sexta-feira, 24 de julho de 2020

Amália também é recordada no Oriente


A popularidade e o prestígio internacional de Amália Rodrigues (1920-1999) foram um fenómeno singular que aconteceu no Portugal do século XX, que então era um país periférico e sem voz na comunidade internacional, sobretudo porque foram construídos sem o apoio das máquinas promocionais do marketing que actualmente tudo nos impingem, incluindo sabonetes e pastas de dentes, destinos turísticos, formas de vestir e até os políticos em que acabamos por votar. Nos aspectos culturais também tudo se passa da mesma maneira e são as máquinas do marketing artístico e cultural, sempre apoiadas pela crítica que raramente é independente, que acabam por determinar as nossas escolhas estéticas. Isso acontece agora, mas não aconteceu com Amália Rodrigues que tudo conquistou com o seu enorme talento, com a sua inteligência e a sua capacidade para falar e cantar em várias línguas, incluindo o castelhano, o galego, o francês, o italiano e o inglês. O seu contributo para a história do fado – que em 2011 a UNESCO declarou como Património Imaterial da Humanidade – foi incalculável, ao introduzir a lírica de Camões e as cantigas trovadorescas de D. Dinis no seu repertório, mas também ao dar a sua voz à poesia de David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Carlos Ary dos Santos, Alexandre O’Neill ou Manuel Alegre. 
A sua carreira internacional iniciou-se em 1943 no Teatro Real de Madrid, mas a sua voz e a sua presença chegaram a todo o mundo durante mais de cinquenta anos. Ao recordar-se o centenário do seu nascimento, muitas homenagens lhe têm sido prestadas não só em Portugal, mas também nas geografias da diáspora portuguesa, incluindo Macau onde o jornal Ponto Final lhe dedicou toda a primeira página de uma edição, mas também em Goa, onde o fado continua a ser muito apreciado e a voz e o estilo único de Amália são uma referência para muitos jovens cantores goeses e um dos maiores símbolos da herança cultural portuguesa.