construirá 25 edifícios que representam cerca de 30% do loteamento total, num investimento de 1,1 mil milhões de euros que se espera fique concluído dentro de três anos. Há realmente prosperidade e muita confiança para aproveitar o magnífico cenário da baía de Luanda.

Uma gaiola dourada em Paris

Há menos de um mês realizou-se em Lisboa uma manifestação contra os cortes previstos no Orçamento do Estado para 2014 que, pela primeira vez, juntou todas as polícias e que se concentrou em frente das escadarias da Assembleia da República. Seriam cerca de 12 mil polícias de diferentes corporações e o ambiente era de alguma tensão como costuma acontecer nessas circunstâncias, com manifestantes a empurrarem as grades de segurança que acabariam por ser recuadas. Em determinada altura os polícias (em protesto) conseguiram furar o cordão dos polícias (em serviço) que os impediam de subir as escadarias da Assembleia da República. Subiram-nas e só pararam à porta do edifício. Foi uma atitude simbólica dos polícias (em protesto) e uma atitude sensata dos polícias (em serviço), mas rapidamente tudo serenou. O governo não esperava esta “grave afronta" ou esta "insubordinação” e decidiu demitir imediatamente o director geral da PSP, vindo a nomear para o cargo o comandante da força policial que, mal ou bem, não evitou que as escadarias fossem ocupadas pelos manifestantes. O assunto nunca foi claramente esclarecido, talvez para poupar a demissão do ministro, como seria normal que acontecesse. Porém, ele aí mostrou que tem pouca verticalidade. Passou menos de um mês e o governo, como salienta hoje o Diário de Notícias, decidiu nomear o antigo director da PSP para um lugar especialmente criado para ele: oficial de ligação do seu ministério na embaixada portuguesa em Paris, onde irá ganhar 12 mil euros por mês, isto é, o triplo do que auferia como diretor da PSP. Nunca esse cargo foi necessário e é uma autêntica e escandalosa gaiola dourada. Podia ser em Alcoutim ou em Penedono, mas teve que ser em Paris. Embrulhem! O homem até podia não aceitar e ficaria na história como um insubornável e incorruptível, mas aceitou. E o ministro podia não criar estes tachos neste tempo tão nebuloso, quando o seu governo abusa da austeridade e promove despedimentos, faz aumentar a pobreza e aumenta a desigualdade. Que vergonha é esta de termos o ministro Macedo a baixar ao nível dos seus pobres pares, ao arranjar tachos que vão ser pagos com os dinheiros das nossas pensões, salários e  impostos e, de uma forma geral, com os nossos sacrifícios, a demonstrar que a austeridade não é para todos! Que vulgar macedo.