Depois de cerca
de nove meses durante os quais a presidente brasileira Dilma Roussef teve o seu
mandato suspenso, o Senado votou ontem a favor da sua destituição com 61 votos
a favor e 20 votos contrários. Dilma Roussef foi condenada e perdeu o seu
mandato porque assinou três decretos de créditos suplementares sem autorização
do Congresso e utilizou dinheiros da banca pública para financiar programas do
governo. Tratou-se de manobras contabilísticas que nas democracias ocidentais
ocorrem com frequência e que, embora estejam nas margens da ilegalidade, ninguém
considera de índole criminosa.
Seguiu-se uma
segunda votação destinada a decidir se Dilma Roussef perderia os seus direitos
políticos e ficaria impedida de exercer cargos públicos, mas esta votação foi-lhe
favorável. Houve 42 votos favoráveis à cassação desses direitos mas Dilma teve
36 votos a sua favor, tendo havido 3 abstenções.
Poucas horas
depois, nos termos constitucionais, foi empossado Michel Temer, antigo vice-presidente
de Dilma Roussef, apesar de estar impedido de ser eleito para cargos públicos
durante oito anos por ter violado as leis eleitorais brasileiras e ter o seu
nome envolvido em graves processos judiciais. Provavelmente, o mundo tremeu de
espanto com a destituição da presidente eleita pelo voto popular, até porque entre os senadores que ontem empossaram Michel Temer em Brasília, há uma
imensa maioria que enfrenta processos judiciais, sobretudo por corrupção,
incluindo o próprio Temer que está envolvido no caso Lava Jato e no escândalo
da Petrobras, assim como Eduardo Cunha que era o presidente da Câmara dos
Deputados e que é considerado o mentor da destituição ou impeachment de Dilma Roussef que, curiosamente, é uma das poucas figuras
políticas eleitas no Brasil sem ligações a qualquer caso de corrupção. Hoje o Correio
Braziliense pergunta, acertadamente, o que virá após o impeachment. Depois do enorme sucesso dos
Jogos Olímpicos, os senadores brasileiros deram um valente tiro no pé e puseram
a incerteza na política brasileira e o nome do país nas páginas humorísticas da
imprensa mundial. É pena, é mesmo muito triste ver o Brasil assim.