O presidente
cessante dos Estados Unidos, que está a pouco mais de um mês de abandonar a
Casa Branca, voltou a cometer mais um atropelo ao direito internacional ao reconhecer
a soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental, em troca do início do pleno
estabelecimento de relações diplomáticas com Israel. Desta forma, depois dos
Emirados Árabes Unidos, do Bahrein e do Sudão, o reino de Marrocos torna-se o
quarto país árabe a normalizar as suas relações com Israel, não porque esses países
o desejem, mas apenas porque o Donald os chantageou, imaginando que isso lhe
traria dividendos eleitorais.
Porém, o Saara
Ocidental está na lista das Nações Unidas de territórios não autónomos desde o
início dos anos 1960, quando era uma colónia espanhola, pelo que a decisão de
Donald Trump faz dos Estados Unidos o único país ocidental que reconhece a
soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental, em violação das orientações das
Nações Unidas. De forma irresponsável, ele fez o que não tinha feito nenhum dos
três presidentes democratas e quatro republicanos que os Estados Unidos tiveram
desde 1976, violando as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Com
esta decisão, o previsto referendo sobre a autodeterminação do povo saharaui que
faz parte do acordo de cessar-fogo assinado em 1991 entre Marrocos e a Frente
Polisário, sob a mediação das Nações Unidas, bem como a MINURSO (Mission des
Nations Unies pour l’Organization d’un Référendum au Sahara Occidental) têm os
seus objectivos fortemente comprometidos.
O controlo do território
saharaui é disputado por Marrocos e pela Frente Polisário, que é o movimento
independentista fortemente apoiado pela Argélia. Por isso, na sua edição de
hoje o jornal Le Quotidien d’Oran utiliza as palavras choque e indignação
perante este casamento de conveniência entre Benjamin Netanyahu e Mohamed VI, apadrinhado
por Donald Trump.