quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

Evocando a figura de Amílcar Cabral

Assinalam-se amanhã 50 anos sobre o dia 20 de Janeiro de 1973, data em que Amílcar Cabral foi assassinado em Conacri. Natural de Bafatá, uma cidade localizada no interior da então Guiné Portuguesa, Cabral passou a sua infância e adolescência em Cabo Verde e licenciou-se em Agronomia em Lisboa. Era engenheiro agrónomo dos Serviços de Agricultura da Guiné Portuguesa quando em 1956 fundou o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), cujo desígnio era a autodeterminação e a independência da Guiné e de Cabo Verde. A partir de 1963 e depois de repetidas propostas de negociações que o governo português sempre recusou, passou a dirigir a luta armada de libertação nacional contra o poder colonial e pela independência, com grande apoio internacional. Apesar da dureza da guerra que se travou nas matas, nas bolanhas e nos rios da Guiné, em nenhum momento Amílcar Cabral confundiu o sistema colonial com o povo português, pelo qual afirmava grande afecto, bem como a sua admiração pela língua portuguesa. O seu prestígio tornou-o num respeitado líder entre todos os movimentos independentistas que lutaram contra os domínios coloniais no terceiro quartel do século XX.
As portas da paz na Guiné estiveram abertas em 1972, quando o governador António de Spínola se encontrou com o presidente senegalês Léopold Senghor em Cap Skirring e Amílcar Cabral propôs encontrar-se com Spínola em território português, eventualmente em Bissau, mas as autoridades de Lisboa recusaram essas negociações. Pouco tempo depois o líder guineense foi assassinado em Conacri, mas nunca se soube “quem mandou matar Amílcar Cabral”.
O antigo ministro Manuel Pereira Crespo disse em 1977 que Cabral “era um homem de muito valor, sem preconceitos raciais e muito chegado aos portugueses, entre os quais tinha bons amigos” e, em 2018, Adriano Moreira escreveu que “talvez Cabral tenha sido o mais luso-tropicalista dos chefes do movimento revolucionário, com um notável uso da língua portuguesa e uma invocação constante dos valores que são os da Carta da ONU”. Em 2022 foi Marcelo Rebelo de Sousa que, “em nome de Portugal”, o condecorou a título póstumo com o Grande Colar da Ordem da Liberdade.
Eu fui um admirador de Amílcar Cabral, embora como combatente estivesse do outro lado e foi em Bissau que em 1973 soube da sua morte.