sábado, 12 de dezembro de 2020

Benjamin e Mohamed ou que bons amigos

O presidente cessante dos Estados Unidos, que está a pouco mais de um mês de abandonar a Casa Branca, voltou a cometer mais um atropelo ao direito internacional ao reconhecer a soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental, em troca do início do pleno estabelecimento de relações diplomáticas com Israel. Desta forma, depois dos Emirados Árabes Unidos, do Bahrein e do Sudão, o reino de Marrocos torna-se o quarto país árabe a normalizar as suas relações com Israel, não porque esses países o desejem, mas apenas porque o Donald os chantageou, imaginando que isso lhe traria dividendos eleitorais. 
Porém, o Saara Ocidental está na lista das Nações Unidas de territórios não autónomos desde o início dos anos 1960, quando era uma colónia espanhola, pelo que a decisão de Donald Trump faz dos Estados Unidos o único país ocidental que reconhece a soberania de Marrocos sobre o Saara Ocidental, em violação das orientações das Nações Unidas. De forma irresponsável, ele fez o que não tinha feito nenhum dos três presidentes democratas e quatro republicanos que os Estados Unidos tiveram desde 1976, violando as resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Com esta decisão, o previsto referendo sobre a autodeterminação do povo saharaui que faz parte do acordo de cessar-fogo assinado em 1991 entre Marrocos e a Frente Polisário, sob a mediação das Nações Unidas, bem como a MINURSO (Mission des Nations Unies pour l’Organization d’un Référendum au Sahara Occidental) têm os seus objectivos fortemente comprometidos. 
O controlo do território saharaui é disputado por Marrocos e pela Frente Polisário, que é o movimento independentista fortemente apoiado pela Argélia. Por isso, na sua edição de hoje o jornal Le Quotidien d’Oran utiliza as palavras choque e indignação perante este casamento de conveniência entre Benjamin Netanyahu e Mohamed VI, apadrinhado por Donald Trump.

Memória de Iwo Jima e a desejada vacina

Na fase final da guerra do Pacífico os americanos decidiram ocupar Iwo Jima, uma pequena ilha de 21 km2 de superfície, estrategicamente localizada entre as ilhas Marianas e as ilhas japonesas. A batalha pela posse da ilha iniciou-se no dia 19 de Fevereiro de 1945 e durou trinta e cinco dias, tendo sido uma das mais duras batalhas da guerra, com pesadas baixas de ambos os lados. Dos 21 mil soldados japoneses que guarneciam a ilha terão morrido 18 mil e apenas 216 foram feitos prisioneiros, enquanto cerca de três mil se esconderam nos dezoito quilómetros de túneis subterrâneos, a partir dos quais atacaram as forças americanas com acções de guerrilha durante algumas semanas. 
A ilha só ficou definitivamente dominada pelos americanos no fim da guerra, mas alguns japoneses foram adiando a sua rendição, a última das quais se verificou em 1949! Na fase final da batalha os americanos ocuparam simbolicamente o monte Suribachi, o ponto mais elevado da ilha com 166 metros de altitude e que se situa na sua extremidade sul, onde seis fuzileiros içaram a bandeira americana. O fotógrafo Joe Rosenthal da Associated Press captou esse momento, essa imagem correu mundo e tornou-se uma das fotos mais conhecidas da 2ª Guerra Mundial. 
A revista brasileia Veja, a propósito da vitória histórica que foi a descoberta de uma vacina contra o covid-19 em apenas onze meses, que considerou “a mais fascinante aventura científica do nosso tempo”, criou uma sugestiva ilustração para a capa da sua mais recente edição inspirada exactamente na foto de Joe Rosenthal.