Os portugueses
tomaram Goa aos muçulmanos do sultanato de Bijapur em 1510 e durante 451
anos ocuparam aquele território de cerca de 3.700 km2. A ocupação
levou a um processo de aculturação que deu origem a uma cultura específica – a
cultura indo-portuguesa – com evidências na língua, no modo de vida, nas artes,
na religião, na gastronomia e em outros aspectos da vida social goesa.
Goa era a “joia da
coroa” do império português e o berço de gente muito ilustre.
Em 1947 a Índia
tornou-se independente do Reino Unido e logo reivindicou o regresso de Goa à mother India, mas o governo português
foi intransigente e, em 1961, as tropas, os navios e os aviões indianos
invadiram e ocuparam aquele território, assim como Damão e Diu, que
conjuntamente constituíam o Estado Português da Índia. O trauma foi enorme,
tanto em Portugal como em Goa, onde uma parte dos goeses se considerou
“libertada” e outra parte se afirmou “invadida”. Sessenta anos depois, a
controvérsia entre libertação e invasão ainda continua, embora menos
intensa do que antes. Contudo, permanecem em Goa muitos traços culturais e
emocionais de cariz português e os indianos consideram Goa a “Europa da Índia”.
Nesse país que é o
segundo mais populoso do mundo, o cricket
é o desporto-rei, mas no estado de Goa – um dos 28 estados da Índia – o desporto-rei
é o futebol, o que é uma das mais relevantes heranças culturais portuguesas. Foi
aí que, na área de Calangute e por iniciativa oficial, foi agora erguida uma
estátua de Cristiano Ronaldo para servir de incentivo e inspiração aos jovens futebolistas
goeses. Numa terra onde depois de 1961 foram derrubadas as estátuas de Camões e
de Afonso de Albuquerque, esta iniciativa de erguer uma estátua a um jogador de
futebol português não caiu bem em alguns sectores da sociedade goesa que a
consideraram um insulto ou um sacrilégio, enquanto outros sectores consideraram
que a estátua de uma figura prestigiosa como Cristiano Ronaldo é mesmo um
incentivo aos jovens e um sinal de reconciliação entre o colonizador e o
colonizado.
A iniciativa é realmente controversa embora tenha o meu aplauso.
Porém, fico na expectativa quanto ao que irão fazer os fossilizados freedom fighters goeses, useiros e vezeiros em atentar contra tudo o que é português.