sábado, 22 de maio de 2021

Acontecimentos e cessar-fogo em Gaza

Depois de onze dias de grande intensidade bélica, funcionou a intervenção diplomática egípcia e das Nações Unidas, entre outras, tendo entrado em vigor um cessar-fogo na Faixa de Gaza e não se tendo até agora registado quaisquer violações. As duas partes festejaram e gritaram vitória e, enquanto observador desta situação, pergunto se alguém ganhou com esta guerra que provocou 232 mortos em Gaza e doze em Israel, além de muitas centenas de feridos e de enormes destruições materiais.
A Palestina vive com dois governos: um que foi eleito e governa na Cisjordânia (Autoridade Nacional Palestiniana) e outro que se impõe pelas armas na Faixa de Gaza (Hamas), enquanto Israel é governado por uma coligação de direita em torno do partido conservador Likud de Benjamim Netanyahu, que teve grande apoio de Donald Trump e tem sido frequentemente acusado de ser corrupto. Tanto o Likud como o Hamas têm grandes apoios internacionais e são os representantes máximos da rivalidade e da beligerância israelo-árabe.
Passados onze dias parece que ainda não sabemos bem o que se passou, porque nos são contadas duas histórias bem diferentes. Por um lado, vimos pela televisão a brutalidade dos ataques aéreos israelitas e a tragédia humanitária que atingiu as populações na Faixa de Gaza, mas por outro não nos foram mostrados os efeitos dos rockets lançados pelo Hamas sobre o território israelita. Ficamos a pensar que foi um confronto desproporcionado, que Israel conseguiu os seus objectivos e o que o Hamas foi massacrado. Porém, quando o jornal Tehran Times, na sua edição de hoje anuncia a vitória dos seus protegidos do Hamas e critica o apoio cego dos Estados Unidos aos israelitas, ao mesmo tempo que afirma que o cessar-fogo livrou Netanyahu de uma derrota humilhante, ficamos na dúvida sobre o que se passou. São duas narrativas opostas para os mesmos acontecimentos. Cada um conta a sua história e a imprensa não consegue ser neutra, nem informar com rigor, alinhando com quem mais lhe interessa.