quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

A difícil equação das políticas de saúde

Há dois dias tratamos aqui algumas notícias respeitantes aos graves problemas dos serviços de saúde de alguns países da Europa ocidental. O tema continua a dominar a esfera mediática desses países e hoje, o jornal inglês The Independent, revela “o real custo das greves do NHS”.
Segundo revela o jornal, devido às greves dos servidores do NHS, há milhares de pacientes forçados a engrossar as listas de espera para consultas, tratamentos e cirurgias, como por exemplo a cirurgia do joelho ou do cérebro, o que significa que o NHS está em vias de não cumprir a sua principal missão. Na passada semana, os serviços de saúde britânicos tinham afirmado que estavam em vias de cumprir as suas metas, mas as prolongadas paralisações que se têm verificado, a somar a uma procura sem precedentes dos serviços de urgência, tornaram esse objectivo muito mais improvável de atingir. Acontece que mais de 10.000 pacientes esperarão provavelmente 18 meses ou mais por uma cirurgia, que haverá um cancelamento de cerca de 140.000 consultas durante o período da greve e que, em cada semana de greve, haverá mais 7.000 pessoas a ingressar nas listas de espera. Mais paralisações estão previstas para as próximas semanas e muitos agentes políticos pedem negociações com os sindicatos.
Naturalmente, o SNS português passa por situações semelhantes às que se estão a verificar nos países indicados, parecendo sugerir que o problema tem características estruturais. Os cuidados de saúde são cada vez mais eficientes, mas são muito mais caros do que antes, ao mesmo tempo que a procura não cessa de aumentar. Não é uma situação que se enquadre na chamada lei da oferta e da procura. É uma equação orçamental e social muito difícil de resolver e todos os governos têm dificuldades em encontrar soluções.

Os países ibéricos observados de França

A edição de hoje do diário francês Libération escolheu os países ibéricos como tema de primeira página, publicando as fotografias de António Costa e de Pedro Sánchez e escolhendo como título: Espagne, Portugal. La gauche qui marche.
O jornal fundado em 1973 por Jean-Paul-Sartre nasceu no campo da extrema-esquerda, evoluiu e, actualmente, posiciona-se no espaço político do centro-esquerda. Nesta edição, o jornal destaca que com Sánchez em Madrid e Costa em Lisboa, “os dois governos da península Ibérica progridem e são sustentáveis” e pergunta: De quoi inspirer la gauche française? Numa altura em que a França e alguns países vizinhos, como o Reino Unido e a Itália, têm governos de direita, a esquerda francesa e o seu jornal de referência olham com curiosidade e inveja para o sudoeste do continente europeu, elogiando “estas esquerdas da península Ibérica que mostram o caminho”, como se não houvesse problemas em Portugal e na Espanha.
Em Portugal, onde governa António Costa desde 2015 e agora com maioria absoluta do PS, o jornal diz que “a esquerda está a balançar, mas a manter o rumo”, apesar das demissões no governo, dos protestos sociais, sobretudo dos professores, das perturbações na TAP e da apatia governamental perante a necessidade de reformas.
Na Espanha, onde Pedro Sánchez governa desde 2018 em coligação do seu partido (PSOE) com uma outra coligação de várias esquerdas mais ou menos radicais denominada Unida Podemos, o jornal diz que “é uma esquerda que não conhece o sinistro”, embora se aproximem tempos difíceis com as eleições municipais e regionais a realizar no próximo mês de Maio e as eleições gerais no final do ano.
Significa, portanto, que a visão deslumbrada do Libération em relação aos seus vizinhos do sul talvez não se justifique porque, como diz o povo, só quem está no convento, sabe o que lá vai dentro.