O diário Levante
que se publica na cidade espanhola de Valência destaca na sua edição de hoje a
visita ao seu porto do navio-escola Amerigo
Vespucci, que está a efectuar a sua 80ª viagem de instrução de cadetes. O
emblemático navio, que está a celebrar 85 anos de vida, largou do porto de
Livorno e navegou pelo Atlântico e pelo mar do Norte. Agora esta “embaixada
italiana” regressa a casa e, neste fim de semana no porto de Valência, abre as
suas portas aos valencianos que, segundo diz o jornal, irão “al abordaje del
buque escuela de la Marina italiana”.
O Amerigo Vespucci é, provavelmente, um
dos mais belos veleiros do mundo e, habitualmente, participa nos grandes
desfiles navais organizados pela Sail Training Association. O navio possui três
mastros, mede cerca de cem metros de comprimento, desloca 4.700 toneladas e tem
uma superfície vélica de 2.400 metros
quadrados distribuida por 24 velas.
A cidade de
Valência e o seu principal periódico não deixaram de assinalar a presença no
seu porto do Amerigo Vespucci,
certamente porque a identidade e a cultura valencianas são marítimas e mediterrânicas.
Em Lisboa, porém, não seria assim. Apesar de muito ter mudado nos últimos anos, a cidade e os seus
jornalistas continuam de costas voltadas para o Tejo, para o mar e para as
coisas do mar. No país que tantas vezes se reclama de país de marinheiros e que
possui o navio-escola Sagres, que
também é reconhecido como um dos mais belos veleiros do mundo, o interesse da
imprensa pelo nosso património marítimo é mínimo.
Fernando Pessoa
escreveu em 1915 na Ode Marítima que
“um navio será sempre belo, só porque é um navio”, quando ainda não havia a Sagres nem o Amerigo Vespucci. É pena que poucos “gatekeepers” e poucos jornalistas portugueses tenham a opinião de Álvaro de
Campos.