domingo, 10 de novembro de 2013

A Venezuela é uma fábrica de "misses"

A Venezuela está a enfrentar uma grave crise económica e social, com uma inflação que já vai nos 48% e com a falta de muitos produtos básicos nos seus circuitos comerciais, daí resultando a progressiva deterioração do seu tecido social e da tranquilidade pública. O controverso Presidente Nicolás Maduro, que há poucos meses sucedeu a Hugo Chávez, tem procurado travar a degradação da qualidade de vida dos venezuelanos, não só através da importação de bens alimentares e de higiene, mas também pela adopção de medidas políticas de características emocionais. Há dias decretou o dia 1 de Novembro como o dia da chegada do Natal para que a felicidade chegue ao povo mais cedo e para que seja criado um ambiente de festa que pacifique o país e que derrote a amargura. Nesse sentido, até criou a Secretaria de Estado da Suprema Felicidade Social, encarregada da gestão de todas as actividades relativas aos projectos sociais desenvolvidos pelo governo.
Até que ontem, no Crocus City Hall em Moscovo, a venezuelana Maria Gabriela Isler foi consagrada como Miss Universo e, de repente, o país passou da amargura à euforia, até porque na Venezuela os concursos de beleza são um motivo de orgulho nacional e foi a sétima vez que uma representante venezuelana venceu o concurso. Por isso, o país é considerado uma "fábrica de misses", porque em 62 anos de história deste concurso, só os Estados Unidos conseguiram mais vitórias (oito).  Nicolás Maduro já congratulou a vencedora e o país entrou em verdadeira euforia, com todos os jornais venezuelanos a apresentar a fotografia de Maria Gabriela Isler e a destacar a notícia. Eis, assim, como uma só miss pode animar tanta gente!

 

Espanha também é vítima do aparelhismo

Na generalidade dos países democráticos, os vencedores das eleições instalam-se no aparelho de Estado por direito próprio, mas criaram o hábito de levar consigo uma multidão de correlegionários e de amigos para ocupar os chamados lugares de confiança. É que existem lugares para todos, desde que pertençam ao partido. É um prémio de militância. Um emprego dos bons.
Em Portugal tem sido assim e os gabinetes ministeriais e as direcções gerais enchem-se de assessores e de técnicos, as empresas públicas renovam-se de administradores e directores, as autarquias e as empresas municipais dão emprego a quem faz parte ou apoiou o partido e, quando necessário, criam-se comissões, institutos e fundações. Esta gente gasta rios de dinheiro. Sempre que se altera o ciclo político é um fartote indiscritível de tacharia que, em elevado grau, também tem sido responsável pelo descalabro das nossas finanças públicas. Em Espanha passa-se o mesmo fenómeno e talvez em grau mais absurdo, pois segundo revela hoje a edição do El Mundo, os partidos políticos dão emprego directo ou indirecto a 145 mil espanhóis. É um número espantoso. São verdadeiras “fábricas de emprego” que vivem dos dinheiros públicos, refere o jornal. Pagam salários a muita gente, onde se incluem os membros do governo, os deputados das 19 câmaras representativas existentes e os 8116 autarcas, muitos deles isentos de obrigações fiscais. Desde que começou a crise, esse número passou de 27.600 para 39.500, a mostrar que os sacrifícios não são para os políticos. Porém, a estes números há que juntar mais 20 mil assessores contratados a dedo como pessoal de confiança (sendo que a sua maior parte são “familiares dos políticos” e membros dos partidos), para além de muitas outras ocupações que o El Mundo destaca e que totalizam 145 mil empregos! Eu julgava que éramos vítimas do nosso aparelhismo que faz deputados, assessores, técnicos especialistas e até secretários de Estado com 20 anos de idade, mas afinal em Espanha ainda parece ser pior.