La Voz de Galicia, 28 de Outubro de 2014 |
Há cerca de duas
semanas a imprensa espanhola noticiou a detenção de algumas dezenas de pessoas
por envolvimento em esquemas de corrupção, nomeadamente alguns altos dirigentes
partidários e alguns autarcas (La Voz de
Galicia, 28 de Outubro). Naturalmente, pensei que esse fenómeno universal
da corrupção, que estava a ser combatido em Espanha com tanta severidade e rigor,
não acontecia em Portugal ou era coisa de importância marginal. No meio de
tantas coisas desagradáveis que nos vão acontecendo, sobretudo na banca, fiquei
aliviado por não haver aqui casos suspeitos de corrupção.
Ontem, porém, a
notícia caiu como uma bomba e a imprensa de hoje confirmou que parece haver
corrupção em Portugal, o que aliás nem se notava, pois não há sinais exteriores
de riqueza, nem favorecimento de amigos, nem evidência de promiscuidades entre
política e negócios. Portanto, a leitura da imprensa de hoje foi um choque! O Jornal de Notícias titulava que “vistos
dourados corrompem altas chefias do Estado, o Correio da Manha anunciava que “Luvas de milhões no topo do Estado”
e o Público destacava “Duzentos
polícias detêm altos quadros do Estado ligados aos vistos gold”. Afinal, parece que o assunto é sério e que está relacionado
com os vistos gold, os tais a que
alguns chamam investimento, mas que não passam de uma opção governamental para
vender vistos a quem aparecer,
independentemente da origem e da cor do seu dinheiro ou do seu currículo criminal. Ora isso é lamentável porque fere a dignidade do Estado, mas também
porque abre a porta a alguns funcionários espertalhões, gananciosos e
deslumbrados para quem o dinheiro é tudo e se deixam cair nessa maldita armadilha.
Perante esta grave situação, o pai deste invento que noutras ocasiões disse que
“as exportações estão a ser o porta-aviões da recuperação económica” e que o
turismo é “a galinha dos ovos de ouro”, que irá dizer agora? Que errou na sua
estratégia? ou simplesmente que “a ocasião faz o ladrão?”