Nas últimas semanas o discurso da propaganda e do triunfalismo
tem-se acentuado na política portuguesa e, por vezes, o nosso primeiro e o
nosso vice-primeiro parecem disputar entre si o principal papel no elenco do
optimismo lusitano, cada qual a tentar passar a ideia que foi mais importante
do que o outro no andamento da nossa vida pública e da nossa economia. É uma
questão entre o Pedro e o Paulo.
O caso do Paulo é, porventura, mais interessante. O Paulo é
um jurista e não tem formação económica, nem estudou Econometria nem Finanças
Públicas, mas teve um entusiasmo tardio pelas questões económicas e aprendeu
que o investimento e as exportações são importantes, mas esqueceu-se que o consumo
ainda é mais importante ou que as pessoas são o objecto da economia. O recente
artigo do Financial Times ajudou-o
com aquela história do “herói-surpresa da Zona Euro” e, com isso, ele foi
buscar um acrescido entusiasmo para destacar o sucesso das exportações portuguesas nos últimos anos e o mérito das
“nossas empresas”. Esta semana veio dizer-nos que "as exportações
estão a ser o porta-aviões da recuperação do país".
- “Bela frase, Paulo”,
terão dito os seus amigos do governo, do parlamento e das
mil e muitas assessorias e tacharias.
O Paulo é o
irrevogável, aquele que me enganou ao definir uma fronteira que não podia
deixar passar... e deixou, ou aquele que não permitiria uma sociedade que
descartasse os mais velhos... e permitiu. Que se esqueceu da reforma do Estado. Andava tão entretido “naquele engano de alma
ledo e cego que a fortuna não deixa durar muito”, como dizia Camões, quando
veio o FMI arrefecer-lhe os ânimos ao dar-lhe um tiro no porta-aviões e
dizer-lhe que o milagre das exportações só
existe na cabeça dele, pois resulta da
nossa dependência face às refinarias da Galp e da anormal quebra das
importações devido à crise doméstica, não sendo um sinal inequívoco de que a
economia está a mudar para melhor em termos estruturais, gerando crescimento e
emprego. Afinal, o Paulo ainda precisa de aprender muita coisa e não alinhar
nesta aldrabice que é vender-nos a ideia de que as exportações tudo resolvem, quando o FMI
vem dizer exactamente o contrário.