quinta-feira, 16 de maio de 2024

A Nova Caledónia em luta com a França

Nas suas últimas edições a imprensa francesa tem ignorado as guerras da Ucrânia e do Médio Oriente, concentrando-se nos violentos motins que desde há três dias estão a agitar a Nova Caledónia e que já levaram o presidente Emmanuel Macron a declarar o estado de emergência.
A Nova Caledónia é um território francês com cerca de 18.500 km2, que abrange algumas dezenas de ilhas do sul do oceano Pacífico e que está situado a leste da Austrália e a norte da Nova Zelândia. Tem cerca de 270 mil habitantes, dos quais 45% são os autóctones chamados kanak, 37% são de origem europeia ou descendentes de europeus, havendo também comunidades de polinésios, vietnamitas, indonésios e chineses.
A onda independentista que varreu as ilhas do Pacífico também chegou à Nova Caledónia e em 1980 verificaram-se situações de tensão entre os opositores e os partidários da independência e, em 1986, o Comité de Descolonização das Nações Unidas incluiu a Nova Caledónia na sua lista de territórios não-autónomos. Seguiu-se um referendo sobre a independência que foi rejeitado por larga maioria da população e, em Outubro de 2020, foi realizado um novo referendo em que 46,7% dos eleitores votaram a favor da independência e 53,3% votaram contra. O independentismo crescera com largo apoio da população kanak. Porém, em Paris foram tomadas medidas legislativas atentatórias da vontade e dos direitos dos autóctones que reagiram, com distúrbios nas ruas, motins violentos e confrontos armados entre manifestantes, milícias e polícias. A tensão entre as diferentes comunidades acentuou-se. Já há mortes e o caos está instalado. Nos últimos dias foi imposto o recolher obrigatório, declarado o estado de emergência e enviados reforços militares para o território. O jornal La Croix pede urgência no diálogo, mas o jornal Le Monde refere “le spectre de la guerre civile”, significando que a França e Emmanuele Macron têm um grande problema para resolver a 16.000 quilómetros de distância.

quarta-feira, 15 de maio de 2024

Viva! Aí está o novo aeroporto de Lisboa!

Ontem foi um dia importante na política portuguesa porque, depois de 55 anos de avanços e de recuos, de estudos e de mais estudos, de pressões e de hesitações, foi finalmente anunciada a decisão sobre o novo aeroporto de Lisboa. Após tantos anos e tantos primeiros-ministros, foi um improvável Luís Montenegro que, com apenas 32 dias de governo, assumiu essa decisão, devendo salientar-se que teve o apoio das forças políticas mais representativas, o que é um bom sinal de cooperação interpartidária face ao interesse nacional, o que raramente tem acontecido em Portugal. O jornal Público, como nenhum outro jornal português, destacou essa importante notícia na sua edição de hoje.
O reconhecimento da necessidade de um novo aeroporto de Lisboa nasceu durante a chamada “primavera marcelista”, através do Decreto-lei 48.902, de 8 de março de 1969, que criou no Ministério das Comunicações, o Gabinete do Novo Aeroporto de Lisboa, com personalidade jurídica e autonomia administrativa, com a missão de “empreender, promover e coordenar toda a actividade relacionada com a construção do novo Aeroporto de Lisboa”. Esse documento foi assinado por Marcello Caetano e foi promulgado pelo presidente Américo Deus Rodrigues Thomaz, mas ninguém esperava que fosse preciso mais de meio século para escolher o local.
Havia inicialmente quatro possíveis localizações, respectivamente na Fonte da Telha, no Montijo, no Porto Alto e em Rio Frio. Depois apareceu a hipótese de Alcochete, em finais da década de setenta surgiu a hipótese Ota e, mais tarde, as soluções Samora Correia e Santarém. Os interesses eram conflituantes e as pressões dos ambientalistas e dos municípios eram enormes, mas a decisão foi sempre adiada. Nem Mário Soares nem Cavaco, nem Guterres ou Barroso, Sócrates, Coelho ou Costa, tomaram uma decisão. O novo aeroporto de Lisboa já entrara no anedotário nacional.
Não faltaram estudos e ponderações e, por isso, saúda-se que, finalmente, tenha havido uma decisão. Parece que é desta que vamos ter o novo Aeroporto de Lisboa e que vai chamar-se Luís de Camões!

segunda-feira, 13 de maio de 2024

O independentismo catalão foi derrotado

A actividade política e as eleições na Catalunha são acontecimentos que nos interessam por razões de proximidade geográfica e de coesão ibérica. Numa altura em que há algumas tensões na velha Europa e em que não se vislumbra quem possa arrumar a casa e liderar a sua caminhada para o futuro com harmonia e progresso, a estabilidade ibérica é um elemento importante. 
Depois de catorze anos em que o independentismo ameaçou a comunidade autónoma da Catalunha e a unidade espanhola, o Partido dos Socialistas da Catalunha de Salvador Illa venceu as eleições de ontem com 27,9% dos votos e passou de 33 para 42 dos 135 deputados, com expressivas vitórias nas províncias de Barcelona e Tarragona, enquanto o conjunto dos partidos independentistas apenas elegeu 59 deputados, embora tivesse sido maioritário nas províncias de Lérida e Girona.
Foi a primeira vez que o Partido dos Socialistas da Catalunha venceu uma eleição, tanto em número de votos como em número de deputados eleitos, o que também reforça o poder de Pedro Sanchéz que é muito próximo de Salvador Illa. O jornal La Razón escolheu como manchete a frase “Derrota do independentismo”, enquanto o jornal El País diz que “el triunfo de Illa entierra el ‘procés’ e o ABC escolheu o título “Cataluña castiga el independentismo”, o que parece mostrar alguma unanimidade quanto à interpretação dos resultados eleitorais. Aparentemente, os catalães cansaram-se da instabilidade social gerada pelas lutas independentistas e perceberam que a União Europeia não apoiava o soberanismo catalão. Porém, a estabilidade política da Catalunha ainda vai depender dos acordos que o partido mais votado consiga fazer para poder governar.

sábado, 11 de maio de 2024

Em defesa do reconhecimento da Palestina

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou ontem uma Resolução não vinculativa que pede o reconhecimento da Palestina como um estado soberano, que garante “novos direitos e privilégios” aos palestinianos e que pede ao Conselho de Segurança que reconsidere o pedido para plena adesão, o que a tornaria no 194º membro da organização. A Resolução foi aprovada por 143 votos a favor, com 25 abstenções e nove votos contra, apresentados pela Argentina, Israel, Estados Unidos, República Checa, Hungria, Micronésia, Nauru, Palau e Papua-Nova Guiné. A notícia não teve a devida repercussão nos mass media internacionais, mas o jornal catalão La Vanguardia destaca na sua edição de hoje que “la Asamblea de la ONU vota que Palestina tiene derecho a ser miembro”. Mahmoud Abbas, o presidente da Autoridade Nacional Palestiniana, regozijou-se com esta Resolução que abre as portas ao reconhecimento da Palestina pelas Nações Unidas, mas Israel criticou esta decisão que classificou como “um prémio ao Hamas”. A decisão cabe agora ao Conselho de Segurança, embora seja de prever o veto dos Estados Unidos.
Entretanto, a imprensa espanhola anuncia hoje que “España reconocerá a Palestina el 21 de mayo”, havendo notícias que referem que, no mesmo dia, também a Irlanda, a Bélgica, a Eslovénia, Malta e a Noruega, reconhecerão o Estado da Palestina. Afirmando que o reconhecimento da Palestina é do interesse da Europa, a Espanha afirma-se com vontade própria e não alinha com o grupo de países europeus que, com grande hipocrisia, continuam a fornecer armas a Israel e a apoiar o governo extremista de Benjamin Netanyahu na sua política de destruição do povo palestiniano. A Espanha bem merece a nossa saudação.

quinta-feira, 9 de maio de 2024

Paris 2024: a chama olímpica já chegou

A imprensa francesa é hoje unânime a noticiar a chegada a Marselha da chama olímpica, que saíra da Grécia no dia 16 de abril, publicando a fotografia da chegada do navio-escola Belem, escoltado por centenas de embarcações. A partir de agora, a chama olímpica vai percorrer todo o território francês e mais de cinco centenas de localidades, numa viagem que terminará em Paris na noite de 26 de julho, quando se realizará a cerimónia de abertura oficial dos XXXIII Jogos Olímpicos.
Segundo o jornal Le Figaro, estiveram em Marselha a esperar o navio-escola Belem e a chama olímpica entre 150 e 230 mil pessoas, o que mostra como “à boleia dos Jogos Olímpicos”, se está a trabalhar num projecto promocional da França sob a liderança do pequeno napoleão, que Emmanuel Macron parece querer ser.
Os Jogos Olímpicos são a maior manifestação desportiva mundial, mas cada vez mais se afastam dos ideais olímpicos, enunciados através do lema Citius, Altius, Fortis, que significa “o mais rápido, o mais alto, o mais forte”. Se antigamente se considerava que o importante era competir e não vencer, nas suas últimas edições os Jogos Olímpicos tornaram-se um tabuleiro onde se procura “vencer” a qualquer preço, porque isso se traduz numa operação de prestígio interno e internacional. Por isso, os jogos de Paris 2024 vão ser uma monumental operação de marketing dos franceses para si próprios e para o mundo. O presidente Emmanuel Macron e o chauvinismo francês vão, provavelmente, estar insuportáveis na reversão a seu favor de tudo o que os Jogos Olímpicos lhes poderão dar em prestígio, em auto-estima e em vaidade, esperando que todo o mundo ouça muitas vezes a Marselhesa: 
             Allons, enfants de la Patrie / Le jour de gloire est arrivé 
             Contre nous, de la tyrannie/L'étendard sanglant est levé.
Procuremos, portanto, acompanhar a festa desportiva que vai ser o Paris 2024, mas tenhamos paciência com os exageros de egocentrismo a que vamos assistir.

quarta-feira, 8 de maio de 2024

Catástrofe climática no Rio Grande do Sul

Desde há cerca de uma semana que violentos temporais e chuvas de grande intensidade estão a afectar o estado brasileiro do Rio Grande do Sul (RS), que faz fronteira com o Uruguai e com a Argentina. Trata-se do estado mais meridional do Brasil, que é três vezes maior que Portugal e tem cerca cde 12 milhões de habitantes. A cidade de Porto Alegre, que é a sua capital, tem as suas rotas de acesso bloqueadas pelas águas e estima-se que 85% da cidade esteja sem água potável, nem energia eléctrica. O aeroporto Salgado Filho está inundado, como mostra a fotografia publicada na edição de ontem da Folha de S.Paulo, tendo sido encerrado por tempo indeterminado. É uma verdadeira catástrofe climática e humanitária, que está a afectar cerca de um milhão e meio de gaúchos, estando já contabilizados 95 mortos e mais de 130 desaparecidos, mas também cerca de quatro centenas de feridos e mais de duzentos mil desalojados. No centro histórico da cidade de Porto Alegre a inundação atingiu 5,25 metros, sem haver quaisquer garantias de que se reduza nos próximos dias porque há dificuldades na drenagem das águas, mas há situações bem mais extremas, como sucedeu no rio Taquari cujas águas subiram 30 metros.
Os meteorologistas afirmam que os temporais que ocorrem no Rio Grande do Sul são reflexo de três fenómenos que ocorrem localmente e que são agravados pelas alterações climáticas, respectivamente, a onda de calor e as correntes intensas de vento frio que sopram do sul, a influência da Amazónia e um bloqueio atmosférico.
A catástrofe representa um prejuizo incalculável e está a gerar uma onda de solidariedade, tanto no Brasil, como no exterior.

segunda-feira, 6 de maio de 2024

A promoção dos vinhos portugueses

A edição de hoje do jornal O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, tem a sua primeira página ocupada com um anúncio da marca Vinhos de Portugal e informa que o maior evento de vinhos portugueses no Brasil se realizará no Rio de Janeiro entre os dias 7 e 9 de Junho. 
O evento seguirá depois para a cidade de São Paulo onde será apresentado entre os dias 13 e 15 de Junho no Pavilhão Ciccillo Matarazzo, uma infraestrutura de grande prestígio, que foi desenhada por Óscar Niemeyer no Parque Ibirapuera.
A marca Vinhos de Portugal/Wines of Portugal tem tido um assinalável sucesso comercial e resulta de uma iniciativa da ViniPortugal, uma organização interprofissional dos vinhos portugueses reconhecida pelo governo português, que foi fundada em 1996. A ViniPortugal faz a gestão daquela marca colectiva e tem como objectivo a promoção da qualidade e da excelência dos vinhos portugueses. A primeira campanha de marketing dos Vinhos de Portugal realizada no Brasil aconteceu em 2010 e a iniciativa agora anunciada já é a 11ª campanha, o que mostra o sucesso que os vinhos portugueses têm tido no Brasil ao longo dos anos. Esta importante parceria entre os produtores portugueses mostra-se muito activa e, nas mais recentes semanas, foram feitas apresentações e degustações de vinhos portugueses na cidade do México, em Toronto, Montreal, S. Francisco, Nova Iorque e Houston, a mostrar um dinamismo que não é habitual na economia portuguesa.  

sexta-feira, 3 de maio de 2024

O protesto universitário contra Netanyahu

O povo palestiniano está a ser vítima de uma agressão cruel, violenta e desumana por parte das forças extremistas de Benjamin Netanyahu, perante a objectiva cumplicidade dos seus mais poderosos aliados que continuam a fornecer-lhe armamento. Nada, nem ninguém, parece poder travar a ânsia vingativa de Netanyahu.
Porém, nos últimos dias, manifestou-se um movimento de solidariedade para com os palestinianos, cuja expressão mais visível tem acontecido nas universidades americanas, desde Harvard a Los Angeles. Há registo em várias universidades americanas de protestos pró-Palestina e pelo fim da guerra em Gaza, o que já levou o presidente Joe Biden a pedir aos manifestantes moderação e o cumprimento da lei, ao mesmo tempo que se verificava a intervenção policial. Anunciam-se confrontos e mais de duas mil detenções. Os protestos já “atravessaram” o Atlântico e disseminaram-se por várias universidades do Reino Unido, onde os estudantes reclamam o fim da guerra e manifestam a sua solidariedade para com o povo da Palestina. Também em França, conforme documenta a edição de hoje do jornal Le Télégramme, que se publica em Brest, são cada vez mais as universidades que manifestam o seu apoio solidário ao povo palestiniano. A lição a tirar destas manifestações é que há muita gente a querer a paz e que estão cada vez mais isolados os que querem a guerra ou, ainda, que os líderes cedem a interesses sectoriais e não respeitam a vontade dos cidadãos.
Lamentavelmente, há comentadores televisivos entre nós que ainda defendem que a proposta israelita de cessar-fogo “é generosa”, manifestando uma chocante indiferença perante a destruição e a morte que as hostes de Netanyahu têm causado na Faixa de Gaza.

quinta-feira, 2 de maio de 2024

O novo e moderno porta-aviões chinês

A edição de hoje do jornal China Daily destaca com uma eloquente fotografia, o início dos primeiros testes de mar do novo porta-aviões da Marinha do Exército Popular de Libertação da China, que está a ser construído em Xangai, desde há seis anos. Trata-se do Fujian, o terceiro porta-aviões chinês, que desloca 80 mil toneladas e que se junta ao Shandong de 66 mil toneladas e ao Liaoning de 60 mil toneladas.
Logo que entre ao serviço, só a Marinha americana terá porta-aviões maiores que o Fujian. De acordo com a notícia, o novo porta-aviões chinês dispõe de um sistema de catapulta electromagnética semelhante ao do USS Gerald Ford, o único porta-aviões que até agora dispunha desse sistema, o que lhe permitirá operar aviões maiores e com maior capacidade de transporte. Com este novo navio e com as tecnologias que terá disponíveis, a China melhora enormemente a capacidade da sua Marinha, o que parece ser uma preocupação para os Estados Unidos, pelo seu impacto no que respeita ao domínio do mar da China e, sobretudo, em relação à questão de Taiwan.
Porém, o crescimento da Marinha chinesa não é uma novidade, pois nesta altura já é a maior força naval do mundo com mais de 340 navios de guerra e com uma produção a “um ritmo frenético” de novos navios em estaleiros chineses. Relativamente aos porta-aviões, desde 1985 que a China decidiu estudá-los para que a sua indústria os pudesse projectar e construir, tendo para esse efeito comprado quatro porta-aviões que estavam fora de serviço, sendo um australiano (HMAS Melbourne) e três utilizados pela ex-União Soviética (Minsk, Kiev e Varyag).
E assim vai o mundo no que respeita ao rearmamento...

Submarino emergiu da calote polar ártica

A edição de hoje do jornal The New York Times apresenta com grande destaque uma reportagem do seu jornalista Kenny Holston, que embarcou num submarino de ataque com propulsão nuclear, “para ver como o Pentágono está a treinar para uma potencial guerra abaixo do mar congelado”. 
O jornalista embarcou no USS Hampton (SSN 767), uma unidade da classe Los Angeles, habitualmente estacionada na Base Naval de Point Loma, em San Diego. O navio navegou para a região polar e emergiu no gelo ártico duas vezes, no quadro da sua participação na Operação Ice Camp, uma operação anual de três semanas que testa a capacidade da frota submarina americana operar em ambiente hostil. O jornalista descreveu a navegação sob a calote de gelo polar, tendo verificado como é complexa, acontecendo por vezes que o submarino navega entre duas ameaças: a camada de gelo por cima e o fundo do mar por baixo. Segundo o comandante do navio “operamos o navio a 6 metros do fundo, com 12, 18 metros de gelo acima de nós, assim conseguindo evitar os picos de gelo, virados para baixo”.
Como acontece em qualquer submarino, o espaço é sempre muito escasso e a reportagem aborda esse problema, muito importante quando o submarino está submerso, bem como a comida limitada e a ausência de qualquer comunicação externa durante várias semanas.
O embarque do jornalista Kenny Holston no USS Hampton, insere-se numa campanha de divulgação das actividades da Marinha americana, pois esta missão do submarino está relatada em diferentes jornais.