quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Os jornais, a opinião pública e a verdade

Com grande destaque, o jornal Diário de Notícias divulgou hoje os resultados de uma sondagem de opinião feita pela Aximage para a Global Media Group, realizada nos dias 11 e 12 de Dezembro, com base numa amostra de 515 entrevistas. Dos resultados da sondagem, o jornal escolheu para manchete a frase “menos de metade dos portugueses acha que Marcelo deve ficar em Belém”.
A sondagem realizou-se a propósito do “caso das gémeas luso-brasileiras”, que tem sido exaustivamente tratado pela comunicação social devido aos seus ingredientes de escândalo e de sensacionalismo, embora se situe dentro do círculo cultural português que é a cunha, essa instituição a que poucos portugueses resistem. O facto é que, com este caso, muitos jornais e muitos jornalistas passaram rapidamente do jornalismo da bajulação, para uma espécie de jornalismo de caça ao escândalo, disfarçado de jornalismo de investigação. E aquele que era o mais popular dos políticos portugueses e o presidente dos afectos, das selfies e dos sorrisos, rapidamente passou a um estado em que só 48% desses mesmos portugueses acha que tem condições para levar o seu mandato até ao fim. É demasiado ridículo para ser verdade!
A questão de saber se houve um tratamento de favor às gémeas luso-brasileiras por parte do Presidente da República, das autoridades portuguesas ou do SNS, ainda está por esclarecer, mas a comunicação social já se antecipou, tendo decidido que o visado era Marcelo Rebelo de Sousa. Quem é que vai tirar isso da cabeça dos portugueses depois de tanta repetição dessa notícia, que não se sabe se é verdadeira ou falsa? Tem sido assim com muitos outros casos em que os jornais, os jornalistas e aqueles que os influenciam, destroem a dignidade e o bom nome das pessoas, apenas por suposições ou indícios malévolos.
Curiosamente, a sondagem também inquiriu os entrevistados em relação à cobertura que a comunicação social tem dado ao caso, tendo revelado que 19% dos inquiridos manifestaram uma opinião muito boa e 36% uma opinião boa. Fico muito surpreendido porque, todos os dias "vejo, ouço e leio" as notícias publicadas e não imaginava que 55% dos portugueses achassem boa ou muito boa a cobertura deste caso. Eu pertenço aos 45% de portugueses que acham que a cobertura deste caso pela comunicação social, não é boa nem muito boa.

COP28: será o fim das energias fósseis?

Os trabalhos da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2023, ou COP28, que se realizaram no Dubai, chegaram ao fim depois de duas semanas de intensas negociações e, pela primeira vez na história destas conferências organizadas pelas Nações Unidas, foi alcançado um acordo que prevê o fim da era do petróleo ou, pelo menos, a redução do seu consumo. Porém, embora o apelo à eliminação progressiva dos combustíveis sólidos tivesse sido uma grande vitória da COP28, tem muitos aspectos por esclarecer, sobretudo porque não impõe prazos, nem limites à produção de petróleo, gás natural e carvão.
Este acordo não foi fácil e a COP28 esteve em riscos de falhar, mas a maior parte dos duzentos países e organizações presentes aplaudiu o resultado alcançado, que também satisfez António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas, que declarou: “esperemos que o acordo não chegue demasiado tarde”.
É sabido que o petróleo, o gás natural e o carvão pesam cerca de 80% no consumo energético mundial e que essas energias fósseis são as principais responsáveis pelas alterações climáticas que afectam o nosso planeta, pelo que o acordo alcançado no Dubai significa uma maior sensibilização à escala global e é realmente histórico. Porém, muitos recordam o acordo alcançado há dois anos em Glasgow para a redução do consumo de carvão que, de facto, tem continuado a aumentar, significando que as boas intenções das cimeiras têm tido poucos resultados.
A imprensa acompanhou os trabalhos da COP28, mas o jornal parisiense La Croix perguntava na sua edição de hoje se é o fim das energias fósseis.

O mundo apela ao cessar-fogo em Gaza

O resultado da votação na ONU (UN News)
A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou no dia 12 de Dezembro uma resolução não vinculativa mas influente, que exige um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, depois dessa mesma exigência ter sido rejeitada pelo Conselho de Segurança alguns dias antes, devido ao veto dos Estados Unidos. O projecto de resolução foi apresentado pelo Egipto com o apoio de oito dezenas de estados, incluindo Portugal, tendo sido apoiado por 153 votos a favor, 10 votos contra e 23 abstenções – um resultado considerado “esmagador”.
O texto expressa grande preocupação pelo sofrimento dos civis palestinianos e pela catastrófica situação que se vive em Gaza, onde se estima já terem sido mortas 18 mil pessoas desde o dia 7 de Outubro, devido aos ataques do Hamas e às acções de retaliação de Israel. Além disso, o texto pede o cumprimento das leis internacionais que protegem civis e exige a libertação imediata e incondicional de todos os reféns em poder do Hamas.
A votação reflecte o crescente isolamento internacional dos Estados Unidos e de Israel, que se recusam a apoiar um cessar-fogo em Gaza, persistindo na sua intenção de neutralizar o Hamas, mesmo que isso represente o genocídio do povo palestiniano. Os Estados Unidos, que são os maiores aliados e os principais fornecedores de armamento a Israel, são cada vez mais vistos como cúmplices dos crimes cometidos pela retaliação israelita, mas são a única entidade capaz de persuador o extremismo de Benjamin Netanyahu a aceitar um cessar-fogo. Daí que Joe Biden, já tenha alertado para o facto de Israel estar a perder apoio internacional devido ao “bombardeamento indiscriminado” de Gaza.
Curiosamente, ou não, a imprensa nacional ou internacional não destacou esta esmagadora votação da Assembleia Geral das Nações Unidas nas suas primeiras páginas.