A selecção
nacional de futebol parte hoje para o Qatar onde vai participar no Campeonato
do Mundo de Futebol e é natural que os portugueses lhe desejem muitos sucessos,
que bem nos podem vir a dar algumas alegrias. A vitória de ontem sobre a
Nigéria por 4-0 num jogo de preparação disputado em Alvalade, parece ter
excitado muita gente, a começar pelos nossos canais televisivos que, de forma
desmedida, parecem prognosticar a vitória portuguesa na competição. Porém, tem
que haver contenção, tanto na ambição, como no entusiasmo.
O Supremo
Magistrado da Nação também alinha neste espectáculo, pois não só comentou o
jogo como anunciou que, independentemente do preço que tem para o erário
público, no próximo dia 24 lá estará no Qatar para apoiar a equipa portuguesa.
Segundo afirmou, desloca-se “pelo interesse nacional”. Como é possível que, num
tempo de incerteza e de dificuldade, alguém considere que um jogo de futebol
com o Gana é de “interesse nacional”. A presença do Venerando Chefe do Estado no Qatar será um simples acto de lazer presidencial que não se justifica sob a capa do interesse nacional, custa muito dinheiro aos contribuintes portugueses e até pode ser
perturbadora para o treinador e para os jogadores. É mais um exagero do Senhor
Presidente a que nos vai habituando com o seu voraz apetite por viagens.
O Mundial do Qatar está
envolto em grandes polémicas, designadamente porque os direitos humanos não são
respeitados no país e porque a construção dos estádios parece ter usado mão-de-obra
escrava, mas Sua Excelência já desvalorizou essa realidade e disse que esse
assunto é para esquecer. Melhor andou o presidente do nosso Comité Olímpico que
foi convidado pelo seu homónimo do Qatar para estar no Mundial e declinou o
convite, o que é de saudar.
Nesta confusão em
que abunda muito populismo e muita ausência de serenidade, ainda se destacou o jornal
i, cuja edição de hoje escolheu uma capa de mau gosto, inestética e não
apelativa a dar as boas-vindas ao Mundial das Arábias.