A popularidade e
o prestígio internacional de Amália Rodrigues (1920-1999) foram um fenómeno
singular que aconteceu no Portugal do século XX, que então era um país
periférico e sem voz na comunidade internacional, sobretudo porque foram
construídos sem o apoio das máquinas promocionais do marketing que actualmente
tudo nos impingem, incluindo sabonetes e pastas de dentes, destinos turísticos,
formas de vestir e até os políticos em que acabamos por votar. Nos aspectos culturais
também tudo se passa da mesma maneira e são as máquinas do marketing artístico
e cultural, sempre apoiadas pela crítica que raramente é independente, que
acabam por determinar as nossas escolhas estéticas. Isso acontece agora, mas
não aconteceu com Amália Rodrigues que tudo conquistou com o seu enorme
talento, com a sua inteligência e a sua capacidade para falar e cantar em
várias línguas, incluindo o castelhano, o galego, o francês, o italiano e o
inglês. O seu contributo para a história do fado – que em 2011 a UNESCO declarou como Património Imaterial da Humanidade – foi incalculável, ao introduzir a lírica de Camões e as cantigas trovadorescas de D. Dinis no seu repertório, mas também ao dar a sua voz à poesia de David Mourão-Ferreira, Pedro Homem de Mello, José Carlos Ary dos Santos, Alexandre O’Neill ou Manuel Alegre.
A
sua carreira internacional iniciou-se em 1943 no Teatro Real de Madrid, mas a
sua voz e a sua presença chegaram a todo o mundo durante mais de cinquenta
anos. Ao recordar-se o centenário do seu nascimento, muitas homenagens lhe têm
sido prestadas não só em Portugal, mas também nas geografias da diáspora
portuguesa, incluindo Macau onde o jornal Ponto Final lhe dedicou toda a primeira página de uma edição, mas
também em Goa, onde o fado continua a ser muito apreciado e a voz e o estilo
único de Amália são uma referência para muitos jovens cantores goeses e um dos
maiores símbolos da herança cultural portuguesa.