quinta-feira, 21 de março de 2013

Há uma ameaça a pairar sobre Chipre

Os graves problemas financeiros do Chipre continuam sem solução e a preocupar a Europa. As necessidades imediatas estão avaliadas em 17 mil milhões de euros e as instituições da troika prometem emprestar 10 mil milhões de euros, se o Chipre conseguir mobilizar recursos próprios da ordem dos 6 mil milhões de euros, de modo a evitar um crescimento exponencial da sua dívida pública. A primeira solução proposta e aceite pela troika foi a aplicação de uma taxa extraordinária sobre os depósitos bancários, o que levou os cipriotas ao desespero e à revolta. Essa intenção constituía também um perigoso precedente para os outros países da Zona Euro e foi reprovada por unanimidade no Parlamento cipriota. Então, o BCE fez um ultimato ao governo cipriota no sentido de encontrar uma outra solução a curtíssimo prazo, que poderá passar pela criação de impostos sobre pensões e imobiliário, pela venda de património e privatizações, por um fundo de solidariedade ou, até, pela emissão de direitos antecipados sobre as importantes reservas de gás natural descobertas nas águas territoriais cipriotas.
Uma sondagem agora divulgada, revela que 91% dos cipriotas apoia a rejeição da taxa extraordinária sobre os depósitos feita pelo Parlamento e 67.3% defendem a saída do euro e o reforço das relações com a Rússia. Dão que pensar estes resultados. No Chipre não há apenas o sufoco financeiro e a quase falência dos dois maiores bancos, mas há a ameaça da saída do euro, o interesse russo pelo gás natural e um panorama geopolítico em mudança, onde a República Turca do Norte de Chipre se quer fazer ouvir. O modelo cipriota ruiu. A feliz ilustração da primeira página do diário alemão Frankfurter Rundschau vale mais do que mil palavras.

Grandes Naufrágios Portugueses

Na história das navegações marítimas não são as rotineiras viagens que ficam registadas nas suas páginas e que despertam a curiosidade de muitas gerações mas, pelo contrário, o que fica registado na memória das pessoas ou no imaginário colectivo das comunidades é o dramatismo dos acidentes marítimos, das peripécias das batalhas navais e dos grandes naufrágios, onde se perdem pessoas e bens.
Por isso, o Comandante Rodrigues Pereira decidiu reunir algumas das mais dolorosas perdas acontecidas à navegação portuguesa ao longo dos séculos, com especial destaque para os relatos da História-Trágico Marítima, mas onde inclui também os desastres marítimos ocorridos mais recentemente, como é o caso do navio-motor Save, da traineira Praia da Atalaia e do pesqueiro Bolama. É um trabalho que faltava e que preenche uma lacuna na historiografia marítima, mas que também abre perspectivas para outras apreciações deste tema.
Na análise que é feita, verifica-se que a generalidade dos naufrágios resultou de falhas humanas, quer no planeamento quer na condução das viagens, mas também de condições meteorológicas severas ou de batalhas navais. Grandes Naufrágios Portugueses (1194-1991) é um livro muito interessante e de boa leitura, com um bem elaborado glossário para ajudar os leitores menos habituados à terminologia náutica. Ao ler as seis dezenas de relatos e o capítulo dedicado aos “cemitérios de navios”, somos levados directamente ao Mar Português, um dos mais citados poemas da Mensagem de Fernando Pessoa:

         Ó mar salgado, quanto do teu sal são lágrimas de Portugal!