quarta-feira, 25 de maio de 2011

Saudades de uma outra Coimbra

No tempo em que os estudantes em Coimbra viviam à sombra da Universidade, um Amigo passou muitas centenas de vezes por esta rua do Norte, íngreme e estreita, sinuosa e empedrada. Dia a dia, por esta rua acima, ele era um dos muitos jovens que acediam ao saber académico e à promoção social que a Universidade conferia aos melhores, num tempo de dureza e de sacrifício, em que não havia os facilitismos nem as mordomias da vida actual.
Coimbra tornava-se a terra de adopção para quem vinha de longe e deixava a casa paterna, para quem contava os tostões e enfrentava o mundo. A cidade a todos abraçava com cordialidade, porque os estudantes eram a sua razão de ser e cada um encontrava o seu espaço afectivo nessa terra estranha, que nascia do convívio e da solidariedade entre a comunidade estudantil.
A irreverência marcava a vida da própria cidade. A tradição impunha-se, a capa negra era um símbolo e o fado um emblema, em que todos se reviam. Era a marca da vida coimbrã e, orgulhosos dela, cantavam:
“Não há terra como a nossa/Não há no mundo outra assim”.
Quando, já doutores, deixavam a cidade, podiam verificar que “Coimbra tem mais encanto na hora da despedida”, porque nela tinham passado os melhores anos da sua juventude, mas levavam consigo as saudades e as memórias de um tempo irrepetível, mas também uma nova vida para viver.

Entretanto, o mundo mudou e Coimbra mudou muito. Hoje a rua do Norte não tem o movimento de outros tempos e está quase deserta. A maioria dos estudantes vive agora em modernos blocos de apartamentos e tem automóvel, veste roupa de marca, usa credit card, tem laptop, iPad e iPhone, beneficia de bolsas de estudo e da acção social escolar. Tem quase tudo porque a vida estudantil se tornou uma confortável indústria, enquanto a cidade e a sua relação com os estudantes já não é o que era.
Neste registo, deixo esta breve homenagem ao meu Amigo AF.

Raízes do 25 de Abril de 1974

Óbidos – Rua Direita
Na principal rua da atraente vila de Óbidos, está colocada uma placa que assinala a realização de uma reunião conspiratória que foi decisiva no processo que conduziu ao 25 de Abril de 1974 e à queda do regime do Estado Novo.
Esse regime, habitualmente conotado com a longa governação de Salazar, foi implantado em 1926 e conservou-se no poder até 1974, isto é, durante quase 48 anos.
Após a 2ª Guerra Mundial e a vitória dos países democráticos, o regime isolou-se progressivamente da comunidade internacional, perseguiu as oposições, rejeitou a democratização, opôs-se à descolonização e decidiu-se por uma guerra colonial que se arrastou por cerca de 13 anos.
Ao longo dos anos sucederam-se algumas tentativas de mudança do regime por via eleitoral e por via armada, mas sempre sem sucesso.
Até que em 1973, a partir de uma contestação corporativa, começou a germinar no seio dos mais jovens oficiais das Forças Armadas a ideia de derrube do regime e, numa reunião plenária e clandestina realizada no Monte Sobral, em Alcáçovas, no dia 9 de Setembro de 1973, nasceu o Movimento dos Capitães, que mais tarde deu origem ao MFA – Movimento das Forças Armadas.
Muito clandestinamente, devido aos olhares e aos ouvidos da polícia política, os contactos e as adesões alargaram-se do Exército à Marinha e à Força Aérea e, numa reunião realizada em 24 de Novembro, foi defendida pela primeira vez, a tese de um golpe militar.
Depois, no dia 1 de Dezembro de 1973, realizou-se uma reunião plenária em Óbidos, onde a tese do golpe militar ganhou apoios e se perspectivou com um carácter revolucionário, para além de ter eleito a primeira Comissão Coordenadora do Movimento dos Capitães, constituída por 19 oficiais, além de terem sido escolhidos os Generais Costa Gomes e António de Spínola para servirem como emblemas de credibilidade para o Movimento.
Menos de 5 meses depois o MFA depôs o regime do Estado Novo, anunciou um programa político e abriu as portas à Democracia. Foi há 37 anos!