quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Açores: as eleições e as promessas

A difícil situação que atravessamos tem evidenciado uma grave irresponsabilidade de gestão em muitos sectores do Estado que, muitas vezes, tem servido objectivamente para assegurar a manutenção do poder ou para satisfazer interesses particulares em desfavor do interesse público. Esta situação tem sido denunciada como ausência de ética de serviço público, corrupção, promiscuidade entre interesses públicos e privados, peculato, violação de normas de execução orçamental, vantagem patrimonial, etc. Essa anomalia acontece com elevada impunidade a nível nacional, regional e local, tendo conduzido a uma distorção entre aquilo que os políticos prometem e aquilo que fazem, depois de serem eleitos. Foi sempre assim, mas parece que nos últimos anos essa distorção se acentuou, apesar dos eleitores estarem cada vez mais esclarecidos e mais atentos. Daí tem resultado uma maior desconfiança do povo em relação aos políticos e às suas promessas e, por isso, são cada vez mais classificados como mentirosos. Nos últimos meses o discurso político deteriorou-se, agravou-se e tornou-se mais caricato, porque se desmente agora, aquilo que tinha sido prometido há poucas semanas.
Na Região Autónoma dos Açores vão ser realizadas, no próximo dia 14 de Outubro, as eleições para a Assembleia Legislativa. A pré-campanha eleitoral já começou e, na difícil situação que atravessamos, esperava-se mais esclarecimento e grande contenção nas promessas. Porém, de entre os cartazes já afixados, destaca-se a habitual promessa de mais empregos e esta novidade: viagens mais baratas.
Ainda haverá alguém que em 2012 dê crédito a este tipo de promessas?

A Catalunha e a "quimera soberanista"

O separatismo catalão tem raízes históricas seculares e, de vez em quando, acorda e manifesta-se, como acontece agora em clima de recessão económica, quando o governo catalão se viu na necessidade de pedir ajuda ao governo espanhol para pagar aos funcionários públicos, aos fornecedores e o serviço da sua dívida de 42 mil milhões de euros. Na sua ânsia autonomista a Catalunha deslumbrou-se, foi longe demais e criou um super-Estado que acumulou dívidas e elevados custos de gestão mas, apesar de limitado pelas restrições do défice e da dívida, o governo de Madrid afirmou estar pronto a prestar essa ajuda. Porém, o governo catalão afirmou não aceitar quaisquer condições políticas e exigiu um pacto fiscal que nacionalize as receitas fiscais catalãs, o que objectivamente corresponde à rejeição da solidariedade com as outras regiões espanholas. A manifestação de 11 de Setembro, inicialmente de luta contra a crise, transformou-se num ajuste de contas com o governo central e num veemente apelo à independência catalã. Perante os factos ocorridos, o Rei João Carlos emitiu uma mensagem pacificadora dirigida aos partidos políticos e aos separatistas, mas a escalada prossegue. O governo de Mariano Rajoy afirma que reagirá com firmeza às intenções catalãs e recusa negociar qualquer pacto fiscal, enquanto os separatistas catalães invocam que dão a Madrid mais do que recebem. Ontem Artur Mas, o presidente do governo autónomo da Catalunha, deu mais um passo em frente ao decidir a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições para o dia 25 de Novembro. O jornal ABC afirma que Mas “avança com eleições para alimentar a sua quimera soberanista” e cita o Rei que já afirmou que “seria cegueira não ver a gravidade desta etapa histórica”. Mais do que em Mariano Rajoy, as atenções vão estar centradas em Artur Mas e no Rei João Carlos. Os espanhóis receiam cada vez mais o fantasma da fragmentação do país e, aqui tão perto, não podemos estar desatentos ou não aprender com a evolução que está a acontecer.