A crise boliviana
surgiu na sequência das eleições de 20 de Outubro que deram a vitória a Evo
Morales, mas que a Organização dos Estados Americanos denunciou terem sido
fraudulentas, daí resultando a intervenção dos chefes militares que levou à
renúncia e depois ao exílio de Evo Morales.
A imagem externa
da Bolívia era de um país estável e que tinha em Evo Morales um presidente um
pouco extravagante mas consensual, mas os acontecimentos dos últimos dias
vieram mostrar um país dividido entre aqueles que denunciam a fraude eleitoral e
os que acusam os chefes militares de um golpe de estado. O facto é que há quem
fale em clima de pré-guerra civil e que as duas partes já se enfrentaram de
forma muito violenta, tendo daí resultado algumas vítimas, embora diferentes
sectores da sociedade boliviana, incluindo a Igreja, tenham iniciado campanhas
com “marchas y oraciones” a pedir a pacificação da Bolívia, como hoje salienta El
Diario, el decano de la prensa
boliviana.
Hoje existe uma
grande probabilidade de contágio do descontentamento nos países da América do
Sul, onde existem problemas comuns de insatisfação das populações, de
desigualdade social e de aspirações não satisfeitas e esse risco de contágio
deve ser evitado, em nome da paz naquele continente.
Porém, logo que
Evo Morales renunciou, a senadora Jeanine Añez apareceu a assumir a presidência
e essa sucessão foi tão rápida, mesmo sem o apoio do parlamento boliviano, que
muita gente desconfiou que ali havia algo de estranho. Realmente, há uma grande
semelhança entre o que se passou na Bolívia (afastamento de Evo Morales) com
aquilo que insistentemente se quer fazer na Venezuela (afastamento de Nicolas
Maduro) e com o que já foi feito no Brasil (afastamento de Lula da Silva e de
Dilma Roussef). O mesmo objectivo, embora o modus operandi seja um pouco diferente.